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'Comando duplo' de Cuca e Mancini tem funções bem definidas no São Paulo

Cuca pediu que Mancini trabalhasse ao lado dele como uma forma de reconhecimento e para a fase de transição de um técnico para o outro

Redação Folha Vitória
Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Desde que assumiu o São Paulo, na segunda-feira (01), Cuca passa o tempo ao lado do coordenador Vagner Mancini. A cena é comum à beira do gramado, na hora do treino, e também na parte interna do CT da Barra Funda. A "passagem de bastão" do técnico interino para o efetivo cria uma experiência nova no clube que Cuca chamou de "comando duplo". 

Os dois estarão no banco de reservas para a semifinal do Campeonato Paulista, domingo (07), diante do Palmeiras, no Allianz Parque.

Esse "comando duplo" tem uma divisão clara de funções. Cuca dá as ordens nos treinos, conduz as palestras dentro e fora de campo e será o técnico de fato na decisão no estádio palmeirense. Ele estará na área técnica e vai assinar a súmula da partida, por exemplo. 

O coordenador técnico Vagner Mancini está "emprestado" para os treinamentos táticos e técnicos até o final do Campeonato Paulista. Ele observa ao lado do campo - ficará sentado no banco de reservas -, mas também tem liberdade para falar com os jogadores.

Na hora do treino, Mancini tem de estar no campo e deixar eventuais questões administrativas, que fazem parte de sua função como coordenador técnico, para segundo plano. Ao final do Paulistão, Mancini voltará a ser coordenador, função para a qual foi contratado.

Cuca pediu que Mancini trabalhasse ao lado dele como uma forma de reconhecimento pelo trabalho do interino e também para enriquecer a fase de transição de um técnico para o outro. Ele quer manter o que deu certo conservando a presença física - e os conselhos - de Mancini diante dos atletas.

Vale relembrar a passagem de Mancini. Ele assumiu a equipe logo após a eliminação precoce diante do Talleres na fase preliminar da Copa Libertadores. Jardine havia sido afastado do comando técnico (não demitido). Em nove jogos, Mancini acumulou três vitórias, quatro empates e duas derrotas.

Mais do que isso: consolidou a boa fase de novas promessas, como Igor Gomes, Liziero, Luan e Antony, e deu um novo padrão tático para o time. "Nós tínhamos três caminhos. Eu poderia ficar fora, lá no camarote, só observando. Outra saída seria que eu assumisse como treinador e começasse as tomar as medidas. Nós optamos por um caminho mais justo e mais correto de agregar para tentar fortalecer o São Paulo", explicou o treinador. "Teremos o conhecimento do Mancini e a presença do Cuca."

O São Paulo vai precisar de todas as forças no domingo. Para chegar à decisão, o time terá de superar um tabu: em sete jogos na casa do rival, perdeu todos. Para a semifinal, Cuca planeja manter grande parte do time que eliminou o Ituano nas quartas de final e empatou com o Palmeiras na ida da semifinal por 0 a 0.

"Percebi que eu e o Mancini temos uma visão bastante parecida do jogo. Temos ideias muito semelhantes. Acho que tem de ser mantido quase tudo. Não só para o Paulista, mas também para a sequência do ano", planeja Cuca, deixando claro que vai manter o que Mancini vinha fazendo.

A dobradinha Cuca e Mancini é nova, mas não é um modelo inédito. Em 2003, Roberto Rojas deixou de ser preparador de goleiros e foi efetivado como treinador depois de 40 dias como interino. A diretoria não conseguiu contratar Tite para substituir Oswaldo de Oliveira e resolveu apostar em Rojas. O melhor resultado de Rojas como interino havia sido uma vitória sobre o Grêmio por 2 a 1, em Porto Alegre. O ponto negativo foi a eliminação da Copa do Brasil pelo Goiás no Morumbi.

Para fortalecer o início de gestão de Rojas, a diretoria pediu um auxílio direto de Milton Cruz, que era funcionário de longa data e de confiança da diretoria. Ele continuava como auxiliar, mas tinha força e autonomia para dividir as decisões com Rojas. Também era uma forma de "comando duplo". A parceria funcionou. O time terminou o Campeonato Brasileiro de 2003 em terceiro lugar, o que significou o retorno à Libertadores depois de dez anos. A dupla foi desfeita com a contratação de outro treinador em 2004. O novo nome foi exatamente Cuca, que voltou agora ao clube depois de 15 anos.

O futebol internacional também tem exemplos de "dois técnicos". O técnico sueco Lars Lagerback, que hoje dirige a Noruega, já comandou em dupla a Islândia na Eurocopa de 2016, quando a equipe começou a ganhar relevo no futebol mundial, e a própria Suécia na Copa de 2002. "Se você trabalha sozinho, há risco de não perceber todas as possibilidades e desperdiçar alguns detalhes importantes", explicou ao Estado.

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