6 X 0

Lágrimas de Neymar foram de vergonha, após Vasco golear Santos

Jamais, por time algum, Neymar havia perdido por 6 a 0. O capitão do Santos não suportou a vergonha, as vaias, a torcida santista de costas

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neymar chora após goleada
Foto: Marcello Zambrana/ Estadão Conteúdo

Por Cosme Rímoli, do parceiro portal R7.

  • “Decepcionado total com o nosso jogo. A torcida está no direito de fazer todos os tipos de protestos, obviamente sem as vias de fato. Mas xingar e ofender hoje está no direito.”
  • “Sentimento de muita vergonha, nunca tinha passado por isso na minha vida. O choro é de raiva, de tudo.”
  • “Infelizmente, não consigo ajudar de todas as formas.”
  • “Hoje foi uma merda, essa é a realidade.” “Resumindo tudo: foi uma… É uma vergonha fazer esse tipo de jogo com a camisa do Santos. Todo mundo tem que botar sua cabeça no travesseiro, ir para casa e pensar no que quer fazer. Com a atitude de hoje, se tiver que fazer o que fizemos em campo não precisa nem reapresentar na quarta-feira.”
  • “Se for para jogar assim, melhor nem vestir a camisa do Santos.”

Essas foram as palavras de Neymar, no vestiário, mais calmo, depois da maior humilhação de sua carreira. Como capitão do Santos, ele agora vive o medo de ter de enfrentar outra situação inédita: a do rebaixamento.

O que aconteceu no Morumbi foi histórico. Nos 20 minutos finais, as torcidas organizadas santistas de costas para o campo, em protesto. Mal pisou no vestiário, Cleber Xavier foi demitido.

Existem três focos do clube. O primeiro, óbvio, Jorge Sampaoli, o preferido. O segundo, Juan Pablo Vojvoda. O terceiro, Tite, que pode voltar a trabalhar. Um indício foi a manutenção de seu filho Matheus. E do preparador físico Fábio Mahseredjian.

A atitude de Marcelo Teixeira era obrigatória em relação a Cleber Xavier, que inventou como treinador. Depois da humilhação que o clube passou no Morumbi. Com o time escancarado, sem marcação, perdido, sem rumo.

O Santos passou por uma das maiores vergonhas da sua história. 6 a 0 para o limitado Vasco da Gama, de Fernando Diniz, clube que luta para escapar do rebaixamento. O dirigente havia conseguido transferir a partida da Vila Belmiro para o estádio do São Paulo para seduzir os torcedores da Capital paulista. Queria dinheiro. Cansou dos dez mil torcedores do ultrapassado estádio no litoral paulista.

Conseguiu. Levou 54 mil santistas ao Morumbi. Só que com as arquibancadas cheias, o drama ficou muito maior. E o foco de todos, torcedores santistas e os poucos vascaínos, câmeras, jornalistas, narradores era um só: Neymar.

Ele foi o capitão do Santos na maior goleada que o time tomou na história do Brasileiro. O próprio jogador de 33 anos e meio jamais havia disputado uma partida profissional, na qual seu time tivesse sido massacrado, como o Santos foi.

6 a 0 é um placar pesado demais. Nem no próprio Santos, no Barcelona, no PSG, no Al-Hilal. Muito menos na Seleção Brasileira. Nunca.

Jamais teve companheiros tão fracos tecnicamente e um técnico iniciante aos 61 anos. A ideia mirabolante do presidente Marcelo Teixeira, que apostou que, por ter sido auxiliar 21 anos de Tite, Cleber tinha sugado todos os conhecimentos do ex-técnico da Seleção.

A cada gol do Vasco, de Lucas Piton, de David, dois de Philippe Coutinho, de Ryan, de Tchê Tchê, o foco de todos era o rosto de Neymar. E, vivido, ele sabia disso. E foi digno. Se controlou. Ele sabia muito bem que não adiantava xingar, apontar, queimar qualquer um de seus companheiros.

Com o Santos devendo mais de R$ 1 bilhão, serão esses jogadores seus parceiros até o final do Brasileiro, cujo objetivo é o menor da sua vitoriosa carreira: fazer o Santos não ser rebaixado de novo.

E assombrado, Neymar parecia ter acordado, despertado para o seu projeto sonhado, que fracassou. O abraço e o consolo de Fernando Diniz, técnico do time que massacrou o Santos, o despertaram para a dor.

Encarou a frustração. Sua volta foi anunciada com reverência na Vila Belmiro que não foi dada sequer a Pelé, o maior de todos os tempos.

Teixeira apostava que ele atrairia investidores desesperados para juntar sua imagem ao midiático jogador. E também apostava que atletas fariam fila, reduzindo seus salários, apenas para ter o prazer de falar aos netos que atuou com Neymar.

Teixeira comprometeu R$ 9 milhões mensais com o veterano camisa 10, que voltou ao clube para ganhar ritmo e se recuperar fisicamente para a Copa de 2026.

Partida entre SANTOS X VASCO, valida pela 20ª rodada do Campeonato Brasileiro, realizado no estadio do MorumBis, em São Paulo, na tarde deste domingo, 17.
Partida entre Santos X Vasco, Campeonato Brasileiro. Foto: Gabriela Alvim/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Equipe alguma no mundo teria tanta paciência com Neymar. E nem pagaria R$ 105 milhões para se recuperar fisicamente na temporada 2025. Ele é um atleta de 42 lesões musculares. E sem o comprometimento na carreira do talento que nasceu.

E veio o choque de realidade. Teixeira desprezou a rejeição que o mercado publicitário de peso tem de Neymar. Há muito tempo não é o jogador da Seleção mais procurado para publicidade.

Os fracassos do Brasil nas Copas ficaram nas suas costas. O desprezo dos gigantes da Europa e até do Al-Hilal foi percebido. E atletas de primeiro nível não quiseram reduzir seus ganhos mensais só para trocar passes com Neymar. Sem dinheiro, herança maldita de administrações terrivelmente incompetentes, para se dizer o mínimo, Teixeira montou uma equipe de Série B, com uma estrela midiática, para tentar sobreviver na Série A.

Com o clube aceitando todos os caprichos de Neymar. Quer jogar sete partidas seguidas, depois de um ano e um mês parado por conta de uma gravíssima operação de ligamentos cruzados do joelho esquerdo? Jogue. E fique fora da semifinal do Paulista.

Mesmo mal fisicamente, deseja enfrentar o CRB, em jogo eliminatório da Copa do Brasil, em Alagoas? E com o time dependendo dele? Lógico. A eliminação foi de menos. O bom foi que Neymar aguentou correr.

Teixeira agradeceu aos céus que, na janela do meio do ano, nenhum clube importante do mundo tentou contratar o camisa 10 santista. Só no Brasil existe essa febre em relação à Neymar. O mundo sabe que seu auge passou há pelo menos cinco anos.

Por isso, os gigantes da Europa mantiveram as portas fechadas para ele. Assim como os bilionários clubes da Arábia Saudita, do Catar, dos Emirados Árabes. Até mesmo o Inter Miami, de Messi, não arriscou.

E só por isso, Neymar viveu este 17 de agosto de 2025. Cleber Xavier teve a péssima ideia de colocar seu time com seu camisa 10 e Tiquinho na frente, parados, sem marcar ninguém. E Guilherme, perseguido pela torcida, atormentado em campo. Correndo sem confiança.

Apostou no veterano Mayke e no angustiado Souza, que vinha jogando cada vez mais inseguro. Na frente da zaga nenhum volante de marcação. Zé Raphael e Gabriel Bontempo pareciam postes diante do toque de bola vascaíno.

Philippe Coutinho teve toda a liberdade de um casamento aberto. Fez o que quis. Tabelou, lançou, driblou, deu arrancadas. Parecia proibido fazer falta ou pelo menos marcá-lo com mais vigor.

O pior é que Coutinho já fez essa festa no primeiro tempo. E Cleber Xavier seguiu passivo no segundo tempo. No intervalo, Diniz já havia agrupado o ataque e o meio-campo vascaíno para aproveitarem a festa proporcionada pelo Santos.

E veio o massacre histórico. Em mais um ano vergonhoso e de enorme prejuízo, em todos os sentidos, financeiro, esportivo e na imagem do Santos, Neymar conseguiu o que queria.

Está recuperado fisicamente e fará parte, de novo, da Seleção Brasileira. Agora tem a obrigação de ‘dar a vida’, ser o mais participativo e profissional possível com o clube que o lançou para o mundo.

Restam 19 partidas. E seu talento e liderança são fundamentais para o futuro do Santos. Resumir que o time que veste a gloriosa camisa do Santos jogou uma m… Não precisa.

Todos que acompanham futebol sabem, viram.

Lastimaram.

Cabe a ele ser o capitão da reviravolta.

E salvar o Santos de novo mergulho na Segunda Divisão.

Suas lágrimas correram o mundo.

A imagem pessoal se salvou deste vexame inesquecível.

6 a 0 no Morumbi.

Mas passou da hora de pensar apenas em si.

E, se não conseguiu dar uma Copa para a Seleção Brasileira, que salve o Santos Futebol Clube da Série B.

Enxugue as lágrimas e seja o grande defensor do rebaixamento.

É o que se espera ao menos deste bilionário Neymar.

Chorar de vergonha, para quem se acha o melhor do mundo diante do espelho, é fácil.

Escrever mensagens de autoajuda para ganhar likes de adolescentes, idem.

Duro será reagir, de verdade.

Sem fantasia de Batman.

E justifique vestir a camisa 10 que um dia foi de Pelé…

Redação Folha Vitória

Equipe de Jornalismo

Redação Folha Vitória é a assinatura coletiva que representa a equipe de jornalistas, editores e profissionais responsáveis pela produção diária de conteúdo do Folha Vitória. Comprometida com a excelência jornalística, a equipe atua de forma integrada para garantir informações precisas, atualizadas e relevantes, sempre alinhada à missão de informar com ética, democratizar o acesso à informação e fortalecer o diálogo com a comunidade capixaba. O trabalho do grupo reflete o padrão de qualidade da Rede Vitória de Comunicação, consolidando o veículo como referência em jornalismo digital no Espírito Santo.

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