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Parceria do Mundial de Atletismo Paralímpico com ONU contrasta com preconceito

Parceria do Mundial de Atletismo Paralímpico com ONU contrasta com preconceito Parceria do Mundial de Atletismo Paralímpico com ONU contrasta com preconceito Parceria do Mundial de Atletismo Paralímpico com ONU contrasta com preconceito Parceria do Mundial de Atletismo Paralímpico com ONU contrasta com preconceito

Dubai é um emirado de leis rígidas em que uma pessoa pode ser presa por estar bêbada e também por demonstrar atração por pessoa do mesmo sexo. É um local em que a cerimônia de abertura do Mundial de Atletismo Paralímpico mostrou homens em trajes típicos árabes dançando com réplicas de fuzil. Mas também é uma região que precisa em certos momentos fazer vista grossa à repressão porque vive essencialmente do turismo.

O Mundial está em seu início, mas já é um marco em Dubai porque pela primeira vez um evento esportivo divulga os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) – a intenção é de que todos os países implementarem essas medidas nos próximos 15 anos . O emblema com a hashtag #Forpeopleforplanet (#pelas pessoas, pelo planeta) possui 17 cores e é impossível não fazer alusão à bandeira LGBTQ. Pode ser visto na parte frontal da camisa, acima dos nomes dos atletas, e também em meio às placas de publicidade ao redor do estádio onde acontecem os jogos nos Emirados Árabes.

Sara Alsenani, primeira atleta feminina do emirado a ganhar uma medalha em Jogos Paralímpicos, comentou a importância de Dubai receber a competição. “Estou feliz que meu país esteja orgulhoso de mim e me sinto muito forte. Isso é apenas o começo. Tóquio-2020 é onde eu gostaria encerrar a carreira”, disse.

Bronze no arremesso de peso feminino F-33 no Rio-2016, ela espera que o Mundial possa ser o início de novas transformações na região. “Quebrei muitas regras e quero mostrar que os atletas paralímpicos podem fazer muitas coisas. Sinto que sou como uma inspiração para outras garotas. Quero mostrar que o atletismo ensina como definir uma meta e alcançá-la”, prosseguiu.

A atleta brasileira Verônica Hipólito elogiou a tentativa de Dubai ser mais flexível. “Acho muito legal porque Dubai é um dos grandes financeiros do mundo. Quem sabe impacta para mais países aderirem. Também mostra que o movimento paralímpico está ganhando mais força. Já que dentro de um campeonato mundial está tendo uma ação importantíssima como essa.”

Mas também questionou se a cidade conseguiria cumprir alguns desses objetivos. “Não consigo ver Dubai apoiando, por exemplo, ‘empoderar todas as meninas e mulheres’. Sei que existe a questão da religião, mas não consigo ver esse empoderamento aqui. Não conseguiria ver uma agricultura sustentável aqui”, comentou.

UM CHOPE A R$ 40 – As leis em Dubai são determinadas pelo xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum. A imagem dele pode ser vista por todos os cantos. Nas prateleiras das lojas de souvenirs, há inúmeras publicações sobre o xeque, com versões em árabe e em português. As opções vão de dicas de autoajuda até biografia (autorizada, claro).

A advogada brasileira Vanessa Franulovic vive há 12 anos em Dubai. Ela trabalha em uma incorporadora que constrói hotéis. Em entrevista ao Estado, comentou sobre a legislação nos Emirados Árabes Unidos. “Tem um código civil como no Brasil. Mas para questões em relação à família existe uma lei que se aplica só para quem é muçulmano. Nos Emirados Árabes Unidos são as mesmas leis, basicamente. Mas há especificidades em cada emirado”, contou.

Por exemplo, Dubai é uma das cidades mais abertas por causa do turismo. Mas a venda de bebida alcoólica só é permitida em bares atrelados às redes hoteleiras. “Não existe bar de rua, não se compra bebida em supermercado”, contou.

Um chope custa pelo menos R$ 40. A garrafa de vodca Absolut, vendida no hotel, sai por R$ 300 no que eles chamam de oferta especial. Os brasileiros que vivem no país costumam pedir aos amigos que visitam Dubai para trazerem bebidas alcoólicas.

PRECONCEITO – Outra questão é o preconceito com os gays. “O homossexualismo não é permitido. Não existe esse tipo de casamento. Não se pode andar de mão dada na rua nem beijar em público, porque pode a pessoa pode ser presa. Existem muitos casais gays aqui, mas não podem assumir. Eles podem morar junto, pois o Governo entende como se fossem amigos dividindo o aluguel, que é muito caro. Um homem e uma mulher morando junto precisam ser casados. E para ter filho tem que estar casado também”, explicou Vanessa.

Verônica está há uma semana em Dubai e reparou que a desigualdade social e a pobreza que é bastante camuflada em meio aos prédios imensos, às grandes avenidas e ao pequeno espaço para os pedestres. “As plantas são regadas, o asfalto é ótimo, dá para ver toda a estrutura moderna. Mas a questão é como vão adotar essas medidas?”, questionou. “Há todo o luxo, a beleza do prédio mais alto do mundo… Mas conversei aqui com um paquistanês, um indiano e um etíope. Eles contam de um lugar que todos querem esconder, de subemprego. Então acho que o Mundial é a oportunidade de Dubai aceitar que existem defeitos aqui também e tentar mudar”, finalizou.

OS 17 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ONU

1 – Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares

2 – Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável

3 – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades

4 – Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos

5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas

6 – Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos

7 – Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos

8 – Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos

9 – Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação

10 – Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles

11 – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis

12 – Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

13 – Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos

14 – Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável

15 – Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade

16 – Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis

17 – Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável