Bikes elétricas são o futuro da mobilidade de curtas distâncias; cidades capixabas precisam se organizar

As bicicletas elétricas se espalharam pela Grande Vitória com uma velocidade impressionante. Hoje, estima-se que mais de 10 mil bikes elétricas circulem no Espírito Santo, segundo a Aliança Bike. Elas viraram solução de mobilidade para milhares de pessoas e, ao mesmo tempo, escancararam um ponto sensível: nossas cidades não estão preparadas.

O resultado está nas manchetes: acidentes, conflitos no trânsito, insegurança, roubos. Mas transformar esse fenômeno em uma guerra contra as bikes é mirar no alvo errado. Elas não são o problema. Elas são o futuro. E o que falta é exatamente o que move cidades desenvolvidas do mundo: planejamento e adaptação da infraestrutura para um novo modal que já chegou.

A demanda já chegou. A infraestrutura não.

Em qualquer cidade desenvolvida do mundo, a lógica da mobilidade é simples: carro não pode ser o principal modal para deslocamentos curtos. E não é por ideologia, é por eficiência.

Copenhague, por exemplo, tem mais bicicletas do que habitantes. Amsterdã realiza 38% dos deslocamentos urbanos de bike. Paris abriu 1.000 quilômetros de ciclovias nos últimos anos e viu o uso das bicicletas triplicar. Nova York conectou distritos inteiros com ciclovias protegidas, integrando as bikes ao metrô e aos ônibus.

Essas cidades entenderam algo básico: para trajetos de até 5 quilômetros, bicicleta (elétrica ou não) é o meio mais rápido, barato e sustentável. Diminui trânsito, reduz emissões, ocupa menos espaço, melhora a saúde pública – e custa infinitamente menos do que ampliar vias para carros.

A Grande Vitória tem uma das melhores malhas cicloviárias proporcionais do Brasil, é verdade – mas está longe de ser suficiente. As bikes elétricas mudaram a escala do problema: as cidades capixabas ganharam uma nova massa de usuários, mas não ganhou novas estruturas para absorvê-los.

O que vemos hoje é um vácuo regulatório e urbanístico: ciclovias desconectadas; trechos sem proteção; calçadas estreitas ocupadas indevidamente; ausência de regras claras para circulação e estacionamento; insegurança para quem pedala e para quem anda a pé. E, naturalmente, a ausência de estrutura gera conflitos. Não é porque a bike elétrica é perigosa, é porque a cidade ainda está desenhada para o carro.

Há quem defenda restringir ou até proibir as bikes elétricas em determinados trechos. Mas isso seria caminhar para trás. A experiência global mostra o contrário: quando se integra, sinaliza e organiza, a bike elétrica vira aliada, e não uma ameaça.

Os caminhos concretos passam por padronizar regras de velocidade e circulação (como dezenas de cidades europeias já fizeram); expandir ciclovias, principalmente em eixos de alta demanda; criar rotas contínuas entre Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica, como corredores metropolitanos de mobilidade ativa; investir em iluminação, câmeras e policiamento; e integrar bikes elétricas ao transporte público, com bicicletários seguros próximos a terminais.

Afinal, regular não significa restringir. Significa permitir que funcione. A pergunta que deve ser feita não é “como tirar as bikes das ruas?”, mas sim “como fazer com que elas funcionem bem (e com segurança) para todos?”.

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Ricardo Frizera

Colunista

Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 14 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa. Alcança mais de 1 milhão de pessoas por mês utilizando plataformas de mídia digitais e tradicionais.

Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 14 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa. Alcança mais de 1 milhão de pessoas por mês utilizando plataformas de mídia digitais e tradicionais.