*Artigo escrito por Rafael Leão, especialista em marketing e inteligência artificial
Uma camisa que ninguém vestiu. Uma ideia que não foi oficialmente lançada. E, ainda assim, um dos maiores cases de repercussão digital recente. Assim foi o episódio da suposta camisa vermelha da Seleção Brasileira — um exemplo claro de como símbolos visuais podem incendiar a internet em tempos de polarização.
Tudo começou com uma imagem circulando nas redes, vinculada à CBF, sem explicações detalhadas.
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Em poucas horas, o assunto explodiu: segundo a plataforma Ativaweb, foram mais de 4,3 milhões de menções, com vídeos sobre o tema ultrapassando 12 milhões de visualizações.
Termo “camisa vermelha seleção” atingiu pico de interesse
O termo “camisa vermelha seleção” atingiu o pico de interesse no Google Trends, demonstrando a escala do impacto.
O que poderia ser apenas uma estratégia promocional virou combustível político. Hashtags como #SelecaoVermelha e #NaoEMinhaSelecao se multiplicaram.
A cor vermelha, historicamente associada a movimentos de esquerda no Brasil, foi lida por muitos como símbolo ideológico — ainda que a CBF tenha rapidamente esclarecido que não haveria alteração no uniforme oficial.
Esse ruído mostra a força — e o risco — da comunicação simbólica. O público já não espera confirmação institucional.
As redes sociais criam sua própria verdade, com base na percepção, nos sentimentos e nas narrativas que cada um quer enxergar. A camisa vermelha foi interpretada não apenas como roupa, mas como posicionamento.
Novo retrato de comunicação
Como profissional da área, vejo nesse episódio um retrato de um novo cenário de comunicação: um ambiente em que qualquer símbolo pode ser apropriado, remixado e politizado em segundos.
A lógica da viralização não espera contexto. E é justamente aí que mora o perigo — ou a oportunidade, dependendo de como a marca lida com o fenômeno.
O futebol, por sua natureza afetiva e identitária, amplifica tudo isso.
A Seleção Brasileira, enquanto símbolo nacional, está no centro do imaginário coletivo. Por isso, toda e qualquer mudança estética precisa vir acompanhada de explicação, timing e preparo para reação em tempo real.
No fim, o Brasil não vestiu vermelho. Mas a simples possibilidade foi suficiente para acionar uma tempestade de interpretações.
O episódio fica como um estudo de caso poderoso sobre o impacto da comunicação simbólica no mundo hiperconectado.