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Você já imaginou controlar a irrigação de uma lavoura de cana-de-açúcar pelo celular? Em Linhares, no norte do Espírito Santo, isso já é possível. Em uma das maiores usinas do estado, na Lasa Bioenergia, estão sendo realizados investimentos em tecnologia, mecanização e automação que estão transformando a rotina no campo e trazendo resultados expressivos em produtividade e sustentabilidade.

Nos últimos três anos, a usina investiu mais de R$ 30 milhões em novas tecnologias e automação. De acordo com o superintendente executivo da Lasa Bioenergia, Rafael Soares, boa parte dos recursos foi direcionada à modernização das máquinas e ao aprimoramento do sistema de irrigação.

“A Lasa sempre investiu muito, ao longo de mais de 40 anos de história. Nos últimos anos, mais precisamente, em máquinas e equipamentos, tratores, colhedoras e plantadeiras, investimos aproximadamente 15 milhões de reais. Também fizemos grandes investimentos na parte de irrigação, totalizando até hoje cerca de 16 milhões de reais, com mais 6 milhões previstos para serem aplicados ainda este ano”,destacou.

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Com irrigação inteligente, usina aposta em automação para modernizar o campo e reduzir custos

Entre as fileiras da lavoura, a mecanização tomou conta. Tudo é planejado para ganhar tempo e eficiência. O coordenador de Oficina e Logística da Lasa, Jessé Domingos Souza, explica que o processo começou por necessidade.

“Com o tempo, fomos percebendo a falta de mão de obra na região. Com isso, tivemos que realmente mecanizar para garantir a produtividade e continuar entregando aos nossos clientes”, explica Jessé.

A irrigação recebeu um reforço tecnológico de peso. O sistema por carretel autopropelido é capaz de aplicar vinhaça, fertilizantes e água de forma automatizada. Tudo isso utilizando energia elétrica gerada pela própria usina, a partir do bagaço da cana, um exemplo prático de economia circular.

O coordenador de irrigação, drenagem e nutrição, Alecschandro Charlhys, explica o funcionamento: “O nosso sistema é movido por uma bomba elétrica. Toda a energia usada na irrigação e para manter a usina em operação é produzida aqui mesmo. O bagaço da cana, resíduo da moagem, é levado à caldeira, que gera vapor. Esse vapor gira a turbina e produz energia limpa e sustentável para toda a fábrica e também para os equipamentos de irrigação. É o equivalente a eletrificar uma cidade do tamanho de Linhares com a energia que a gente gera aqui.”

O sistema foi adaptado dentro da própria fazenda para atender à demanda da produção. O funcionamento é simples e eficiente, o carretel se locomove sozinho, simulando a chuva sobre as plantações.

“É um sistema autopropelido, ou seja, ele se movimenta e recolhe a mangueira sozinho. A pressão no carretel faz todo o processo de recolhimento automático. O sistema de irrigação por carretel já existe no Brasil, mas a automação que inserimos aqui é referência. Tivemos, inclusive, um evento há alguns meses com a participação de 11 usinas, que vieram conhecer essa evolução tecnológica”, destaca Alecschandro.

Na central de irrigação, o controle é total. Por meio de telas e softwares, a equipe monitora a operação em tempo real, da pressão da bomba à velocidade de recolhimento da mangueira.

“A partir da central, a gente controla tudo: aciona e desliga equipamentos, monitora a corrente elétrica, a pressão das eletrobombas e a velocidade dos carretéis. O sistema mostra até o ponto exato onde cada equipamento está no campo, graças ao georreferenciamento. E tudo isso também pode ser acessado pelo smartphone. Mesmo fora da usina, consigo acompanhar em tempo real o que está acontecendo e tomar decisões rápidas diante de qualquer imprevisto”, afirma.

Os resultados aparecem no campo: nas áreas irrigadas, a produtividade triplicou, e o tempo de vida útil do canavial aumentou de quatro para dez anos. “Há dois anos, produzimos 425 mil toneladas de cana. Este ano, devemos alcançar 500 mil, e para o ano que vem, a previsão é chegar a 550 mil toneladas”, destaca Rafael Soares.

A mecanização também chegou à colheita. Onde antes dezenas de trabalhadores atuavam manualmente, agora máquinas modernas realizam o corte com precisão, segurança e padronização.

“A tendência para o futuro é o georreferenciamento total, com o uso de GPS nos equipamentos, até chegarmos à autonomia das máquinas. Isso vai permitir que fatores climáticos deixem de interferir na colheita, além de aumentar a produtividade e evitar o pisoteamento da cana, que compromete o solo”, explica Jessé.

A Lasa também se destaca pelo compromisso ambiental. Segundo Rafael Soares, todo o ciclo produtivo é planejado para gerar o mínimo de impacto possível e reaproveitar 100% dos resíduos.

“Nossa preocupação com o meio ambiente é muito grande. Os dois principais rejeitos, a vinhaça e a fuligem da caldeira, voltam para o campo como adubo. A vinhaça é rica em potássio, e a fuligem também tem alto valor nutricional. Assim, tudo é reaproveitado e retorna ao solo.”

Hoje, a Lasa conta com 750 funcionários próprios e 70 terceirizados. A empresa produz cerca de 40 milhões de litros de etanol por ano e ocupa 15 mil hectares, sendo quase 5 mil em áreas de preservação permanente e reserva legal, com 600 hectares de espelhos d’água que abrigam diversas nascentes protegidas.

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