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Fotógrafos recriam figurinhas da Copa com imagens de desabrigados

Figurinhas com os desabrigados da Copa Foto: Divulgação

Saem Fred e Neymar, entram dona Elenilda e seu José Mário. Lançado na semana passada nas redes sociais, um projeto criado por fotógrafos paulistanos reedita as disputadas figurinhas da Copa do Mundo 2014 – mas com imagens de trabalhadores sem-teto no lugar de jogadores da Seleção Brasileira.

Os autores querem chamar atenção para a ocupação "Copa do Povo", que reúne desde o dia três cerca de quatro mil pessoas, segundo a organização, num terreno privado a 3,5 quilômetros da Arena Corinthians, conhecida como Itaquerão (zona leste de São Paulo).

Publicadas junto às hashtags #copadopovo e #nãovaitercopa, as fotos compartilhadas têm desenho idêntico ao das figurinhas oficiais da Copa. O álbum foi criado pela rede Clique Fotógrafos Ativistas, junto ao Clique Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

Procurada, a Fifa não quis se pronunciar sobre o assunto. A Panini, que edita o álbum da Copa desde 1970, também foi procurada para comentar o caso, mas disse que qualquer questão ligada aos direitos de uso de marca seriam da alçada da Fifa.

O povo e a Copa

"Nosso objetivo é desmistificar a ideia de que a Copa da Fifa serve ao povo", diz Tarek Mahammed, 26, da coordenação dos Fotógrafos Ativistas.

"As figurinhas mostram que, enquanto esses estádios são construídos, as pessoas continuam sem moradia, sem trabalho, sem acesso à educação, hospitais e esportes. O povo de verdade não tem nem campo para jogar futebol no Brasil", afirma em seu twitter.

Autor das imagens, o fotógrafo Flávio Freire, 26, conta que a ideia surgiu no mesmo dia em que o técnico Luiz Felipe Scolari divulgou a lista oficial de convocados para a seleção.

"Nossa ideia era montar uma seleção alternativa com os moradores da ocupação. Isso é bem simbólico. Principalmente, queríamos mostrar seus rostos e suas histórias para o maior número possível de pessoas", disse em entrevista à BBC.

Entre os personagens do álbum alternativo está Cidinéia, 52, educadora desempregada que descobriu a ocupação pela televisão. Antes de se unir aos invasores, ela dividia uma casa de quatro cômodos com outras 21 pessoas.

Sua nova "vizinha", Maria Rosalina, 70, trocou o aluguel de R$ 300 de uma casa de três cômodos, dividida com outras cinco pessoas, pela vida na ocupação.

A "Copa do Povo" surgiu na semana passada em um terreno de cerca de 150 mil metros quadrados, de propriedade da Viver Incorporadora. Em nota à imprensa, a construtora, que busca reintegração de posse, afirmou que a área não tem débitos com a justiça.

Segundo o MTST, que coordena a construção dos barracos, o local – cujo valor de mercado é estimado em mais de R$ 20 milhões – está abandonado há mais de 20 anos.

Do terreno ocupado é possível ver a Arena Corinthians, que será o palco de abertura da Copa daqui a 28 dias.

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