Esportes

Motorista de aplicativo e sem lutar há 10 meses, Yamaguchi desafia celebridades

Medalhista olímpico Yamaguchi Falcão dá aula de boxe e vira motorista de aplicativo para se sustentar e lamenta falta de oportunidades enquanto celebridades como Bambam ganham milhões com o boxe

Flávio Dias

Redação Folha Vitória
Foto: Jairo Smuller

“Pode vir Popó, pode vir Bambam, Whindersson Nunes! Eu quero e tô pronto”. Longe do ringues desde que lutou pelo cinturão mundial dos supermédios (até 76,2kg) da Associação Mundial de Boxe (WBA), em abril do ano passado, quando foi nocauteado pelo cubano David Morrell, Yamaguchi Falcão viu, na madrugada de domingo (25), o tetracampeão mundial de boxe Popó e o ex-BBB Kleber Bambam pararem o Brasil para uma luta de boxe entre eles.

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Luta que durou apenas 36 segundos, dentro do evento Fight Music Show 4, em São Paulo (SP), e teria rendido cerca de R$ 3 milhões para cada lutador. Uma realidade bem distante da que vive hoje o capixaba medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres/2012, de 36 anos, que hoje dirige carro de aplicativo e dá aulas de boxe na praça dos Namorados, em Vitória, para ajudar na renda de casa.

“Eu fico muito triste, na verdade. É o nosso esporte. Uma coisa que eu trabalhei a vida inteira pra ter uma grande oportunidade de lutar por milhões, de fazer uma grande luta, e o pessoal vem aí, treina dois meses, três meses e já recebe milhões, né? Fico triste por este lado, por darem mais oportunidades a este pessoal”, lamentou Yamaguchi.

Apesar da crítica, o medalhista olímpico avalia que usar o boxe como chamariz para eventos de entretenimento é um caminho válido. Principalmente, financeiramente. E desafia as celebridades a o encontrarem em cima do ringue.

“Como evento, como show, acho bacana porque mexe com o boxe, ajuda no crescimento do boxe. E com certeza eu aceitaria, sim, lutar com celebridades ou até o mesmo o Popó. Pode vir! Eu tô pronto para o Popó, Bambam, Whindersson Nunes, os MCs que estão aí se aventurando. Eu tô pronto! Eu quero também. Até porque este é o meu esporte. Eles estão entrando de atrevidos, mas quem manja do boxe mesmo sou eu”.

Nocaute na disputa pelo cinturão mundial

Depois de viver a fama da medalha olímpica junto com o irmão Esquiva Falcão, medalhista de prata na mesma competição, Yamaguchi migrou para o boxe profissional, em busca do sonhado cinturão mundial. Com um cartel de 27 lutas, sendo 24 vitórias, duas derrotas e um empate, o capixaba chegou a conquistar o cinturão latino dos médios do Conselho Mundial de Boxe (WBC).

Foto: Washington Alves/AGIF/COB
Os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão na época da conquista das medalhas olímpicas em Londres/2012

A tão esperada luta pelo cinturão mundial, porém, não veio como ele sonhava. Escalado de última hora para substituir o ganês Sena Agbeko, Yamaguchi teve menos de duas semanas para se preparar para enfrentar o cubano David Morrell e sofreu nocaute no primeiro round.

O capixaba, no entanto, não se arrepende de ter aceitado a luta mesmo com tão pouco tempo de preparação.

“Eu não me arrependo não. Gostaria de estar preparado pra luta? Sim. Gostaria de ter tempo hábil para tirar (perder) 8kg? Sim. Gostaria de ter assinado o contrato com dois meses de antecedência e não em 12 dias antes da luta? Sim. Mas era o que tinha e pensei: ‘E se essa oportunidade nunca mais aparecer?’ E se eu tivesse ganhado? Às vezes, a gente tem que apostar as fichas, isso é um jogo. E eu tô aqui pra jogar, nunca neguei adversário e não seria daquela vez”, cravou.

Motorista de aplicativo e professor de boxe

Enquanto espera por uma nova oportunidade, Yamaguchi tem se virado para ajudar na renda da família. A solução encontrada foi dar aulas de boxe e ser motorista de aplicativo.

“O tempo sem lutas é normal depois de uma luta, mas a previsão era já começar o ano com uma nova luta agendada e ainda não tenho. Por isso, precise procura outros meios pra me sustentar por enquanto”, conta o pugilista, que gosta quando os passageiros o reconhecem:

“Eu gosto quando me reconhecem (risos). Batemos papo e, às vezes, tiramos fotos. O meu objetivo no Uber é pegar o cliente e deixar ele em segurança até o destino.”

Foto: Jairo Smuller

A rotina de professor de boxe e motorista, no entanto, acaba prejudicando a rotina de atleta.

“É a vida né? E a gente tem que colocar a comida na mesa e pagar as contas. Eu não tenho vergonha de trabalho nenhum, vim do pouco e de uma família que arregaça as mangas. Infelizmente, meus treinos ficam sim prejudicados porque fico bem cansado e sem o tempo que gostaria de ter de treinamento por dia. Mas é o que tem no momento. Espero que logo eu tenha patrocínio e possa voltar a me dedicar exclusivamente ao boxe. Porque o sonho do moleque lá de 13 anos de ser campeão do mundo tá aqui ainda”, garante Yamaguchi.

Casado com Juliana e pai de Robert, que completa 5 anos em março, o medalhista olímpico enxerga o atual momento como uma fase. Mas avisa: o sonho de ser campeão mundial não acabou: “O sonho tá vivíssimo!! Tô no jogo!”.

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