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Com crescimento de Mbappé, Neymar encara desafio de ser amado em Paris

Redação Folha Vitória

Neymar já enfrentava problemas para se consolidar como o ídolo máximo do Paris Saint-Germain antes da Copa do Mundo. Sua performance na Rússia, sua vaidade e seus atos teatrais nos confrontos com os marcadores, combinados ao desempenho do seu colega Kylian Mbappé, campeão do mundo, francês e torcedor do clube desde pequeno, deixam em aberto o papel que o craque brasileiro terá na equipe da capital francesa na temporada 2018/2019. Para os parisienses, o brasileiro agora terá de se concentrar mais no futebol, reduzir o estrelismo e reconquistar o espaço perdido como xodó da torcida.

A análise vem sendo feita por comentaristas esportivos franceses e torcedores ouvidos pelo Estado nos últimos dias, antes e depois do anúncio feito pelo astro da seleção brasileira de que permanecerá no PSG, mesmo com o suposto assédio do Real Madrid. As declarações de Neymar na quinta-feira, aliás, ajudaram a melhorar sua imagem em Paris. Seu silêncio sobre o futuro, a pressão da equipe merengue e a perspectiva de que fosse embora após um ano vinham causando insatisfação entre os torcedores, que não hesitavam em chamá-lo de mercenário.

Mas as afirmações de Neymar sobre permanência no PSG e os elogios ao elenco foram bem acolhidas. Questionado sobre se continuaria no clube, o brasileiro foi taxativo e encerrou as controvérsias. "Continuo, tenho contrato. Fui para lá por um desafio, por coisas novas, por um objetivo. E não mudou nada", reiterou. Os franceses precisavam ouvir isso.

Também as palavras de reconhecimento e elogios a Mbappé, novo xodó parisiense e francês, foram bem vistas em Paris. "Ele é um fenômeno, um grande jogador. A gente, que está com ele no dia a dia, já sabia disso faz tempo. Fico muito feliz, muito contente, de ele ter feito um grande Mundial", disse Neymar, que ressaltou a proximidade com o craque de 19 anos. "Falo com ele quase todos os dias."

Para Bruno Salomon, jornalista e comentarista de esportes da rádio France Bleu, de Paris, encarregado da cobertura dos jogos do PSG, os torcedores do clube saudaram a decisão do brasileiro de permanecer na capital francesa. Mas, informa ele, ainda esperam que Neymar demonstre foco no futebol, menos estrelismo e uma boa convivência com Mbappé. "Neymar pode se tornar o verdadeiro príncipe ou até o rei do Parque dos Príncipes, mas precisa ser mais natural, focar em jogar futebol e não esperar que as pessoas apenas o amem. Ele precisa dar algumas provas de sua aplicação e implicação como jogador do Paris", entende.

Segundo Salomon, Neymar perdeu no espaço de um ano o protagonismo no coração dos jovens torcedores franceses. "Na escola, meus filhos não falam mais de Neymar, mas de Mbappé. Por quê? Porque Mbappé contribuiu à equipe. É preciso que Neymar desça um pouco do pedestal. Se Neymar escolheu ficar, espero que tenha compreendido que ele não deve ser apenas uma diva."

Para Hervé Kohler, um torcedor referência do PSG, requisitado com frequência pela imprensa francesa, o que os parisienses esperam de Neymar é que ele "jogue bonito e seja decisivo". "Nós sabemos que ele sabe fazer tudo, mas nos frustra ver seu lado tão frágil. Como as coisas estão, é impossível amá-lo todo o tempo. Nós o amamos, o detestamos, o amamos de novo, o detestamos de novo", atesta. "O astro do PSG por enquanto não é Neymar. Ele é um astro no mundo, na seleção, mas ainda não no PSG. Queremos vê-lo resolvendo e sendo o cara nos grandes jogos."

Para Kohler, embora Mpabbé esteja à frente em carisma, Neymar ainda é tido como um craque fora de série, atrás apenas de Cristiano Ronaldo e Messi. "Neymar é o terceiro melhor jogador do mundo, ainda à frente de Mbappé. Nós temos muito orgulho de tê-lo conosco, mas queremos ver mais, queremos vê-lo jogar mais coletivamente e marcar a história do clube."

Outro jornalista e torcedor do PSG, que pediu para não ser identificado, resumiu em poucas palavras o mal-estar entre o astro e os parisienses. "Neymar se considera maior do que o PSG. A torcida sente que ele pensa isso, e é algo que faz mal."

Se o presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi, considera o convívio entre Neymar e Mbappé ideal, um novo contratado do clube, Gianluigi Buffon, demonstra preocupação em mobilizar a energia dos atletas não para a concorrência, mas para a conquista de títulos. "Neymar é uma estrela mundial. Com sua liderança e sua vontade de ganhar, é importante que em torno dele haja muitos companheiros e grandes talentos que tenham o mesmo estado de espírito", afirmou ao canal beIN Sports. "Creio que o Paris Saint-Germain tenha um time que, se tiver um certo estado de espírito, pode alcançar todos os seus objetivos."