
O Espírito Santo deu início, oficialmente, à colheita da safra 2025 de gengibre, reafirmando sua posição de liderança na produção e exportação do rizoma no Brasil. O lançamento ocorreu durante o Dia Especial sobre a Cultura do Gengibre, realizado no Galpão Djalma Plaster, em Santa Maria de Jetibá, um dos principais polos da cultura no estado.
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Espírito Santo é responsável por 75% da produção brasileira de gengibre
O evento reuniu agricultores, técnicos, estudantes e lideranças locais, promovendo a troca de experiências e destacando as boas práticas adotadas na cadeia produtiva. O estado é responsável por 75% da produção brasileira e 57% das exportações nacionais de gengibre.
Em 2024, a produção capixaba foi estimada em 77,7 mil toneladas, com destaque para os municípios de Santa Leopoldina (31,5 mil t), Santa Maria de Jetibá (26,4 mil t) e Domingos Martins (16,3 mil t). A produtividade média no estado é de 60,5 toneladas por hectare, e a renda gerada nas propriedades rurais chegou a R$ 293,4 milhões em 2023, segundo dados da Seag, com base em IBGE, Painel Agro e Incaper.
As exportações também ganharam fôlego. Só neste ano, a comercialização internacional do gengibre movimentou mais de US$ 45,3 milhões, colocando o produto entre os quatro principais do agronegócio capixaba, ao lado do café, da celulose e da pimenta-do-reino.
De acordo com o diretor-geral do Incaper, Alessandro Broedel, a expectativa é de crescimento na produção para esta safra. “Os bons preços obtidos nas últimas safras e a valorização do gengibre capixaba no mercado internacional incentivaram novos investimentos. Aliado a isso, o trabalho contínuo de assistência técnica tem promovido práticas mais eficientes e alinhadas às exigências do mercado externo”, afirmou.
Produção em expansão
Nos últimos dez anos, a área plantada com gengibre mais que triplicou no Espírito Santo. Em 2014, eram 313 hectares colhidos; em 2023, esse número saltou para 1.070 hectares — um crescimento de 242%. A produção acompanhou esse ritmo, saindo de 12.900 toneladas em 2014 para 63.803 toneladas em 2023, alta de 395%.
Leonarda Plaster, presidente da Cooperativa dos Produtores de Gengibre da Região Serrana do Espírito Santo (Coopginger), explica que a colheita no estado pode ocorrer de janeiro a dezembro, mas a exportação por via marítima geralmente começa no fim de maio. Este ano, no entanto, a cooperativa decidiu antecipar o processo.
“Estamos fazendo uma experiência e iniciamos a colheita no começo de maio, para entender como o gengibre vai se comportar no mercado internacional. Estamos colhendo os rizomas mais maduros, de produtores que plantaram mais cedo no ano passado, justamente para garantir a qualidade exigida pelos importadores”, disse Leonarda.
Ela ressalta que o clima tem se mantido dentro da normalidade e que, até o momento, não houve impacto negativo das condições climáticas sobre a colheita. No entanto, a presença de doenças como a fusariose e a ocorrência de nematoides podem afetar a produtividade em algumas propriedades.
Do campo ao mercado internacional
O produtor Robert William Tesch, de Santa Leopoldina, é um dos jovens que aposta no gengibre como fonte de renda. Aos 24 anos, ele conta que sua família cultiva o produto há cerca de 15 anos, e hoje ele também é cooperado da Coopginger.
“Comecei a colher ainda em janeiro, com o baby ginger, que é colhido mais verde e exportado por via aérea. O gengibre convencional, mais maduro, começa a sair agora para exportação marítima. Estamos testando também se o baby ginger aguenta a viagem de navio”, explica.
Mesmo diante dos desafios, a perspectiva é de manter a produção até o fim do ano, com foco na expansão dos mercados. A Coopginger já tem contratos fechados para esta safra e busca ampliar sua presença na América do Sul, Europa e Estados Unidos.
“Estamos crescendo, tanto em produção quanto em número de cooperados. Nosso objetivo é alcançar cada vez mais mercados com um produto de qualidade, produzido com responsabilidade e muito trabalho”, finaliza Leonarda Plaster.
A colheita de gengibre já começou em algumas propriedades do Espírito Santo, e a expectativa é positiva para os agricultores que apostam na raiz como principal fonte de renda. É o caso do produtor Honório, que cultiva cerca de dois hectares do produto e estima colher entre 8 e 10 mil caixas nesta safra.
“A qualidade do gengibre está muito boa este ano. Em algumas áreas houve erosão por causa das chuvas no início do ano, mas nada que comprometa a produção. No geral, a colheita promete”, conta.
A rotina no campo envolve várias etapas até o produto estar pronto para o mercado. “A gente arranca o gengibre, leva pra casa, lava, corta, fica secando por uns três ou quatro dias. Depois embala e o caminhão leva para a cooperativa”, explica Honório, que entrega toda a produção à cooperativa localizada na região serrana do estado.
Com 17 anos dedicados à cultura do gengibre, Honório conta com o apoio da família na lavoura. “É agricultura familiar mesmo. Eu, minha esposa, meus pais e um primo que ajuda. Ao longo dos anos a gente vai adquirindo experiência, mas sempre tem o que aprender.”
Em relação à comparação com a safra anterior, o produtor se mostra otimista. “Ano passado tive muito problema com nematoide. Esse ano consegui evitar. A preocupação agora é com a fusariose, que ainda é um desafio”, destaca.
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