'Tênis brasileiro ainda não existe, só um ou outro jogador', diz Guga
Encabeçando projetos de investimento no tênis, Gustavo Kuerten afirmou nesta sexta-feira que a modalidade ainda está em criação no Brasil, com raras iniciativas que podem sustentar o esporte a longo prazo. "O tênis brasileiro não existe ainda, existe somente os jogadores", declarou o tricampeão de Roland Garros, em São Paulo, onde divulga seus projetos para ajudar a desenvolver a modalidade no País.
Ao comentar sobre a situação atual do esporte no Brasil, em entrevista coletiva, Guga afirmou que ainda não há um cenário da modalidade no País. "Só no Rio Open deste ano caiu a minha ficha. Não existe um cenário brasileiro, um ciclo. Falta tênis no Brasil. Existe só os jogadores. Quando falamos de tênis do País, falamos apenas de personagens. 'Ah, o Guga parou, o Meligeni ali, o Thomaz está em fase ruim'. Ainda não conseguimos produzir uma geração de tenistas", afirmou.
Por isso, o ex-número 1 do mundo decidiu se dedicar nos últimos anos à formação de uma base de jovens tenistas. "Temos que falar é da pretensão de montar uma base. Se não, vamos ficar falando de caso a caso. E é meio irracional falar de personagens, o tênis brasileiro não pode ser isso. Temos que falar de dez Thomaz, dez Thiagos. De uma condição que o Brasil pode se dedicar a construir, que é um Top 10, por exemplo."
Para Guga, os profissionais da atualidade, como Thomaz Bellucci, Thiago Monteiro e Rogério Dutra Silva, precisam ser mais valorizados, por não terem recebido uma estrutura mais favorável para sua formação no esporte - no momento, o trio está fora do Top 100 do ranking.
"Qualquer ranking que eles tiverem, tem que agradecer. Eles estão lá sozinhos por livre e espontânea força. Se eles estiverem no circuito por uns dez anos, já estão contribuindo para o tênis brasileiro. Muitas crianças estão vendo eles jogar e isso acaba promovendo o nosso tênis."
O ex-líder do ranking acredita que o investimento na formação de base deve gerar uma geração de bons tenistas no futuro. "Os jogadores precisam ser melhores? Sim, óbvio, mas os treinadores também. Não tem ninguém para ensinar, poucas crianças permanecendo nas aulas. Mas existem ajustes que estão contribuindo bastante."
Estes "ajustes" estão sendo liderados, segundo Guga, pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e por seus próprios projetos. O de maior atenção no momento é o Time Guga, revelado pelo Estado no mês passado. Com a iniciativa, o ex-tenista está formando uma equipe de jovens talentos para dar apoio no circuito, principalmente na transição do juvenil para o profissional. A expectativa dele é formar um "Batalhão Brasileiro" no futuro, a exemplo da famosa "Armada Espanhola", como ele havia comentado com a reportagem anteriormente.
"Temos uma safra que é especial, garotos com ranking excelentes, boas pretensões. Precisamos quebrar este estigma do juvenil que não consegue se tornar profissional. Temos que ter um grupo de 20, 30 jogadores de bom nível. Vamos criar sustentabilidade, autonomia. Aí, sim, poderemos ser mais rigorosos com esta turma, exigir e cobrar mais porque eles terão maior capacidade."
Já pensando mais à frente, Guga acredita que o tênis brasileiro precisará se unir mais para somar os esforços pontuais, como os seus, da CBT e de outras academias, como a Tennis Route, do Rio de Janeiro. "O próximo passo agora é reunir esta pessoas, compartilhar experiências. Esta nova geração pode transformar o tênis brasileiro, é uma onda positiva. Isso me dá essa convicção de que o nosso tênis vai ser o melhor do mundo."