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Onda argentina toma o Rio com ônibus, trailers e festa

Rio - A onda azul e branca que tomou conta da zona sul do Rio chegou ao auge neste domingo, com a estreia da Argentina na Copa do Mundo. Os turistas argentinos estavam por todos os lados, especialmente nas praias do Leme e Copacabana. A invasão é também motorizada: vários ônibus e trailers decorados com as cores do país vizinho estão estacionados em postos de gasolina da praia. São enfeitados com bandeira, fotos de ídolos do futebol e até do papa Francisco e tocam músicas nas alturas.

O cálculo da embaixada da Argentina é que 50 mil torcedores do país vizinho estão no Rio neste fim de semana. No domingo, logo de manhã cedo, os fãs de Messi ocupavam a pista da praia de Copacabana fechada para lazer, levando bandeiras, chapéus divertidos e atendendo a muitos pedidos de fotos e entrevistas. No meio da tarde, grandes grupos já estavam a caminho do Maracanã, na zona norte, e lotaram as estações do metrô, formando filas enormes.

Com poucos funcionários disponíveis para dar informações, torcedores tiveram dificuldade de entender o sistema de gratuidade para quem tinha ingresso para o jogo, que valia a partir das 15 horas. Alguns compraram bilhetes sem necessidade. Mas não perderam o bom humor. Os argentinos faziam festa cantando o hino e agitando bandeiras e faixas. "Há muita gente, nós entendemos que isso aconteça. Mas até que está andando rápido", afirmou Manuel Lorenzo, de 25 anos, na porta da estação General Osório, em Ipanema (zona sul). O argentino Ignacio Dematteis, de 26, também encarou com bom humor a confusão. "O difícil mesmo foi comprar ingresso para as partidas", disse Ignacio, que aluga um apartamento por temporada com seis amigos de Córdoba.

Na chegada ao estádio, os argentinos entoavam a canção composta especialmente para o Mundial, cheia de provocações aos brasileiros. A inspiração foi a vitória da Argentina sobre o Brasil na Copa de 1990, com passe de Maradona e gol de Caniggia. "E juro que mesmo que passem os anos/nunca vamos deixar esquecer/que Diego Maradona os driblou/E Caniggia os espetou/Estão chorando desde a Itália até hoje/Messi, vocês vão ver/A Copa vai nos trazer/Maradona é maior do que Pelé", repetiam os hermanos.

Os que não conseguiram ingressos para o estádio fizeram festa na arena montada pela Fifa para transmissão das partidas em telões, com shows entre os jogos. Estacionados em frente à praia, o trailer dos irmãos Latzina virou atração. Em cima dele, dois dos cinco ocupantes se revezavam para balançar a bandeira argentina e recebiam o apoio dos brasileiros. Mesmo sem ingresso para as partidas, viajaram por quatro dias na "casa sobre rodas" e chegaram ao Rio na noite de sábado. Pelo

privilégio de ficar em frente à praia e ao Fan Fest, o grupo paga R$ 200 por dia para estacionar em um posto de gasolina. "Aqui eu posso ver o jogo com os pés na água do mar de Copacabana. Não tem nada mais bonito que isso", disse Pablo Latzina.

Os irmãos e mais três amigos prometem acompanhar a seleção de seu país e irão para Belo Horizonte, onde a Argentina enfrenta o Irã. "Ficaremos aqui no Brasil até que a Argentina vá embora. Espero que seja só no dia 13 de julho (data da final da Copa). Vocês (brasileiros) já têm cinco títulos. Agora é nossa vez", disse Martín Ferrari, de 47 anos. Um dos ônibus mais bem equipados da ocupação argentina abriga um grupo de seis hermanos e chegou ao Rio na quinta-feira, depois de cinco dias de viagem. Tem seis camas, banheiro e cozinha e partiu da cidade de Tandil, a 350 quilômetros de Buenos Aires. Os amigos pagam R$ 120 por dia por uma vaga no posto de gasolina no Leme, próximo à Fifa Fan Fest, arena com telões que transmitem os jogos da Copa, animada com shows ao vivo.

"Do Rio, iremos para Belo Horizonte e depois Porto Alegre", contou o comerciante Alejandro Rodriguez, de 33 anos. "Mas voltamos para o Rio em 13 de julho", apostou o amigo Juan Bertolin, de 27 anos, na expectativa de ver uma final entre Brasil e Argentina no Maracanã.

"Enquanto o jogo não vem, vamos cantar as brasileiras", provocou. O comerciante Dario Rodriguez, de 38 anos, saiu de Mendoza e, no Rio, instalou uma barraca na praia e divide o espaço com dois amigos. "Aqui estou em casa", diz, em tom amistoso. A ocupação argentina na zona sul, porém, nem sempre é pacífica. Na tarde de sábado, a polícia usou gás de pimenta para dispersar um grupo que tentou fechar uma pista da orla de Copacabana e provocava brasileiros. Na madrugada do mesmo dia, a Polícia Militar já tinha sido chamada para conter um princípio de tumulto em um quiosque na praia.

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