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Após bronze olímpico, Poliana Okimoto expõe incertezas para Tóquio-2020

Redação Folha Vitória

São Paulo - Medalhista de bronze na maratona aquática nos Jogos Olímpicos do Rio, Poliana Okimoto viveu um fim de semana especial. Ao lado de Allan do Carmo, enfrentou um desafio diferente nas águas abertas pelo Rei e Rainha do Mar, com a mescla de natação e corrida, e terminou na segunda posição. O reencontro com a praia de Copacabana, palco de sua principal conquista na carreira, foi motivo de alegria. Mas não a única. O que mais entusiasmou a atleta foi o inédito Super Challenge, prova de 10 quilômetros disputada na raia olímpica por competidores amadores, criada em sua homenagem. "Abrir portas foi uma das minhas contribuições para o esporte", exalta.

Primeira mulher da natação brasileira a conquistar uma medalha olímpica, Poliana chegou ao patamar mais alto de sua longeva carreira. Foram 20 anos sonhando, como ela mesma define. E a atleta, de 33 anos, sente que ainda tem mais para dar e receber da maratona aquática. "É difícil abrir mão. Estou na minha melhor forma física, melhorando cada vez mais. Eu acredito que o atleta se aposenta quando já está em decadência, ainda estou na escala subindo, espero que esteja nadando em alta performance até Tóquio", projeta.

Enquanto a carreira de Poliana ascende, o investimento no esporte nacional para o próximo ciclo olímpico aponta para a direção oposta. E isso é motivo de preocupação. "Depois de uma medalha olímpica, a gente esperava ter tranquilidade para trabalhar e, na verdade, tem sido ao contrário. Temos incerteza de patrocínio, incerteza da Confederação (Brasileira de Desportos Aquáticos). Essa incerteza acaba refletindo nos resultados", lamenta.

A principal mudança sentida pela atleta em sua rotina foi a redução do número de pessoas ao seu redor, trabalhando pelo seu desenvolvimento. Até a Olimpíada do Rio, contava com o auxílio de psicóloga, nutricionista, massagista, entre outros profissionais pagos pela verba do Plano Brasil Medalhas - programa do governo federal que contemplava, por exemplo, a contratação de uma equipe multidisciplinar de até R$ 20 mil por atleta. Com o fim do incentivo após os Jogos, os custos passaram a ser responsabilidade de Poliana e, por isso, ela decidiu manter por hora apenas o preparador físico na equipe.

Apesar do temor diante da crise enfrentada pelos esportes, especialmente pelos aquáticos, a atleta da Unisanta torce para que a dificuldade seja passageira. Para ela, o planejamento ficará mais claro depois da eleição presidencial da CBDA, prevista para o primeiro semestre de 2017. "A gente precisa de investimento para pensar no próximo ciclo olímpico. Uma medalha não é feita de uma hora para outra, a gente precisa de tempo para trabalhar. Tem de começar agora", cobra.

Ela tem suas metas bem definidas, mas ressalta: "A gente tem de focar no presente, esquecer o futuro e o passado também." A curto prazo, o objetivo é subir ao pódio no Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste, em julho de 2017. Mas a ambição não tem freio, e o maior propósito é a Olimpíada de Tóquio, em 2020. Depois de se despir de um grande peso na Rio-2016 pela ânsia de ser novamente a pioneira nas águas abertas, Poliana diz encarar o próximo desafio olímpico com mais tranquilidade. "O peso de querer ser a primeira a ganhar uma medalha já passou. Agora vai ser mais leve", acredita.

A medalhista olímpica também não abaixa a guarda, até porque sabe que tem uma concorrente de peso à espreita. "A competitividade que tenho com a Ana (Marcela Cunha) é muito forte, mas a gente tem uma relação boa fora d’água. Essa competitividade faz as duas crescerem, nenhuma se sente na zona de conforto. A gente sempre quer dar um pouquinho a mais, isso ajuda muito."

Além disso, destaca o amadurecimento como trunfo para seu sucesso na maratona aquática. Experiência dentro e fora d’água, com o auxílio do treinador e marido Ricardo Cintra. Segundo ela, a relação lhe dá liberdade de ter uma conversa franca sobre seus treinamentos, o que colabora para o seu desenvolvimento. Fator determinante também para a sua longevidade.

Em uma avaliação de sua trajetória, Poliana lembra a falta de traquejo quando disputou os Jogos de Pequim, em 2008, pouco tempo depois da transição da natação para a maratona aquática. Recorda também a decepção enfrentada após o caso de hipotermia em Londres-2012 e a luta para superar a depressão devido ao episódio traumático. Chegou a abandonar o esporte por três meses, mas decidiu tentar uma última vez. A redenção veio com a medalha de ouro nos 10km no Mundial de Barcelona, em 2013. Reencontrou motivação para se doar ao esporte que tanto ama, e, perfeccionista, redobrou a dedicação nos últimos anos. Dessa forma, sentiu-se merecedora do bronze nos Jogos Olímpicos. "Não procuro atalhos, vou sempre pelo caminho mais difícil. É dessa forma que consegui ter uma carreira longa e vitoriosa", explica.

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