Depois de atingir um patamar histórico no início do ano, o preço da saca do café conilon entrou em queda e já acumula uma desvalorização de quase 50% no Brasil. De acordo com o Cepea, a saca de 60 kg do robusta tipo 6, peneira 13 acima, que chegou a R$ 2.102,12 no dia 23 de janeiro, está sendo cotada a R$ 1.014 na segunda quinzena de julho.
Em seis meses, saca do conilon despenca de R$ 2.102 para cerca de R$ 1.014
O movimento de queda ocorre mesmo diante de estoques apertados no Brasil e no exterior. Pesquisadores do Cepea apontam que o avanço da colheita no país, aliado à oferta crescente do Vietnã, que é o maior produtor mundial de robusta, tem pressionado os preços no mercado internacional. No Espírito Santo, maior produtor brasileiro de conilon, a colheita está na fase final.
No início do ano, a valorização foi impulsionada por um cenário global de incertezas: problemas climáticos no Vietnã e na Indonésia, conflitos no Mar Vermelho que afetaram a logística asiática, além da estiagem severa que atingiu o Espírito Santo em 2024. Esse conjunto de fatores reduziu a oferta e elevou a demanda pelo café brasileiro. O estado capixaba exportou um volume recorde de 7 milhões de sacas de conilon em 2024.
Agora, o cenário mudou. E a queda nos preços surpreendeu até os mais experientes do setor. Carlos Augusto Pandolfi, superintendente geral da Cooabriel, que é a maior cooperativa de café conilon do Brasil, com mais de 8 mil cooperados, acredita que o recuo foi mais intenso do que o esperado.
“Entramos na safra de 2025 com a expectativa de que o preço se mantivesse em um patamar mais alto. Uma queda era esperada, sim, mas não tão acentuada. A safra de conilon é boa, mas não é uma supersafra. E os estoques mundiais continuam baixos”, pondera.
Segundo ele, o forte aumento no preço no ano passado foi justificado pela valorização do conilon no mercado, que passou a integrar de forma significativa blends de grandes marcas de café.
“O produtor fez a lição de casa, entregou qualidade. O conilon passou a representar até 80% da composição em algumas marcas. Isso atraiu as indústrias e valorizou o nosso café. Foi justo”, destaca Pandolfi.
Ele ressalta que, embora o produtor esteja colhendo uma boa safra, não há justificativa técnica para uma queda tão intensa nos preços. “Pode haver outros movimentos de mercado acontecendo, não diretamente ligados à produção”, afirma.
Além disso, Pandolfi alerta para os riscos que os preços instáveis trazem para toda a cadeia do café, inclusive no consumo final.
Impactos da queda do preço do café conilon
“Preço alto demais pode afastar o consumidor. Se ele substituir o café por outro produto e gostar, talvez não volte. É um risco real. O desafio é garantir preços que remunerem bem o produtor, mas que não comprometam o consumo”, analisa.
A Cooabriel reforça que acompanha o mercado internacional, mas não tem influência sobre a formação de preços, que é determinada por bolsas como a de Londres, no caso do conilon.
“Alguns acham que as cooperativas fazem preço, mas não é assim. Estamos todos sujeitos ao mercado. O que queremos é estabilidade e perenidade. Trabalhamos para que o produtor continue tendo renda, fazendo o que ele sabe fazer de melhor: produzir bons cafés”, conclui.
Leia também: