
O Espírito Santo voltou ao centro das atenções no Coffee of The Year (COY) 2025, principal concurso de cafés especiais do país. O estado garantiu 11 das 15 primeiras colocações nas categorias Canéfora e Arábica, confirmando seu desempenho consistente na produção de cafés de excelência. Entre os premiados, uma cena chamou a atenção: pai e filha, produtores de Santa Teresa, dividiram o pódio na categoria Canéfora com cafés cultivados na mesma propriedade.
A produtora Carolinna Bridi Gomes conquistou o primeiro lugar, enquanto o pai, Luis Carlos da Silva Gomes, ficou em terceiro. Os dois representam a Fazenda São Bento, onde três gerações da família já passaram pelo manejo das lavouras.
Um prêmio que nasce do trabalho conjunto
Carolinna destaca que o resultado não pertence a uma pessoa, mas a um projeto familiar. “Esse resultado representa o reconhecimento de um trabalho de toda a família”, afirma. Além dela e do pai, participam da gestão a mãe, Maria Rosalina, responsável pelos custos e pela rotina da fazenda, e a irmã, Camilla, que atua no desenvolvimento do negócio.
Luis Carlos lembra que começou a trabalhar com conilon especial quando o mercado ainda não mostrava interesse. “A satisfação é imensurável. Lá no início, quando da decisão de enveredar no caminho dos conilons especiais, fiz por minha conta e risco. O mercado desconhecia o produto, portanto, não sabia onde desembocaria aquele trabalho. Vendo o momento atual dos cafés canéforas, percebemos que tudo aquilo era um sonho realizável. Realizamos, portanto. Estar junto com a minha filha no pódio foi – e está sendo – uma alegria que não cabe.”
O café vencedor é resultado de um processo que combina manejo criterioso e abertura para novas técnicas. Segundo Carolinna, a fazenda trabalha com fermentação controlada para buscar perfis sensoriais mais marcantes. A produção gira em torno de 1.200 sacas por ano e adota práticas como escolha criteriosa de variedades, adubação com base em análises técnicas e colheita no ponto ideal de maturação.
O diferencial está no pós-colheita. A família utiliza métodos como secagem natural, cereja descascado, processos via úmida e fermentações específicas. “O pós-colheita é decisivo. Testamos diferentes estratégias para entender o comportamento de cada lote”, completa.
A ligação de Carolinna com a propriedade vem da infância, quando passava as férias entre as lavouras dos avós. Há cerca de uma década, ela assumiu parte da gestão, trazendo um olhar voltado à sustentabilidade e ao reflorestamento.
“Aprendi com meu pai a importância da dedicação em cada etapa. Minha contribuição tem sido integrar as lavouras a práticas de conservação e a um modelo mais resiliente às mudanças climáticas”, afirma.
Luis Carlos acredita que a chegada das filhas ao negócio transformou a fazenda. “Produzir café mudou, e elas me ajudaram a enxergar isso. Trouxeram leveza, novas ideias e coragem para modernizar o nosso trabalho”, diz.