
Em uma sociedade marcada por pressão estética, machismo e problemas sociais, as mulheres ficam de escanteio em situações diárias, o que acaba prejudicando sua saúde mental e autoestima. No esporte, isso não é diferente.
Mulheres são constantemente julgadas e têm dificuldades em ocupar espaços historicamente preenchidos por homens. Por isso, o Instituto Meninas do ES (MDE) tenta criar um ambiente seguro e inclusivo, onde meninas e mulheres podem sonhar, jogar e se desenvolver.
O instituto surgiu da iniciativa de Sidnei Freitas, que ao acompanhar a filha em um projeto social de futebol feminino percebeu de perto as dificuldades enfrentadas pelas meninas e decidiu criar o projeto, que atualmente faz muita diferença na vida das participantes.
Para além do futebol, o MDE também cuida da saúde mental e da autoestima feminina, com atendimentos de uma psicanalista, que atende as jovens e as motiva emocionalmente. A psicanalista Silvania Câmera é quem realiza as sessões.
Ela contou que foi procurada por Sidnei para dar uma palestra motivacional. Ao realizar uma dinâmica, foi percebido como havia a necessidade de trabalhar o emocional de cada atleta separadamente.
Gilmara Eduarda Carvalho, ou Guga, 36 anos, é uma das atletas que participou dos atendimentos e da palestra. Ela pratica futebol desde os seus 15 anos, sempre participando de competições estaduais. Ela também já jogou em alguns clubes do Estado, como o Prosperidade FC e o Vila Velhense FC.
Segundo Guga, as sessões com psicanalista foram uma das melhores experiências que ela já teve.
Hoje, o psicológico mexe muito com seu estado físico, e ter esses momentos com a psicanalista é fundamental para cada menina, pois podemos conhecer melhor o nosso eu e a cada uma que está conosco. Isso deixa o ambiente e a mente mais leve.
Gilmara Eduarda Carvalho (Guga).

Mentalidade e esporte
O processo de terapia começou no final de um campeonato que teve participação do instituto. No momento, as sessões de psicanálise passam por uma reestruturação, porém em 2026, Silvania afirma que já existe um planejamento para terapias em grupo, psicoterapias com dinâmicas e atendimento individual.
“Vejo as atletas como pacientes normais, que precisam tratar seus traumas, neuroses, fobias. Quando trazemos o bem-estar ajudando a resolverem seus problemas diários, a vida fica mais leve e elas conseguem um bom desempenho em campo”, destacou.
A psicanalista também afirma que cada mulher traz uma questão diferente nas sessões, que normalmente tem relação com o contexto familiar na qual estão inseridas. No entanto, ela conta que os principais problemas percebidos são: baixa autoestima e falta de aceitação.
Cada paciente é uma caixinha de surpresa, as emoções dependem do contexto em que vivem.
Silvania Câmera.
Sidnei deixa claro que a intenção é ampliar a rede de profissionais para apoio psicológico, orientação e desenvolvimento pessoal. Segundo ele, o esporte juntamente com o atendimento psicológico já trouxe resultados significativos.
“Percebemos diferenças na elevação de autoestima, melhora no trabalho em equipe, adoção de hábitos de vida mais saudáveis, redução de situações relacionadas à obesidade e ao alcoolismo.”
Guga concorda com a afirmação de Sidnei, explicando que se sente muito melhor desde que começou a participar do instituto.
“Muita coisa mudou: saúde, bem estar e disposição. Me sinto muito bem no projeto. É um ambiente de muito respeito e disciplina.”
MDE e futuro
O instituto, que tem foco no esporte e na vida social de meninas e mulheres, atende pessoas que estão em vulnerabilidade social, muitas delas dividem o tempo entre estudo e trabalho.
Segundo o criador do instituto, cerca de 30% sonham em seguir carreira no futebol, enquanto 70% buscam no esporte uma forma de se manterem ativas, saudáveis e conectadas.
Mas além de criar futuras atletas profissionais, o esporte gera pertencimento, autoestima e empoderamento. Daí a importância dos atendimentos psiquiátricos alinhados com o esporte.

Projeto conta com apoio do Instituto Americo Buaiz
A história de esporte, empoderamento e saúde mental que o Instituto Meninas do ES (MDE) trilha conta com o apoio do Instituto Americo Buaiz (IAB) para fortalecer o projeto.
A parceria entre as duas instituições reforça o compromisso mútuo com a inclusão e a promoção de iniciativas que garantam mais oportunidades e qualidade de vida para meninas e mulheres no Espírito Santo.
Atualmente, o MDE possui projetos aprovados pela Lei de Incentivo Federal ao Esporte, assim empresas de Lucro Real podem fazer aportes com dedução de até 2% no imposto devido.
Além disso, Sidnei afirma que pessoas físicas também podem contribuir, destinando até 6% do seu Imposto de Renda ou, podem ajudar de forma direta, com doações via Pix.
*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos