Esquema de doping russo causou 'maior fraude' em Londres-2012, diz investigador
Genebra - Ao apontar nesta sexta-feira, por meio de seu relatório produzido a pedido da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), que mais de mil atletas russos foram beneficiados por manipulações no controle de doping entre 2011 e 2015, o investigador Richard McLaren afirmou que o esquema que envolveu uma "conspiração em uma escala sem precedentes" entre federações esportivas, agências antidoping e o próprio governo da Rússia provocou a "maior fraude" esportiva durante os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
"Talvez nunca conheceremos a dimensão da corrupção dos resultados em Londres. Trata-se da maior fraude nos tempos modernos em um evento", afirmou McLaren. Para ele, os resultados "impressionantes" dos russos em Londres "falam por si só". Os nomes dos envolvidos foram passados às federações de cada uma das modalidades. "Vamos tomar medidas", prometeu, por sua vez, a Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês).
"Enquanto a manipulação dos testes ocorria, produtos ilegais eram fornecidos", explicou McLaren. "Em Londres, a Rússia ganhou 24 medalhas de ouro e ninguém foi pego no doping", disse.
Para o investigador, havia um "sistema disciplinado estabelecido para ganhar medalhas, principalmente nos Jogos de Sochi de 2014". Um banco de amostras limpas de sangue foi transportado para a cidade e, dali, o material era fornecido para que os atletas não fossem pegos.
"Os eventos foram sequestrados pelos russos. Não há como saber por quanto tempo fizeram isso", alertou o investigador, que aponta também para manipulação nos Jogos Paralímpicos de 2012.
Antes dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio, seu informe preliminar apontou como o consumo de substâncias proibidas por atletas russos era promovido por programas secretos do estado russo, contando inclusive com o apoio dos serviços de inteligência.
As revelações levaram centenas de atletas e entidades a pedir a suspensão da delegação russa dos Jogos do Rio. Mas a opção do Comitê Olímpico Internacional (COI) foi a de manter Rússia no evento e suspender apenas aqueles que não conseguissem provar que estavam limpos. Na época, McLaren acusou o COI de não entender que o doping era generalizado e organizado pelo estado russo.
Agora, suas conclusões revelam a dimensão do escândalo que envolveu diretamente o ex-ministro do Esporte da Rússia, Vitaly Mutko. O braço direito do presidente Vladimir Putin não foi autorizado a viajar ao Rio de Janeiro. Mas o Kremlin, ao invés de o demitir, o promoveu para o cargo de vice-primeiro-ministro.