Família Lacerda se dedica a produção de  café arábica no Sítio Forquilha do Rio
Família Lacerda se dedica a produção de café arábica no Sítio Forquilha do Rio

Terceiro maior produtor de café arábica do Brasil, o Espírito Santo deu início nesta semana à colheita da safra 2025. A abertura oficial aconteceu em um evento técnico realizado no município de Venda Nova do Imigrante, na região das montanhas capixabas, reunindo produtores, técnicos, pesquisadores e autoridades.

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Safra capixaba de arábica deve alcançar 3,3 milhões de sacas, projeta Conab

Segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção capixaba de café arábica em 2025 deve alcançar aproximadamente 3,3 milhões de sacas de 60 quilos. A área cultivada é de cerca de 121,6 mil hectares, com produtividade média prevista de 27,1 sacas por hectare.

“Neste mês, após seis anos de pesquisa, validamos e recomendamos novas cultivares de café arábica para o Espírito Santo. São plantas mais produtivas e com maior estabilidade de produção, o que representa uma resposta concreta da ciência ao desafio da bienalidade na cafeicultura, que alterna ciclos de baixa e alta produção, afetando principalmente o arábica. É um passo histórico que demos para fortalecer a sustentabilidade e a competitividade do setor”, afirmou Broedel.

Incentivo à irrigação

A programação também incluiu a palestra “O que precisamos fazer para ter sucesso com a cafeicultura irrigada?”, ministrada pelo extensionista do Incaper, Caio Louzada Martins. O objetivo foi apresentar o potencial da irrigação, ainda pouco utilizada nas lavouras de arábica no Espírito Santo, mas considerada estratégica para garantir a regularidade da produção e a adaptação às mudanças climáticas. Foram mostrados os impactos positivos da prática e tecnologias que asseguram o uso sustentável da água.

Ao final, os participantes acompanharam uma colheita simbólica, que marcou oficialmente o início da safra nas mais de 26 mil propriedades produtoras de café arábica espalhadas pelo estado.

Expectativa de safra menor, mas de alta qualidade

No Sítio Forquilha do Rio, da Família Lacerda, localizado na divisa entre Dores do Rio Preto (ES) e Espera Feliz (MG), na região do Caparaó, a colheita já começou de forma seletiva. O produtor José Alexandre de Lacerda relata que, apesar da expectativa de uma safra menor, a qualidade dos grãos deve ser superior.

José Alexandre Lacerda, produtor de café arábica no Sítio Forquilha do Rio

“Este ano, a colheita vai ser menor do que no ano passado, porque tivemos um período de seca após a florada, que causou uma perda significativa. A expectativa é de colher menos, mas com qualidade maior. Acreditamos que vamos ter resultados melhores na xícara, o que ajuda a compensar a queda na produtividade”, explica Lacerda.

De acordo com José Alexandre, o cenário de redução da safra se repete em diversas regiões produtoras de arábica. “É unânime aqui nas Matas de Minas, no Sul de Minas e também no Caparaó, tanto do lado capixaba quanto do mineiro. Acredito que em cerca de 80% das propriedades a colheita será menor do que a do ano passado”, relata.

Na propriedade da família, a produção deverá cair pela metade. “No ano passado, colhemos cerca de 350 sacas. Este ano, a expectativa é colher 150 sacas. A colheita já começou e deve seguir até setembro, um pouco mais cedo do que o habitual, já que novamente não tivemos a florada de março, o que encurta o ciclo”, conta.

Colheita familiar e valorização do café especial

A colheita no sítio é realizada exclusivamente pela família, composta por José Alexandre, sua esposa Claudiana Medeiros Lacerda e o filho João Vitor Medeiros Lacerda. “A vantagem de sermos pequenos produtores é poder contar com mão de obra familiar e qualificada. A gente já conhece bem o processo e isso ajuda muito, especialmente diante da dificuldade de encontrar trabalhadores rurais na região”, explica o cafeicultor, destacando que o crescimento do turismo rural no Caparaó tem impactado a disponibilidade de mão de obra para a agricultura.

João Vitor Medeiros Lacerda, produtor de café arábica no Sítio Forquilha do Rio

A produção da família é voltada para cafés especiais, vendidos principalmente para cafeterias em diversas partes do Brasil, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Além disso, parte da produção também tem alcançado o mercado internacional. “No ano passado, enviamos um pouco para a Inglaterra e Portugal. O café especial tem proporcionado boas conexões e aberto novos mercados”, comemora José Alexandre.

Investindo na melhoria contínua, a família também busca capacitação. O filho, João Vitor, recentemente se formou como Q-Grader, provador de café profissional certificado pelo Coffee Quality Institute (CQI), uma importante qualificação para quem trabalha com cafés especiais. “Essa formação é mais um recurso que trazemos para dentro da propriedade, para agregar ainda mais valor à nossa produção”, destaca o produtor.

Apesar das adversidades climáticas e da redução no volume colhido, a aposta dos produtores do Caparaó está na excelência. “A grande aposta nossa é superar a pouca produtividade com qualidade”, resume José Alexandre.

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Stefany Sampaio
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Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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