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Ir ao Estádio Olímpico de transporte público é uma experiência que vale a pena

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Rio

Demorou 58 minutos para sair da estação Siqueira Campos, a mais central do bairro de Copacabana, até chegar à Estação Olímpica Engenho de Dentro, que fica a poucos passos do Engenhão, o estádio que nesta quarta-feira abriu os Jogos do Rio-2016 com duas partidas de futebol feminino e que também será o palco atletismo. Ao menos nesse trajeto, o pedido da Prefeitura do Rio para que se use o transporte público na Olimpíada fez todo o sentido.

Mas sair de um dos bairros mais icônicos da cidade para viver essa experiência olímpica também revela alguns contrastes. Um que salta aos olhos são os soldados do Exército nas ruas empunhando fuzis. Havia três deles na esquina da Rua Santa Clara com a Nossa Senhora de Copacabana, a principal do bairro.

A gente se acostumou (infelizmente) a ver essa cena em zonas de guerra. E a Olimpíada se propõe a ser justamente o oposto, uma confraternização entre os povos, que fica bem nítida para quem passa pela Vila dos Atletas, na zona oeste, e vê os edifícios decorados de cima a baixo com bandeiras de dezenas dos 207 países lá representados.

A primeira parte do trajeto é feita de metrô, até a estação Central do Brasil – aquela mesma do filme. Nessa viagem, uma agradável surpresa: nas estações que levam a instalações olímpicas, a gravação no sistema de som do metrô foi feita por ex-atletas olímpicos do Brasil. “Olá, eu sou Sebastian Cuattrin, canoísta olímpico. A próxima estação é a Cardeal Arcoverde, acesso à Arena Olímpica de Vôlei de Praia”. Isso se repete na voz de diferentes ex-atletas no Catete (acesso à Marina da Glória), na Carioca (acesso ao Boulevard Olímpico) e na Central, onde a gente fiz a baldeação.

Um parêntese: a gravação do áudio em inglês é feita pela locutora “oficial” da empresa que gerencia o metrô. Ainda não se sabe o nome dela, poxa vida.

Nesse percurso, a viagem foi animada por uma moça cantando em espanhol, inglês e português. Ela estava de posse de um violão, de uma voz suave e de um chapéu para receber o couvert artístico eventual. “Gracias pela vida”, cantou ela, em determinado momento.

Na Central do Brasil, senti falta de alguém para passar informações assim que cheguei à plataforma. Um balcão com informações só é visto na área principal da estação. Um casal sueco, que ia ao Engenhão para a partida de abertura, entre Suécia e África do Sul, pelo torneio feminino de futebol, informava-se por lá. O atendente explicou em inglês direitinho. Na sequência, pareceu contrafeito em repetir a explicação a outro casal estrangeiro. Limitou-se a dizer que deveriam seguir os suecos.

Aí eu peguei o trem, última parte do trajeto até o Estádio Olímpico.

Esse trecho é uma experiência menos olímpica e mais antropológica, para repetir um termo usado por uma amiga que usou esse sistema de transporte pela primeira vez há algumas semanas. O trajeto foi percorrido em cerca de 15 minutos, mas dentro do vagão em que eu estava não havia ninguém da organização dos Jogos ou da Prefeitura do Rio que pudesse informar qual seria a próxima estação. Também não havia um sistema de som para isso, seja na voz de ex-atletas olímpicos, seja na voz da moça aquela que não sabemos o nome.

O que teve em abundância foram vendedores ambulantes. “Barrinha de cereal de maçã e banana em promoção, quatro por dois reais”, entrou um. Um outro vendia pulseiras e chegou anunciando que “tá mais barato que levar a criança no McDonalds”. Um terceiro vendia jornais. Um quarto vendia a “Palavra do Senhor”. Ninguém comprou nada.

Soube em qual estação eu deveria descer graças a um senhor de uns cinquenta anos que me orientou. Ele me disse que faz o trajeto diariamente, mas alertou que “agora mudou um pouco por causa da Olimpíada, né?”. A informação, contudo, estava correta. Assim que deixei a plataforma, um grupo de seis pessoas tocava tambores e tamborins.

Não tive mais dúvida. O futebol era ali mesmo.