
A Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu (Afavinu) divulgou uma carta repudiando a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que absolveu em primeira instância todos os réus no processo criminal envolvendo a tragédia que tirou a vida de 10 jogadores das categorias de base do Flamengo em fevereiro de 2019.
O grupo afirma se tratar de “uma grave afronta à memória das vítimas e ao sentimento de toda a sociedade.”
A sentença foi publicada na noite de terça-feira (21) na 36ª Vara Criminal da Comarca da Capital, assinada pelo juiz Tiago Fernandes de Barros. A decisão é em primeira instância e cabe recurso.
A Afavinu relembra, na nota, as irregularidades encontradas no Ninho do Urubu na época do incêndio. E afirma que seguirá em busca de justiça e espera que a decisão seja revista nos órgãos de recurso.
“Relembremos que os jovens falecidos — adolescentes em formação, atletas da base — dormiam em contêineres improvisados, sem alvará adequado, com indícios de falha elétrica, grades de janelas que dificultavam a saída, entre outras condições de insegurança. A absolvição dos acusados, sob o argumento de que não se conseguiu individualizar condutas técnicas ou provar nexo causal penalmente relevante, renova em nós o sentimento de impunidade e fragiliza o mecanismo de proteção à vida e à segurança dos menores em entidades esportivas, formativas ou assistenciais no País”, diz trecho da carta.
O grupo diz ainda que vai continuar exigindo dos órgãos de fiscalização e do poder público em geral a implementação de medidas para tornar obrigatórias auditorias frequentes e manutenção preventiva em alojamentos de atletas em todos os clubes do País.
“A vida dos nossos filhos tem um valor irreparável e em memória aos 10 garotos inocentes lutaremos, até o fim, por uma Justiça efetiva e capaz de inibir novos delitos com sentenças que protegem as vítimas e não os algozes (…) Que o amor pelo esporte, que move milhões de corações, seja também amor pela segurança, pela ética e pela memória daqueles dez meninos que sonhavam em vestir, com orgulho, a camisa rubro-negra ou de outros mantos sagrados. O verdadeiro espírito esportivo exige empatia, responsabilidade e humanidade. Honrar esses valores é proteger as futuras gerações de atletas e garantir que o futebol continue sendo motivo de alegria – nunca de luto”.
Nota da Afavinu
Incêndio matou 10 jogadores em 2019
O incêndio no Ninho do Urubu aconteceu na madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019, matou 10 jogadores e feriu outros três, entre eles, o capixaba Jhonata Ventura.
O fogo, que teria começado em um curto-circuito, atingiu o alojamento em que vivem os atletas da base do clube. No momento em que as chamas começaram, os garotos dormiam. No momento do incêndio, 26 atletas, entre 14 a 17 anos, dormiam no alojamento.
Na época do incêndio, o Ninho do Urubu não tinha alvará de funcionamento, de acordo com a Prefeitura do Rio.
Quem foram as vítimas do incêncio no Ninho do Urubu:
- Christian Esmério
- Bernardo Pisetta
- Arthur Vicente
- Athila Paixão
- Rykelmo Vianna
- Jorge Eduardo Santos
- Pablo Henrique da Silva Matos
- Samuel Thomas Rosa
- Vítor Isaías
- Gedson Santos
Flamengo responde a processo movido por ex-segurança
Em julho, o Flamengo foi condenado em primeira instância pela Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro a indenizar Benedito Ferreira, ex-segurança do clube que atuou no resgate das vítimas.
Segundo a decisão, o clube foi sentenciado a pagar R$ 100 mil por danos morais e R$ 500 mil por danos materiais, totalizando R$ 600 mil.
O juiz também determinou o pagamento de pensão em forma vitalícia, limitada até os 78 anos de Benedito. O funcionário decidiu levar o caso à Justiça após desenvolver doença psiquiátrica grave e incapacitante.