
A desindustrialização e a primarização da economia brasileira volta e meia entram no radar das preocupações. De fato, tem crescido a participação de produtos primários e semielaborados na pauta de exportações brasileiras, produtos mais sujeitos às oscilações de demanda e com preços flexíveis – “flex price”. E, no sentido inverso, tem evoluído importações de produtos manufaturados, com preços menos flexíveis. Esse fenômeno pode afetar os termos de troca entre países.
A persistência desse fenômeno explica, em grande medida, algumas armadilhas das quais o Brasil tem encontrado dificuldades em desarmá-las. São elas a armadilha da renda média, que decorre da baixa produtividade, e da baixa complexidade econômica. Ambas dificultam a agregação de valor e o incremento da renda real internamente. Diferentemente do Brasil, a Coreia do Sul desarma essas duas armadilhas. E isso com intenso esforço na educação e desenvolvimento tecnológico.
A expressão termos de troca foi muito utilizada nas décadas de cinquenta e sessenta, sobretudo, pela escola do pensamento cepalino, da Cepal – Centro de Estudos para a América Latina, órgão da ONU, para explicar as razões do subdesenvolvimento das chamadas economias periféricas, dentre as quais a brasileira.
A tese defendida era de que o descompasso crescente entre os preços das exportações, com predominância de produtos primários e semielaborados, e importações de produtos mais elaborados por parte desses países acabava criando barreiras ao crescimento interno do PIB e da renda real.
O que temos observado é que nos últimos 20 anos essa relação entre preços médio das exportações e das importações, grosso modo, tem caído no Brasil, Espírito Santo e em Santa Catarina. Preço da tonelada exportada em relação ao preço médio de importação pelo Brasil tem caído de 39% para 29%. No caso do Espírito Santo, de 22% para 18%. E Santa Catarina, de 181% para 65%.
A pauta de exportação do Espírito Santo tem na sua composição 54% dos chamados produtos básicos, considerados também de primários, 18% de semimanufaturados e 28% de manufaturados. Ou seja, 72% composta por produtos primários e semielaborados.
Isso não minimiza a importância e o papel das commodities e semielaborados na pauta de exportações. Ao contrário, reforça a avaliação de que o país e especificamente o Espírito Santo contam com um vasto potencial e fatores externos favoráveis capazes de impulsionar avanços em diversificação e complexidade econômica. É perfeitamente possível avançar-se mantendo-se o legado que nos tem trazido até aqui.
E é nessa direção que aponta o Plano de Desenvolvimento ES 500 anos, para os próximos 10 anos, ao eleger como missões estratégicas a diversificação, produtividade e complexidade econômica, e a transformação do Espírito Santo em Polo de Competências. Esta última focada na formação do capital humano, na ciência e no desenvolvimento tecnológico.