A produção brasileira de café em 2025 está estimada em 55,7 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O volume é 2,7% maior que o da safra anterior e tem como principal destaque o café conilon (Coffea canephora), cuja produtividade média deve atingir 50,4 sacas por hectare, um crescimento expressivo de 28,3%.
Com isso, a produção nacional do conilon deve alcançar 18,7 milhões de sacas, o maior volume da série histórica. Já o arábica, mais afetado pela bienalidade, deve registrar queda de 6,6%, com 37 milhões de sacas.
No Espírito Santo, que concentra a maior área de conilon do país, 286,7 mil hectares, a estimativa é de uma colheita de 13,1 milhões de sacas, alta de 33,1% em relação ao ano passado, quando foram produzidas quase 10 milhões de sacas. A produtividade média estadual deve alcançar 50,7 sacas por hectare, resultado 35,5% superior ao ciclo anterior.
Os números confirmam a tendência de crescimento observada nos últimos anos. Entre 2016 e 2023, a produtividade do conilon no Brasil passou de 18,8 sacas/ha para 41,7 sacas/ha, um salto de 135,6% em oito anos. No Espírito Santo, a maior safra registrada até então havia sido em 2022, com 12,4 milhões de sacas, volume que deve ser superado neste ano.
O IBGE também aponta um desempenho robusto da safra 2025: a produção capixaba de café conilon deve ser de aproximadamente 808,9 mil toneladas, o que equivale a 13,48 milhões de sacas. Para o arábica, a projeção é de 189,4 mil toneladas, ou 3,16 milhões de sacas.
Manejo e desafios na produção de café conilon
Apesar do cenário favorável, o engenheiro agrônomo Alex Campanharo, técnico da Fazenda Experimental da Ufes em São Mateus e doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, alerta que a alta produtividade só é alcançada quando há manejo correto.
“Quem erra menos, ganha mais. As informações técnicas existem e podem ser aplicadas com tranquilidade. O que atrapalha é a desinformação, que leva o produtor a cometer erros de manejo e perder produtividade”, afirma.
Campanharo explica que muitos cafeicultores confundem a bienalidade com limitações da própria planta, mas, no caso do conilon, a irregularidade de safra ocorre por falhas no manejo.
A bienalidade do café é a alternância natural de um ano de alta produção de frutos seguida por um ano de baixa produção na mesma planta, especialmente na variedade arábica. Esse ciclo ocorre porque a planta utiliza a maior parte da sua energia para frutificar intensamente em um ano, e no ano seguinte precisa de um período de recuperação para recompor sua estrutura vegetativa e armazenar nutrientes, resultando em uma safra menor.
“O que se faz de estrutura vegetativa em um ciclo é o que se colhe no seguinte. Se o produtor não se atenta a isso, ele tem um resultado excelente em um ano e ruim no outro. A chamada bienalidade do conilon é fruto de manejo inadequado, não da planta”, pontua.
Para ele, o Brasil se destaca em relação a outros países produtores de robusta pela tecnificação das lavouras, com uso de clones (genótipos) geneticamente superiores, planejamento de espaçamento, irrigação e maior atenção ao pós-colheita, que tem elevado também a qualidade da bebida.
Avanços nas cultivares de café conilon
Outro ponto destacado pelo especialista é a evolução das cultivares de conilon desenvolvidas no Brasil. Pesquisas realizadas por instituições como Ufes, Incaper e Embrapa possibilitaram a criação de materiais genéticos adaptados a diferentes condições de solo, altitude e clima. Isso garante ao produtor mais segurança na hora do plantio, já que é possível escolher clones precoces, médios ou tardios, adequados para cada realidade produtiva. “Hoje nós temos cultivares direcionadas para cada situação. Essa adaptabilidade é uma das grandes vantagens do conilon, que consegue expressar alto potencial produtivo em diferentes ambientes”, explica Campanharo.
Campanharo lembra, porém, que é preciso olhar além dos números de produtividade.
“Nem sempre alta produtividade significa alta rentabilidade. É fundamental o produtor conhecer seus custos, planejar desde o espaçamento até o ponto ideal da colheita. Colher grãos mais maduros garante maior rendimento e reflete diretamente na lucratividade da lavoura”, explica.
O especialista também destaca os principais gargalos que podem limitar a produção, como doenças (fusariose), pragas visíveis (cochonilha e lagarta da roseta) e problemas ocultos, como nematóides e impedimentos químicos e físicos do solo.
Segundo ele, investir em assistência técnica é o caminho para consolidar os bons resultados. “O produtor, muitas vezes, coloca ali o dinheiro de toda a vida, mas não sabe exatamente o que está fazendo. Informação e acompanhamento técnico nunca são gastos, e sim investimentos necessários para o sucesso”, conclui.
Campanharo apresentará a palestra “Café conilon – Manejo para alta produtividade” no dia 29 de agosto, durante o evento Empório Pimentas & Cafés, em São Mateus.