
De aposta bilionária a caso de recuperação judicial, a trajetória da norueguesa Seacrest Petróleo no Espírito Santo envolve aquisições milionárias, planos de expansão interrompidos e disputas judiciais em torno de contratos e financiamentos. A companhia iniciou suas operações no Estado em 2020, quando adquiriu da Petrobras os campos do Polo Cricaré, em São Mateus. Dois anos depois, expandiu o negócio com a compra dos campos do Polo Norte Capixaba.
À época, a empresa anunciou um programa para perfuração de 300 poços, com o objetivo de triplicar a produção no norte capixaba em cidades como Linhares, Jaguaré, São Mateus e Conceição da Barra. O projeto, porém, não se concretizou. Hoje, a empresa acumula R$ 3,3 bilhões em dívidas, está em recuperação judicial e teve o controle transferido a credores internacionais.
Disputas recentes ampliam a crise
Além da perda do controle acionário, a Seacrest passou a responder a questionamentos sobre operações financeiras realizadas durante a recuperação judicial. Um financiamento emergencial de US$ 21 milhões foi contestado, em julho deste ano, pelo banco americano Houlihan Lokey, credor da companhia, que alega que os juros de 25% ao ano e as garantias oferecidas superam o valor do empréstimo.
O caso reforçou as incertezas em torno da governança da empresa e ampliou a disputa entre bancos, fundos de investimento e a Petrobras, que cobra cerca de US$ 70 milhões em parcelas atrasadas pela venda dos polos Cricaré e Norte Capixaba.
A norueguesa permanece em recuperação judicial, e o futuro da companhia no Espírito Santo depende do andamento do processo de reestruturação e das definições sobre quem ficará responsável pela operação dos ativos no norte capixaba.
Linha do tempo e fatos-chave
2019 – Fundação da Seacrest, com sede nas Bermudas
2020-2022 – Aquisição do Polo Cricaré, com 27 campos terrestres em São Mateus; e do Polo Norte Capixaba, ampliando operações onshore no norte capixaba.
2023 – IPO em Oslo levanta cerca de US$ 260 milhões em fevereiro; plano de expansão prevê perfuração de 300 novos poços e triplicar a produção até 2025.
2023 – Início do programa de perfuração no ES, que não alcança os resultados esperados devido a custos elevados, preço do petróleo em queda e problemas operacionais, segundo a companhia.
Janeiro de 2025 – Credores executam garantias da dívida de US$ 300 milhões e assumem o controle da companhia. O CEO José Cotello deixa o cargo.
Fevereiro de 2025 – Pedido de recuperação judicial no TJ-SP, com endividamento declarado de R$ 3,3 bilhões.
Julho de 2025 – Financiamento emergencial de US$ 21 milhões junto ao Itaú é questionado pelo banco americano Houlihan Lokey, que alega juros de 25% ao ano e garantias superiores ao valor do empréstimo.