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Presidente do Corinthians descarta vender jogador para pagar dívida

Apesar de o Corinthians dever R$ 313 milhões e estar com atraso no pagamento dos jogadores e comissão técnica, o presidente não abre mão de ter um dos elencos mais caros do Brasil

Redação Folha Vitória
Presidente do Corinthians, Roberto Andrade, no Parque São Jorge Foto: Estadão Conteúdo

São Paulo - Apesar de o Corinthians dever R$ 313 milhões (sem contar os empréstimos feitos durante as obras do Itaquerão) e estar com atraso no pagamento dos jogadores e comissão técnica, o presidente Roberto de Andrade não abre mão de ter um dos elencos mais caros do Brasil, com folha salarial superior a R$ 8 milhões por mês.

"Não vamos vender jogadores para pagar as dívidas. Vamos manter um grupo forte para ganhar títulos", disse o dirigente nesta entrevista à reportagem.

Qual é o balanço que o senhor faz do primeiro mês da sua gestão?

Eu já conhecia o clube, fui diretor administrativo, vice-presidente e diretor de futebol, mas é bem diferente ser presidente porque todos os assuntos passam pela sua mesa, sem exceção. Ainda estamos fazendo uma análise de tudo. A única coisa que a gente faz com bastante firmeza é redução de custos em tudo que a gente pode.

Na eleição, o senhor dizia que o maior desafio seria equilibrar as finanças. Como o senhor pretende aumentar receitas e diminuir despesas?

A gente ainda não conseguiu solucionar a situação financeira do clube e deixá-la agradável, como eu gostaria que fosse, mas estamos caminhando para isso. O departamento de marketing está trabalhando, e muito, em projetos novos. Na parte administrativa, estamos renegociando contratos e mudando conceitos. Sabemos que é um caminho longo e não vamos conseguir fazer isso em poucos meses, mas não podemos nunca baixar a guarda.

Quanto é a dívida com elenco e comissão técnica?

Não gosto de falar números nem de nomes. Temos pendências com alguns atletas no pagamento de luvas. Também falta quitar premiações, que atingem todo o elenco. Mas quero deixar claro que os salários estão em dia. Venho conversando com o elenco semanalmente para mostrar o trabalho que estamos fazendo. Todo mundo está ciente dos passos que estamos dando para conseguir quitar as dívidas. Todos estão com a maior paciência do mundo e tenho de agradecer a todos aqueles que têm a receber do Corinthians. Mas isso é uma coisa que me incomoda bastante.

O Tite disse que, apesar das dívidas, o senhor tem credibilidade com ele e os jogadores. Como vê esse comentário dele?

O Tite tem um entendimento das coisas bem legal. Ele está vendo a nossa luta, as dificuldades e o empenho para solucionar esse problema. Quando você dá satisfação, conversa e mostra o que está sendo feito, as pessoas entendem. A credibilidade vem do período em que eu fui diretor de futebol, porque tudo aquilo que nós combinamos foi cumprido. Credibilidade não vem de conversa, mas sim de atitude. Não quero perder isso.

O senhor vai vender alguns atletas para conseguir equilibrar as finanças?

Não vamos vender jogadores para pagar as dívidas. Temos de achar outro caminho para trazer receita sem nos desfazermos de nenhum patrimônio. Mas, se chegar alguma oferta e o jogador quiser sair, não tem o que fazer. A ideia é que não saia ninguém para a gente manter um grupo forte e conquistar títulos.

E a renovação com o Guerrero, como está?

Converso muito com ele e dou satisfação. O elenco do Corinthians tem 32 jogadores, não é só o Guerrero. Tenho pendências financeiras com sete pessoas e premiações com quase todo mundo. Como posso falar de renovação de contrato com o Guerrero e tratar de valores altos com ele sabendo que o resto do grupo ainda tem dinheiro a receber? Acha que isso é justo? Acha que cairia bem no grupo? Eu acho que não. Quero primeiro pagar todo mundo e depois chamar o Guerrero para conversar. O contrato dele vai até julho. Não muda nada sentar com ele para conversar agora, daqui a uma semana ou a um mês.

O contrato do Sheik também vence em julho. Será renovado?

Também vamos tratar disso somente lá na frente.

O que o senhor pretende fazer em relação ao Pato?

Pato tem contrato com o São Paulo até dezembro. Até lá não pensamos nisso. Não tenho com o que me preocupar.

Qual é a sua avaliação do time?

É só pegar a tabela do campeonato. Não tenho mais nada para falar. Os números estão aí para todo mundo ver.

A forma como a equipe está jogando neste início de temporada é uma surpresa?

Nosso time está crescendo. O melhor é que a equipe está evoluindo com vitórias. Estamos vencendo e convencendo, mas o time ainda não está maduro. Não dá para achar que vamos ganhar de todo mundo. A hora que enfrentarmos um time que jogar mais do que a gente e fizer uma marcação melhor, vamos perder. Isso faz parte do futebol.

Foi um acerto não renovar com o Mano Menezes e trazer o Tite?

Esqueça o Mano. O acerto foi trazer o Tite. O Mano é um grande treinador, passou por aqui, tem vários títulos, mas são momentos distintos. Cada clube tem o direito de escolher o treinador que acha mais adequado. Nós achávamos que o momento do Corinthians seria melhor com o Tite. Não cabem comparações.

Então foi um erro tirar o Tite em 2013?

Não existe erro, existem momentos. Naquele momento, alguma coisa tinha de ser mudada e nós mudamos. Agora achamos que tínhamos de mudar novamente e o fizemos. São visões diferentes a cada cenário.

Como o senhor vê o pedido de alguns clubes para que a divisão das cotas de TV seja alterada?

Quem acha que não está bom tem de discutir o seu contrato, e não o meu. Aqueles que acham que recebem pouco, podem ir até a Globo e pedir mais. Isso não significa que precisa tirar de mim para dar para ele. Quem tem de achar se os valores estão certos ou não é quem paga. Não vou discutir com ninguém. O que me interessa é o Corinthians, e não os outros clubes.

O senhor concorda com a Medida Provisória que estipula que os clubes podem gastar no máximo 70% do seu orçamento com o futebol?

Os clubes têm de ter uma administração sadia. Você não pode gastar mais do que recebe. Os clubes têm de ter responsabilidade. Isso vale para qualquer segmento da sociedade.

Mas o próprio Corinthians não fez isso e agora está em uma situação financeira complicada.

Não foi isso que aconteceu com a gente. Quando você faz um contrato de quatro anos com um jogador, os valores são feitos de acordo com as suas receitas hoje. Mas se daqui a dois anos você não tem mais a mesma receita, o contrato continua vigente com os valores antigos e aí ocorre o desequilíbrio financeiro. Tivemos esse impacto em 2014, com reflexos este ano.

O novo presidente da Gaviões da Fiel já foi preso por tentar invadir o vestiário do time e responde a processos pelas mortes de palmeirenses. Como será o relacionamento com as torcidas organizadas?

Vou conversar com todo mundo. Quando fui diretor de futebol, recebi a torcida. Sempre respeitei todo mundo e fui respeitado por todos. Não julgo a vida pessoal de ninguém. Prefiro conversar a tomar outras atitudes. A torcida faz parte do futebol.

A arena vai receber jogos da Olimpíada de 2016?

O Corinthians vai atender ao pedido da cidade de São Paulo, mas não concorda se tiver de gastar um real para isso. O estádio está à disposição para receber a Olimpíada com o maior prazer, mas falta saber quem vai pagar para fazer as adequações e qual será o custo.

Quando os naming rights do estádio serão vendidos?

Existem interessados e negociações em andamento, mas o dinheiro e a vontade não estão no nosso bolso. Estão com as empresas, e hoje o Brasil enfrenta um péssimo momento. A economia não está nem parada, está andando para trás.

Foi um erro concordar com a proposta da federação de limitar a 28 atletas o número de inscritos no Campeonato Paulista?

O voto do Corinthians tem o mesmo peso do dos outros clubes, mas eu não teria concordado com isso. Agora estamos passando por um momento difícil, com jogadores na seleção e no departamento médico e jogos de domingo, terça e quinta-feira. Se soubéssemos disso, nosso voto teria sido contrário. Para o próximo campeonato vou dizer que não concordo com isso.

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