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Clubes cobram CBB, criticam Zanon e iniciam 'boicote' à seleção feminina

Redação Folha Vitória

São Paulo - O basquete feminino brasileiro cansou de ser tratado com pouca atenção pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Os seis únicos clubes da Liga de Basquete Feminino (LBF), além de técnicos e outras figuras de peso da modalidade, resolveram se unir e deram início nesta terça-feira a um movimento que promete não ceder mais atletas à seleção até que providências sejam tomadas. "Se eles não têm competência para cuidar do basquete feminino, que deixem que quem entenda faça isso", diz Roberto Dornelas, técnico do América-PE, e um dos líderes do grupo.

O descontentamento com o tratamento dado ao basquete feminino por parte da gestão Carlos Nunes vem de anos, mas o estopim para o início do movimento foi a ausência de qualquer dirigente da CBB no evento de lançamento da LBF 2015/2016, na semana passada, em São Paulo. Nunes, entretanto, esteve presente ao evento-teste do tênis de mesa, no Rio.

"Entenderam por que não estaremos mais cedendo jogadoras para a seleção enquanto isso não mudar? Esse é o respeito da entidade máxima do basquete brasileiro. Não sabem nem quando é o lançamento da Liga Nacional e os jogos, mas estão presentes em outras modalidades quando é conveniente. Chega", esbravejou, pelo Facebook, o presidente do Corinthians/Americana, Ricardo Molina, compartilhando a postagem da CBB que mostrava Nunes no Riocentro.

O movimento é liderado exatamente pelo técnico do Americana, atual campeão brasileiro, Antônio Carlos Vendramini. Partiu dele a proposta de que o clube não cedesse mais jogadoras à seleção brasileira "enquanto não tivermos dirigentes do feminino participando do planejamento e das atividades rumo à Olimpíada". Dois dias após esta postagem no Facebook, conclamando outros clubes, não há mais dissidentes. Todos aderiram ao protesto.

"Estamos liderando o movimento, já que as atletas não têm força para falar, para dizer o que acontece no planejamento, nos tratamentos. Está na hora de os clubes tomarem uma posição, pela total falta de respeito da CBB. A gente quer planejamento, a gente quer fazer parte desse planejamento. Se isso não acontecer, a única forma é não liberar nossas atletas", explica Dornelas.

A ideia do grupo é não ceder nenhuma jogadora para a seleção feminina que em janeiro vai disputar o evento-teste do basquete, até porque o torneio vai acontecer em meio à disputa da LBF. Assim como no futebol, os clubes são obrigados a ceder seus atletas em torneios oficiais, da Federação Internacional de Basquete (Fiba), mas não para amistosos.

O movimento diz que não gosta da palavra "boicote", mas garante que vai manter essa postura até que "o basquete feminino seja gerenciado por quem entende de basquete feminino". O técnico da seleção feminina, Luiz Augusto Zanon, comandava um time masculino, de São José dos Campos, ao mesmo tempo que treinava as meninas. A prioridade dos homens era tanto que elas se reuniam no Vale do Paraíba para que Zanon não se afastasse do comando do clube. Ele foi demitido em agosto pelo São José.

"Ele (Zanon) demonstrou falta total de conhecimento do basquete feminino. Você tem que conhecer o basquete feminino. No liga passada, não foi a um jogo, nem do São José. Todos os eventos femininos ele não aparece. Nem ele e nem ninguém comissão técnica", reclama Dornelas.

O movimento dos clubes e técnicos reclama que não há planejamento por parte da CBB e da comissão técnica. "A gente quer o planejamento da seleção para saber o que vai fazer em dois meses com nossas atletas na preparação física, na preparação técnica. A gente passa 10 meses com elas, então a gente sabe muito bem qual o estado de cada atleta. A gente sempre recebe atletas machucadas e a desculpa é a sempre a mesma. Cadê o planejamento? Por que não entrega aos clubes? Por não conversa com os médicos, fisioterapeutas do clube? Se não tem competência que deixem que quem entenda faça isso", cobra o técnico do América-PE. Médico e preparador físico da seleção masculina estão nos EUA para conversar com os jogadores brasileiros da NBA e os médicos dos clubes.

A reportagem tentou contato com Carlos Nunes, mas as ligações não foram atendidas. Sem ele, a LBF foi lançada na semana passada com a presença de apenas seis clubes: Corinthians/Americana, Santo André, Presidente Venceslau, Maranhão Basquete, Sampaio Correa e América. Em um ano, cinco times fecharam as portas.

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