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Levantamento de peso tem racha após presidente 'desconvocar' atleta

Redação Folha Vitória

São Paulo - A equipe que vai representar o Brasil no levantamento de peso chegará ao Rio-2016 rachada. De um lado estão a comissão técnica, os treinadores e quatro dos atletas que competirão na Olimpíada. Do outro, Jaqueline Ferreira, convocada pelo presidente da Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP), Enrique Montero Dias. Ela sequer está treinando com a equipe no CT da Unimed, em Guaratiba, na zona Oeste do Rio.

"Esse presidente não tem estrutura para gerir nada", ataca Fernando Saraiva Reis, bicampeão dos Jogos Pan-Americanos e única esperança de medalha para o Brasil nos Jogos do Rio. "Foi uma decisão bem política e arbitrária", reclama.

No começo do ano, a comissão técnica, liderada por Edmílson Dantas, determinou que, independente da categoria de peso, seriam convocados os atletas com os cinco melhores "índice Sinclair" no evento-teste, que valeu como Campeonato Sul-Americano, no Rio, e o Campeonato Pan-Americano, disputado em Cartagena, na Colômbia. Esse índice é mundialmente utilizado no levantamento de peso para comprar resultados de atletas de categorias diferentes.

Encerrado o Pan, Edmilson se reuniu com os técnicos da equipe - o romeno Dragos Stanica e o cubano Luís Lopez - e, ainda em Cartagena, definiu a convocação de Fernando (+105 kg), Mateus Gregório Machado (até 105kg), Welisson Rosa (até 85kg), Rosane Santos (até 53kg) e Bruna Piloto (até 63kg).

"Depois da reunião, fui convocada. Voltei para o Rio, treinei forte por duas semanas, já pensando na Olimpíada. Só que aí veio isso. Foi decisão do presidente, que não deveria ter interferido. Meu suor foi por água abaixo", reclama Bruna Piloto, com água nos olhos. "Quem fez todos os critérios foi o Edmilson. Ele passou para todo mundo, estava todo mundo ciente".

Luís Lopez, que é técnico de Bruna e dos três convocados para a equipe masculina no Pinheiros, confirma a versão. "Nós treinadores seguimos parâmetros técnicos. Foi decisão arbitrária por parte do presidente, que interferiu em decisões técnicas. Sempre foi informado que os resultados de duas competições, pelo índice Sinclair, iriam determinar quem iria. Isso foi totalmente mudado pelo senhor presidente", protesta o cubano.

A CBLP rebate. Diz que a "coordenação técnica" definiu que, em 2013, foi definido que cinco eventos valeriam como tomada de índices, não apenas dois. Mas a entidade não permite que Edmilson conceda entrevistas para confirmar a versão - o coordenador compartilhou recentemente nas redes sociais uma postagem do cubano contestando a convocação.

"Só existe uma verdade. Só tem duas pessoas autorizadas a falar em nome da confederação: eu e a assessora de imprensa. As regras têm que ser claras e quantificáveis. E para evitar qualquer tipo de polêmica definimos o índice Sinclair", diz Montero, negando que a reunião em Cartagena entre os dois técnicos e o coordenador da equipe tenha definido a convocação. Só ele poderia fazer isso. Uma coletiva de imprensa com os convocados chegou a ser cancelada.

Para Lopez, a decisão de Montero Dias foi com vistas à próxima eleição para a presidência da CBLP. "Há um conchavo político", denuncia. "A Jaqueline é uma atleta que merece respeito, foi finalista olímpica (em 2012), mas hoje não era quem estava na forma desportiva para representar o País".

A equipe treina em Guaratiba desde janeiro. Bruna voltou para lá após o fim do Pan, convocada para a Olimpíada. Nove dias depois, recebeu a ligação de Montero avisando que ela deveria ir embora. Jaqueline estava convocada para a Olimpíada em seu lugar. "É lamentável que alguém tome uma decisão dessa e interfira tão negativamente na vida de uma pessoa. Ficamos revoltados", conta Fernando, que diz não ver a hora de uma conversa "cara a cara" com o dirigente. Para Montero, razões pessoais motivam a revolta do peso pesado e de seus companheiros de equipe.

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