AUDIÊNCIA DE MEDIAÇÃO ENTRE FAMÍLIAS DE VÍTIMAS DE INCÊNDIO E FLAMENGO NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Parentes dos jogadores vítimas de incêndio no Ninho do Urubu (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

A Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu (Afavinu) divulgou uma carta repudiando a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que absolveu em primeira instância todos os réus no processo criminal envolvendo a tragédia que tirou a vida de 10 jogadores das categorias de base do Flamengo em fevereiro de 2019.

O grupo afirma se tratar de “uma grave afronta à memória das vítimas e ao sentimento de toda a sociedade.”

A sentença foi publicada na noite de terça-feira (21) na 36ª Vara Criminal da Comarca da Capital, assinada pelo juiz Tiago Fernandes de Barros. A decisão é em primeira instância e cabe recurso.

A Afavinu relembra, na nota, as irregularidades encontradas no Ninho do Urubu na época do incêndio. E afirma que seguirá em busca de justiça e espera que a decisão seja revista nos órgãos de recurso.

“Relembremos que os jovens falecidos — adolescentes em formação, atletas da base — dormiam em contêineres improvisados, sem alvará adequado, com indícios de falha elétrica, grades de janelas que dificultavam a saída, entre outras condições de insegurança. A absolvição dos acusados, sob o argumento de que não se conseguiu individualizar condutas técnicas ou provar nexo causal penalmente relevante, renova em nós o sentimento de impunidade e fragiliza o mecanismo de proteção à vida e à segurança dos menores em entidades esportivas, formativas ou assistenciais no País”, diz trecho da carta.

O grupo diz ainda que vai continuar exigindo dos órgãos de fiscalização e do poder público em geral a implementação de medidas para tornar obrigatórias auditorias frequentes e manutenção preventiva em alojamentos de atletas em todos os clubes do País.

“A vida dos nossos filhos tem um valor irreparável e em memória aos 10 garotos inocentes lutaremos, até o fim, por uma Justiça efetiva e capaz de inibir novos delitos com sentenças que protegem as vítimas e não os algozes (…) Que o amor pelo esporte, que move milhões de corações, seja também amor pela segurança, pela ética e pela memória daqueles dez meninos que sonhavam em vestir, com orgulho, a camisa rubro-negra ou de outros mantos sagrados. O verdadeiro espírito esportivo exige empatia, responsabilidade e humanidade. Honrar esses valores é proteger as futuras gerações de atletas e garantir que o futebol continue sendo motivo de alegria – nunca de luto”.

Nota da Afavinu

Incêndio matou 10 jogadores em 2019

O incêndio no Ninho do Urubu aconteceu na madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019matou 10 jogadores e feriu outros três, entre eles, o capixaba Jhonata Ventura.

Memorial às vítimas do incêndio no Ninho do Urubu.
(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O fogo, que teria começado em um curto-circuito, atingiu o alojamento em que vivem os atletas da base do clube. No momento em que as chamas começaram, os garotos dormiam. No momento do incêndio, 26 atletas, entre 14 a 17 anos, dormiam no alojamento.

Na época do incêndio, o Ninho do Urubu não tinha alvará de funcionamento, de acordo com a Prefeitura do Rio.

Quem foram as vítimas do incêncio no Ninho do Urubu:

  • Christian Esmério
  • Bernardo Pisetta
  • Arthur Vicente
  • Athila Paixão
  • Rykelmo Vianna
  • Jorge Eduardo Santos
  • Pablo Henrique da Silva Matos
  • Samuel Thomas Rosa
  • Vítor Isaías
  • Gedson Santos

Flamengo responde a processo movido por ex-segurança

Em julho, o Flamengo foi condenado em primeira instância pela Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro a indenizar Benedito Ferreira, ex-segurança do clube que atuou no resgate das vítimas.

Segundo a decisão, o clube foi sentenciado a pagar R$ 100 mil por danos morais e R$ 500 mil por danos materiais, totalizando R$ 600 mil.

O juiz também determinou o pagamento de pensão em forma vitalícia, limitada até os 78 anos de Benedito. O funcionário decidiu levar o caso à Justiça após desenvolver doença psiquiátrica grave e incapacitante.