Abandonado, Triângulo das Bermudas deveria virar open mall estilo ‘Lincoln Road’

Quem vive em Vitória já se acostumou a falar do Triângulo das Bermudas com um certo saudosismo. O polo boêmio da Praia do Canto, batizado pelo jornalista Ronaldo Nascimento nos anos 80, já foi referência de entretenimento e vida noturna. Ali, entre as ruas Joaquim Lírio e João da Cruz, amigos se ‘perdiam’ nos mais de 30 bares e botecos e voltavam para casa só ao amanhecer – daí veio o nome.

Mas a verdade é que o Triângulo perdeu relevância. A região esvaziou, deixou de ser cartão de visita para turistas e já não entrega a experiência que Vitória merece. Estabelecimentos recentes até trouxeram um certo movimento, mas sem curadoria para elevar o padrão do lugar. Para uma capital tão charmosa quanto a nossa, ainda falta um ponto de encontro que represente a cidade.

Lincoln Road à la capixaba

Basta olhar para fora. Se Nova York tem a região do SoHo, Miami Beach tem a Lincoln Road: uma rua que se transformou em um verdadeiro open mall, com lojas, cafés, restaurantes e bares. É um espaço que funciona de manhã à noite, tanto para compras como para lazer, onde a experiência de estar na rua é parte do atrativo.

Málaga, na Espanha, transformou a Calle Larios em boulevard aberto, elegante e turístico. Em Buenos Aires, Palermo Soho virou sinônimo de lifestyle urbano. Até São Paulo tem a sua Oscar Freire como vitrine cosmopolita. Todos esses lugares têm algo em comum: entenderam que a cidade precisa oferecer espaços de convivência qualificados, e não apenas bares isolados.

Vitória poderia aprender com esses exemplos. O Triângulo tem vocação natural para ser o ‘open mall capixaba’: espaço democrático, arborizado, com mesas na rua, lojas conceito, restaurantes de qualidade e cafés que convidam à permanência. Uma vitrine para o turismo e para a economia criativa capixaba.

É preciso repensar, por exemplo, o Shopping Triângulo, integrando-o às ruas e à atmosfera boêmia. Aliás, uma saída ousada seria transformar o mall em um fundo de investimento imobiliário, capaz de profissionalizar a gestão, atrair marcas relevantes e trazer a curadoria que falta. 

Já o tradicional calçadão de bares e restaurantes, que foi revitalizado e transformado em ‘Rua do Lazer’ nos últimos anos pela prefeitura, precisa receber opções mais sofisticadas e diversificadas, que atraiam tanto capixabas quanto turistas. Nesse ponto, o empreendedor precisa de apoio e incentivo para que a região pare de cair no looping típico capixaba: abrir, bombar e, pouco tempo depois, cair no esquecimento. 

Vitória merece mais. E o Triângulo tem história, localização e identidade para ocupar esse papel. Ele pode seguir como lembrança do passado ou se transformar na Lincoln Road capixaba. A escolha é nossa.

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Ricardo Frizera

Colunista

Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 14 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa. Alcança mais de 1 milhão de pessoas por mês utilizando plataformas de mídia digitais e tradicionais.

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