Valquíria Andrade Amorim, produtora de cafés especiais em Irupi, no Caparaó Capixaba
Valquíria Andrade Amorim, produtora de cafés especiais em Irupi, no Caparaó Capixaba

A cafeicultura capixaba vive um momento de transformação. Essa mudança tem rosto, história e muita força feminina. No Espírito Santo, o projeto Mulheres do Café vem ampliando a participação das produtoras dentro da porteira, estimulando a produção de cafés especiais e promovendo autonomia e visibilidade para quem sempre esteve presente.

É cedo que o dia começa na casa de Valquíria Andrade Amorim, em Irupi, no Caparaó Capixaba. Da cozinha até a lavoura, são cerca de 10 minutos de caminhada. De botina e vestido, um estilo que já virou marca registrada, ela segue firme rumo aos pés de café que cultiva com dedicação e propósito.

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Mulheres do Café: conheça a iniciativa que fortalece produtoras de cafés especiais 

Valquíria conta que trabalha na lavoura do seu próprio jeito: prefere usar vestido, botina e chapéu, mesmo que a maioria das pessoas opte por boné. Ela destaca que produz café especial, algo ainda novo no município, e que faz questão de manter esse estilo de cultivo.

Entre as plantas, prepara sempre um cafezinho fresco, um ritual que a conecta às próprias lembranças. Foi ali, no mesmo sítio onde cresceu, que decidiu o nome da sua marca, o Café das Águas. Quando era criança, via o pai trabalhar com café usando agrotóxicos e observava quando ele lavava a bomba e deixava a água escorrer pelo quintal. Ainda criança, olhando para o céu, prometeu para si mesma que, quando crescesse, seria cientista e produziria um café que não poluísse as águas, promessa que hoje cumpre na prática.

Sétima geração de uma família de cafeicultores, Valquíria deixou o interior para estudar. Formou-se em Farmácia, fez mestrado e doutorado em Biotecnologia do Agronegócio, trabalhou como farmacêutica e professora. Mas algo ainda faltava.

“Quando terminei o doutorado, não estava feliz em Vitória. Voltei com minhas crianças para o interior sem pensar em mexer com café. Fiquei observando meu pai na lida, e nesse período o meu avô fez a doação do sítio, e depois meu pai também”, conta.

O retorno ao campo reacendeu a missão de infância. Com conhecimento técnico, ela buscou um café especial verdadeiramente saudável. “Comecei a usar meus conhecimentos de Farmácia para fazer um café com biosanidade, com um método simples e de baixo investimento. Nesse caminho consegui um café encorpado e diferente”, explica.

A história de Valquíria se une à de mais de 800 mulheres que fazem parte do projeto Mulheres do Café. Para ela, a iniciativa vai muito além da técnica: “É mais do que aprender sobre café especial. É conexão, envolvimento, encontro. Isso empolga, estimula, faz a gente querer fazer melhor. Somos uma região tão rica no Caparaó”, descreveu a produtora rural Walkiria Andrade Amorim.

O projeto integra o Inovagro, programa da Secretaria da Agricultura (Seag) com apoio da FAPES e do Incaper, voltado à inovação, sustentabilidade e pesquisa no campo capixaba.

Segundo Patrícia Ferraz, gerente de programas e projetos sustentáveis da SEAG, a ação é essencial para corrigir uma invisibilidade histórica. “O trabalho das mulheres sempre esteve no processo produtivo, mas raramente é lembrado. Muitas vezes é visto como ajuda, como algo de menor valor. O Inovagro vem trazer essa visibilidade e mostrar a importância dessas produtoras rurais”, destaca.

A extensionista do Incaper e coordenadora do projeto, Patrícia da Matta, explica que a iniciativa nasceu em 2024 para mostrar o potencial feminino na cafeicultura.

“Nosso objetivo é valorizar, empoderar e dar visibilidade ao trabalho das mulheres. Temos ações que incluem cursos, palestras, dias de campo, além de dois grandes encontros que reuniram mais de 300 participantes. Também trabalhamos o turismo rural, a comercialização e a melhoria da qualidade. Queremos que todas produzam cafés especiais”, afirma.

O Espírito Santo possui mais de 108 mil estabelecimentos agropecuários, e 14 mil deles são dirigidos por mulheres. O café está presente em quase 70% dessas propriedades, um dado que reforça a importância de políticas voltadas para esse público.

Para Patrícia Ferraz, o momento é de expansão: “Percebemos que o Incaper atendia muitas cafeicultoras, então decidimos criar um projeto específico. A cafeicultura capixaba é uma das maiores forças da nossa agricultura e, com a ascensão dos cafés especiais, muitas produtoras estão ganhando destaque. O projeto aproxima essas mulheres das novas tecnologias e oportunidades”.

Ao longo do ano, o “Mulheres do Café” realiza cursos, oficinas, palestras, reuniões e dias de campo que abordam todas as etapas da produção de cafés especiais – da adubação à colheita, passando por pós-colheita, análise sensorial, torra e classificação dos grãos.

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Stefany Sampaio
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Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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