São Paulo –
Os 2,2 mil caçadores da face padrão do atentado – rosto pálido, atitude tensa, traje em desacordo com o clima, olhar fixo, gestos furtivos – ocuparam nesta sexta-feira acessos, arquibancadas, terminais de transporte coletivo, zonas de estacionamento e até áreas onde estão os bebedouros no estádio do Maracanã, no Rio; tudo isso muito antes da chegada do público, a partir das 16h30, para a cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio.
De manhã, militares e agentes civis treinados para a missão ao longo de 100 dias já faziam as primeiras inspeções. As mesmas que outras equipes haviam feito à noite e durante a madrugada. No total estimado, 3.000 homens e mulheres trabalharam de várias formas só nesse procedimento, de acordo com um oficial ligado à Secretaria Extraordinária dos Grandes Eventos (Sesge). Estavam lá infiltrados em meio à multidão e também nos pontos onde havia sensores eletrônicos de identificação facial, capazes de fornecer em segundos, com base em pontos de referência anatômica, identidades de suspeitos.
Um grupo específico, composto por pessoal local e agentes estrangeiros, ficou com a tarefa de cobrir os chefes de Estado e de governo. O secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, o presidente da França, François Hollande, e o presidente em exercício do Brasil, Michel Temer, tinham plano especial – incluindo diferentes rotas de fuga, uma delas por via aérea, com helicópteros militares.
O time formou uma rede, visualizada apenas na tela dos computadores das reservadas salas de coordenação, em que cabia a cada indivíduo uma espécie de quadrado de observação. O sistema previa esse contato direto, facilitando uma eventual ação de contenção física e, a distâncias maiores, em posições não reveladas, contava com os olhos de duplas de atiradores de elite. Os fuzis podem atingir alvos a 600 metros.
O esquema adotado nesta sexta-feira, com ajuda de serviços de inteligência de diversos governos como os de Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Israel, contemplava duas vertentes: reprimir um atentado – que, se houvesse, seria obra de um lobo solitário, o extremista independente, difícil de ser detectado – e conter manifestantes que ultrapassassem os limites da segurança.
As Forças Armadas, a Policia Federal, a Força Nacional e boa parte da Polícia Civil têm experiência acumulada em acontecimentos especiais desde os Jogos Pan-Americanos, de 2007. Entre os especialistas, entretanto, a visita do Papa Francisco, em 2013, na Jornada Mundial da Juventude, talvez tenha sido o ensaio mais próximo do cenário da solenidade de abertura dos Jogos Olímpicos.
Em intervalos regulares, os centros C4&I (Comando, Controle, Comunicações, Computadores e Inteligência) processavam boletins de situação. Às 15h30, sabia-se que, nos sete pontos do Rio onde estavam previstos atos de rua contra a Olimpíada e contra o governo, eram esperadas 10 mil pessoas – mas havia poucos manifestantes.