Espírito Santo busca soluções para minimizar impacto de tarifas dos EUA; café e outros produtos do agro podem ser isentos

Vai entrar em vigor nesta sexta-feira (1º) a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. A medida afeta diretamente o Espírito Santo, especialmente o agronegócio e o setor de rochas ornamentais, uma vez que os EUA são o principal destino das exportações capixabas. A expectativa é de prejuízos milionários para os exportadores.

Produtos como café, gengibre, pimenta-do-reino, pescados e café solúvel estão entre os mais afetados. Mesmo com território pequeno, o agronegócio capixaba exporta para 125 países, sendo os EUA responsáveis por cerca de 20% das exportações do setor.

No ano passado, o Espírito Santo exportou mais de US$ 800 milhões só para os EUA. De janeiro a maio deste ano, o valor já alcança US$ 253,4 milhões. No total, em 2024, o estado exportou aproximadamente US$ 3,6 bilhões, sendo o agro responsável por grande parte desse montante.

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Apesar do cenário desafiador, uma possível exceção pode beneficiar o Brasil. O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou em entrevista à CNBC International que a Casa Branca estuda isentar de tarifas produtos que os EUA não produzem. Ele citou explicitamente o café, além de cacau, manga e abacaxi, como potenciais isentos.

Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), um terço de todo o café consumido nos EUA vem do Brasil. Não há substituto em volume. Jorge Nicchio, vice-presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), afirmou que “mesmo que a tarifa seja mantida, os Estados Unidos deverão continuar comprando café brasileiro, mas em menor volume”.

Gengibre e pescados sob risco

O gengibre é outro produto fortemente impactado. Em 2023, os EUA compraram mais de US$ 14,7 milhões do produto capixaba, absorvendo cerca de 30% das exportações. “A tarifa compromete diretamente 3.500 famílias produtoras em Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina e Domingos Martins”, afirmou o exportador Rafael Cola.

O estado é o maior produtor e exportador de gengibre do Brasil, com 66 mil toneladas por ano. A produção se concentra em oito municípios, sendo Santa Leopoldina (40,72%), Santa Maria de Jetibá (35,93%) e Domingos Martins (18,59%) os principais polos, segundo o Anuário do Agronegócio Capixaba. No setor de pescados, o impacto também é grande.

Governo do ES cria comitê de crise

Diante do impacto, o Governo do Espírito Santo criou um comitê de crise para enfrentar os efeitos do tarifaço. As primeiras reuniões aconteceram nesta semana, com a participação de representantes dos setores mais afetados, incluindo café, gengibre, pescados, pimenta-do-reino, frutas, macadâmia e ovos.

Uma das principais preocupações levantadas foi com os pequenos produtores e a economia familiar. Nesse sentido, ações de apoio envolvendo crédito e renegociação de dívidas serão discutidas em articulação com a Secretaria de Agricultura (Seag).

No mesmo dia, o comitê discutiu os impactos no setor de rochas ornamentais, já que mais de 65% das exportações capixabas do segmento vão para os Estados Unidos. Municípios como Cachoeiro de Itapemirim, Nova Venécia e Serra estão entre os mais afetados.

Representantes do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV) participaram da reunião do comitê criado pelo Governo do Estado para discutir os impactos da nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros.

De acordo com o vice-presidente da entidade, Jorge Nicchio, todos os embarques de café previstos para julho foram realizados normalmente, sem pedidos de cancelamento ou postergação. No entanto, o setor enfrenta agora uma forte paralisação nas negociações futuras.

“Os embarques de julho ocorreram como previsto, mas desde o anúncio da tarifa de 50%, não se negocia mais café com os Estados Unidos”, afirmou Nicchio. Segundo ele, as vendas realizadas diariamente para embarques nos meses seguintes — agosto, setembro e outubro — foram suspensas.

O Brasil é o maior fornecedor de café para os Estados Unidos, que são também o maior consumidor mundial do produto, com demanda de cerca de 24 milhões de sacas ao ano. Deste total, mais de 8 milhões foram embarcadas pelo Brasil em 2024, sendo aproximadamente 20% com origem no Espírito Santo.

“Mesmo com a tarifa, os EUA vão continuar comprando café, mas em volume bem menor. Eles não têm de onde substituir esse fornecimento. O problema é que, com a paralisação das vendas, o setor já busca redirecionar os embarques para a Europa e Ásia, o que pode gerar concentração de mercado e pressionar os preços para baixo”, explicou.

Segundo o vice-presidente do CCCV, a expectativa é que o mercado europeu, ao perceber o aumento da oferta brasileira, force negociações com preços menores, gerando perdas para os exportadores. “Estamos falando de uma média de 700 mil sacas por mês que deixarão de ser negociadas com os EUA. Essa mudança pode impactar o equilíbrio de preços globais”, alertou.

Apesar das dificuldades, há um movimento dentro dos Estados Unidos para tentar reverter a tarifa sobre o café. De acordo com Nicchio, a National Coffee Association (NCA), entidade que representa o setor no país, está pressionando o governo norte-americano para revisar a medida, com o argumento de que a tarifa é inflacionária e desestimula o consumo de um produto que não é produzido internamente.

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Stefany Sampaio
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Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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