Você já pensou que um templo poderia virar um cenário de luta? Pois é isso que acontece na Igreja Peniel de Bela Aurora, em Cariacica. A iniciativa do multicampeão de jiu-jítsu, Naldimar Rangel, e do pastor, Marcelo de Carvalho, inspira crianças e transforma vidas através do esporte.
“Naldinho”, como é chamado, dá aulas de jiu-jítsu para crianças e adultos dentro da igreja. Com carreira extensa na modalidade e uma coleção de conquistas, ele compartilha sua experiência com os mais novos, muitos deles em situação de vulnerabilidade.
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As aulas na igreja são gratuitas e mantidas com auxílio de doações e apoio de moradores da região.
A iniciativa, que já existe há 10 anos, inspira crianças e jovens da região. Marcelo, que é um dos pastores da congregação, começou como aluno desde a faixa branca e hoje é faixa preta e um dos professores do projeto.
O projeto nasceu no meu coração e no coração de um amigo, Joanésio Francisco Porto. A gente sempre buscou fazer algo para a obra. Nós entendemos que a igreja tem uma responsabilidade social.”
Marcelo de Carvalho, pastor e professor de jiu-jítsu no projeto
Jiu-Jítsu dentro da igreja inspira crianças
Dentro do templo, as cadeiras dão lugar ao tatame. Os próprios alunos ajudam a organizar o espaço antes de cada aula. Depois, tudo é colocado novamente no lugar.
No início, houve até resistência por parte de alguns fiéis, por se tratar de um esporte de luta. A iniciativa começou com a maioria das crianças que nem mesmo frequentavam a igreja e passaram a conhecer o ambiente graças ao esporte.
Com o tempo, o projeto cresceu. Toda a iniciativa é voluntária e os materiais, como tatames e quimonos, são comprados graças a doações, principalmente de empresários e moradores de Bela Aurora e da região, sejam membros da igreja ou não.
Trabalhamos com crianças carentes. Fazemos arrecadações para a caridade. A gente procura sempre ajudar muito.”
Naldimar Rangel, multicampeão de jiu-jítsu
Além do esporte, a iniciativa é voltada para a inclusão social, oferecendo práticas de atividade física, lazer e vivência em comunidade para as crianças e jovens da região. Para o pastor Marcelo, o jiu-jítsu é muito mais do que apenas esporte e as aulas ensinam também sobre a vida.
“O jiu-jítsu imita a vida. No tatame, você é pressionado e lá fora também. Você está sendo amassado, espremido, normalmente por um oponente mais forte que você, só que você tem que manter a calma no meio do caos e criar uma estratégia para poder sair daquela situação”, explica o pastor.
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“Jiu-jítsu é crescimento e transformação”
Breno Chagas Martins, de 23 anos, começou no projeto quando ainda era criança, aos 12 anos. Com as aulas na igreja, ele evoluiu desde a faixa branca até a roxa, a mais avançada antes da preta.
O jiu-jítsu me ensinou bastante, é uma coisa de crescimento e transformação. Lá fora, a gente apanha muito. No projeto, aprendi a lidar com as minhas emoções, com as derrotas e vitórias, e a ter o controle do que tenho que fazer. Tudo o que acontece na vida, a gente se espelha no jiu-jítsu para superar.”
Breno Chagas Martins, aluno do projeto
O aluno auxilia atualmente os professores durante as aulas. Após 11 anos de dedicação à modalidade, ele tem o sonho de se tornar professor e, em seguida, mestre de jiu-jítsu.
Inspirado pelo professor, aluno de 10 anos já coleciona títulos
Além das aulas na igreja, Naldimar tem sua academia própria, que fica próximo à Igreja Peniel, também em Bela Aurora. Lá, ele ensina jiu-jítsu quatro dias por semana.
Alunos que conhecem a modalidade através da igreja podem ingressar na academia para se aprimorar. Mas Naldinho destaca que, independente do cenário ou do aluno, os treinos são sempre voltados para competição.
Um dos alunos da academia é Arthur Santos, de 10 anos, que já coleciona títulos. O menino tem uma prateleira exclusiva para suas conquistas na Academia Naldimar Rangel.
Arthur está há apenas dois anos no esporte e já venceu competições no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Ele fala com orgulho sobre as premiações que recebeu e tem grandes objetivos com o esporte, como o título brasileiro.
O jiu-jítsu é um esporte trabalhoso e precisa de muita cautela. Uma atrapalhadinha e o adversário vai te finalizar. Quero disputar campeonatos, trabalhar com o jiu-jítsu e ser professor.”
Arthur Santos, aluno do projeto
Além de medalhas, troféus e cinturões, ele também recebe muitos elogios do professor.
Multicampeão começou no jiu-jítsu após assalto
Naldimar Rangel se interessou pelo jiu-jítsu após ter sido vítima de um assalto, em Brasília, há mais de 30 anos. Na época, ele fazia capoeira e estava acompanhado de um amigo que praticava a modalidade. Enquanto Naldinho lutou com um dos assaltantes, o amigo encarou três. A partir daí, veio a curiosidade.
O mestre voltou para Vitória e começou a praticar o esporte. Com o tempo, vieram as primeiras competições e, como ele mesmo diz, “não parou mais”.
“Comecei a disputar Brasileiro, Internacional, CBJJ-RJ, CBJJ-SP e estaduais do ES. A galera me chama de ‘Kamikaze’, porque eu disputei várias competições e lutava com a galera da minha categoria e também da absoluta. Cheguei a lutar com cara com máximo de 130 kg e alguns nomes lendários daqui”, conta.
Naldinho é multicampeão do esporte e conquistou o 4º Dan, uma das graduações mais avançadas do jiu-jítsu, que exige no mínimo 12 anos portando a faixa preta para alcançar.
Há 30 anos dando aulas, o professor criou a Academia Naldimar Rangel e está há cerca de cinco anos em Bela Aurora, onde atende crianças e adultos, de segunda a quinta-feira, nos períodos da manhã e da noite.
*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos
Repórter
Jornalista formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Foi estagiário do Folha Vitória entre novembro de 2024 e outubro de 2025 e é repórter desde novembro de 2025.
