O Brasil exportou 3,144 milhões de sacas de 60 kg de café em agosto de 2025, uma queda de 17,5% em relação aos 3,813 milhões embarcados no mesmo mês do ano passado. Apesar da retração no volume, a receita cambial avançou 12,7%, somando US$ 1,101 bilhão. Os dados são do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Menor disponibilidade do produto e tarifaço dos EUA impactam desempenho
Segundo a entidade, a menor disponibilidade do produto e o tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos impactaram diretamente o desempenho. Pela primeira vez em anos, a Alemanha ultrapassou os EUA e assumiu a liderança como principal destino do café brasileiro.
O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, explica que a queda já era esperada, uma vez que o país vinha de exportações recordes em 2024 e enfrentou uma safra aquém do potencial.
“Os EUA deixaram de ser os maiores compradores de nosso café em agosto, descendo para o segundo lugar, com 301 mil sacas importadas – de negócios realizados antes da vigência do tarifaço –, o que implicou queda de 46% ante o mesmo mês de 2024 e de 26% contra julho deste ano. Assim, os americanos ficaram atrás da Alemanha, que importou 414 mil sacas no mês passado”, revela.
Ferreira destaca que a medida também trouxe volatilidade ao mercado internacional.
“Os fundamentos já são favoráveis para a alta há algumas safras, com oferta e demanda muito ajustadas ou mesmo com déficit de oferta, devido a adversidades climáticas nos principais produtores, em especial no Brasil, mas o tarifaço desordenou o mercado e deu abertura para movimentos especulativos”, explica.
Se a tarifa permanecer, alerta Ferreira, as exportações brasileiras aos EUA tendem a seguir inviáveis, enquanto os consumidores americanos enfrentarão preços mais altos.
“Se o tarifaço persistir, além de as exportações de café do Brasil seguirem inviáveis aos EUA, os consumidores americanos também enfrentarão preços onerosos para degustar sua bebida favorita, uma vez que não há oferta de outros países para suprir a ausência brasileira no mercado dos Estados Unidos, criando-se, assim, um cenário inflacionário por lá”, projeta.
Ele completa que, de 7 de agosto, quando entrou em vigência a taxação, até o fechamento do mês passado, o café arábica subiu 29,7% na bolsa de Nova York, saindo de US$ 2,978 por libra-peso para US$ 3,861.
Acumulado do ano
No acumulado de janeiro a agosto de 2025, o Brasil exportou 25,323 milhões de sacas, retração de 20,9% frente ao mesmo período de 2024. A receita, no entanto, atingiu um recorde histórico de US$ 9,668 bilhões, impulsionada pelas cotações internacionais.
“O cenário, tanto em agosto, quanto no acumulado do ano, não é tão distinto, com a queda no volume já esperada, pela menor oferta após os embarques recordes em 2024, bem como maiores ingressos de divisas ao caixa do Brasil devido a maiores cotações internacionais, impulsionados pelo equilíbrio entre oferta e demanda há anos e, agora, potencializados pelo tarifaço”, explica.
Principais destinos
Apesar da queda ao segundo lugar em agosto, os Estados Unidos seguem como principais compradores no acumulado do ano, com 4,028 milhões de sacas (15,9% do total), volume 20,8% inferior ao de 2024. Em seguida aparecem: Alemanha (3,071 milhões de sacas, -32,9%), Itália (1,981 milhão, -23,6%), Japão (1,671 milhão, +15,6%) e Bélgica (1,517 milhão, -48,3%).
Tipos de café
De janeiro a agosto, o arábica respondeu por 79,8% das exportações, com 20,209 milhões de sacas (-13%). O canéfora (conilon + robusta) somou 2,570 milhões de sacas (10,1% do total), o café solúvel 2,508 milhões (9,9%) e o segmento industrial (torrado e moído) 36,7 mil sacas (0,1%).
Cafés diferenciados
As exportações de cafés com certificado de sustentabilidade ou qualidade superior totalizaram 5,1 milhões de sacas no período, o equivalente a 20,1% dos embarques totais. O volume caiu 9,3% na comparação anual, mas a receita cambial avançou 54,2%, alcançando US$ 2,178 bilhões, com preço médio de US$ 427,05 por saca.
Os Estados Unidos lideram as compras desse segmento, com 893,6 mil sacas (17,5% do total). Na sequência vêm Alemanha (656,6 mil; 12,9%), Bélgica (579,9 mil; 11,4%), Holanda (428,5 mil; 8,4%) e Itália (332,7 mil; 6,5%).