Espírito Santo deixa de embarcar 42,5 mil sacas de café em agosto, aponta Cecafé

Os exportadores brasileiros de café continuam enfrentando prejuízos por causa de gargalos logísticos e da defasagem na infraestrutura portuária do país. Somente em agosto, as empresas acumularam perdas de R$ 5,9 milhões com armazenagens adicionais, pré-stacking e detentions, devido à impossibilidade de embarque de 624,7 mil sacas (equivalentes a 1.893 contêineres), segundo levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O problema também afetou o Espírito Santo, que deixou de embarcar 42.520 sacas de café, correspondentes a 129 contêineres. Considerando o preço médio de exportação de US$ 354,18 por saca (café verde) e a cotação média do dólar em R$ 5,4463 no mês, o estado deixou de receber US$ 15,06 milhões, o equivalente a R$ 82,02 milhões em receita cambial.

No cenário nacional, o não embarque do café impediu que o Brasil arrecadasse US$ 221,28 milhões (R$ 1,205 bilhão) em transações comerciais apenas em agosto.

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Prejuízos crescentes e alerta do setor

De acordo com o diretor-técnico do Cecafé, Eduardo Heron, a situação é recorrente e tende a se agravar sem investimentos urgentes na infraestrutura portuária.

“É um cenário que se repete e, infelizmente, tende a piorar nos próximos meses e anos se não houver investimentos rápidos nos portos do Brasil para aumentar a oferta de capacidade de pátio e berço. O agronegócio cresce a taxas expressivas, mas a infraestrutura portuária e a ampliação na diversificação de modais de transporte do país não acompanham essa evolução, o que tem gerado prejuízos constantes aos exportadores, principalmente os que trabalham com cargas que dependem de contêineres para exportação”, lamenta o diretor-técnico do Cecafé, Eduardo Heron.

Heron destaca que o Cecafé vem buscando soluções junto a entidades públicas e privadas para destravar investimentos e reduzir a burocracia. “Em função disso, o Cecafé tem realizado constantes contatos com outras entidades de exportadores e com as autoridades público-privadas para apresentar os preocupantes dados dessa realidade e estimulá-las a empregar recursos para realizar as melhorias necessárias e, em especial, fazer com que os trâmites ocorram de forma célere e sem burocracias”, informa.

Debates sobre o novo marco regulatório dos portos

Em setembro, o Cecafé participou, ao lado do Instituto Pensar Agro (IPA), da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), da CNI, CNA e Logística Brasil, de uma reunião com o deputado federal Arthur Maia, relator do Projeto de Lei 733/2025, que propõe um novo marco regulatório para o sistema portuário brasileiro.

Durante o encontro, a entidade defendeu a manutenção de princípios como modicidade e publicidade das tarifas portuárias, previstos na Lei nº 12.815/2013, e reconheceu avanços do projeto. O Cecafé reforçou a importância de uma legislação moderna que aumente a competitividade do comércio exterior, sem elevar custos aos usuários.

O Conselho também ressaltou a necessidade de uma governança equilibrada no Conselho de Autoridade Portuária (CAP), com maior participação dos usuários de carga, para discutir temas técnicos como dragagem, poligonais e integração de modais (ferrovias, hidrovias e rodovias).

Heron defende ainda a criação de indicadores logísticos nacionais para medir o desempenho portuário com mais precisão e transparência. “Esses dados são essenciais para antecipar gargalos e planejar investimentos de forma estratégica, e não apenas reativa”, pontua.

Raio-X dos atrasos

Segundo o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, metade dos navios (168 de 335 embarcações) teve atrasos ou alterações de escala nos principais portos brasileiros em agosto.

O Porto de Santos, responsável por 80,2% dos embarques de café entre janeiro e agosto, foi o mais afetado, com 67% das embarcações (122 de 182) enfrentando atrasos — o maior deles chegou a 47 dias.

O complexo portuário do Rio de Janeiro, segundo maior exportador, registrou 38% de atrasos, com intervalo máximo de 36 dias. Já Vitória apresentou apenas 6% de atrasos ou alterações de escala.

Espírito Santo registra alta nas exportações de café

Apesar das dificuldades logísticas, o Espírito Santo teve um mês de destaque nas exportações. De acordo com dados do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), o estado embarcou 654 mil sacas em agosto, o maior volume de 2025 e o mais alto desde novembro do ano passado.

O resultado representa alta de 51% em relação a julho, com receita de US$ 169 milhões, um crescimento de 40% no comparativo mensal. Os cafés crus impulsionaram o desempenho: as vendas de arábica aumentaram 137% (72 mil sacas e US$ 24 milhões), enquanto o conilon avançou 51% (549 mil sacas e US$ 135 milhões). Já o café solúvel teve retração de 14%, com 33 mil sacas e US$ 9,7 milhões em faturamento.

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio

Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.