O esgotamento da infraestrutura portuária tem gerado impactos significativos no Brasil e no exterior. Segundo dados atualizados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), apenas no mês de maio de 2025, o setor deixou de embarcar 356.322 sacas de 60 kg, o equivalente a 1.080 contêineres, resultando em um prejuízo de R$ 2,686 milhões, decorrente de custos imprevistos com armazenagem adicional, detentions, pré-stacking e antecipação de gates. O cenário de maio reflete um impasse logístico que se arrasta há meses e ameaça a competitividade do Brasil como principal exportador mundial de café.
Entretanto, uma esperança se desenha na 10ª edição do Coffee Dinner & Summit, realizada em Campinas/SP. O Espírito Santo, que já se destaca na cafeicultura por sua sustentabilidade, inovação e logística integrada, apresentou aos mais de 30 países presentes no evento o ParklogBR, um programa público-privado para o desenvolvimento de infraestrutura portuária, que reposiciona o estado como hub logístico estratégico nacional, com foco em portos, rodovias, ferrovias, aeródromos e áreas empresariais.
A posição geográfica privilegiada do Espírito Santo, aliada à estrutura já existente, com portos, aeroportos, ferrovia, rodovias federais e estaduais — e novos investimentos como a primeira Zona de Processamento de Exportação (ZPE) privada do Brasil e um porto de grande calado para cargas gerais, consolida o estado como alternativa viável e necessária para resolver o gargalo logístico brasileiro.
Segundo Michel Tesch, subsecretário de Agricultura do Espírito Santo, “o mundo não tem dúvidas de que o Brasil e o Espírito Santo serão cada vez mais relevantes na produção de café, mas ainda há dúvidas quanto à nossa capacidade de escoar essa produção para o mundo. A iniciativa do Parklog é, por isso, estratégica. Participar deste evento com um estande próprio é uma forma de reafirmar que o futuro do café passa pelo Brasil e pelo Espírito Santo. Estamos moldando esse futuro com uma cadeia extremamente integrada, profissional, com planejamento estratégico vinculado ao nosso PEDEAG, ao Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura, e com resultados concretos em produtividade, qualidade de vida das famílias produtoras, sustentabilidade, e agora também logística”.
Desafios logísticos e a busca por soluções
De acordo com o boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 56% dos navios sofreram atrasos ou alterações de escala nos principais portos brasileiros. O Porto de Santos, responsável por 80,8% dos embarques de café entre janeiro e maio de 2025, apresentou um índice alarmante de 64% de atrasos ou mudanças de escala, afetando 113 dos 177 porta-contêineres que ali operaram. O tempo máximo de espera registrado foi de 28 dias.
Além dos atrasos, os exportadores enfrentam tarifas e taxas adicionais, custos operacionais não previstos e redução das margens de lucro devido aos elevados valores dos embarques. A capacidade dos portos está esgotada, e o cenário é agravado por tensões geopolíticas, movimentos protecionistas e instabilidades internas, que afetam a credibilidade do Brasil no cenário internacional.
Espírito Santo como solução logística estratégica
Durante o evento, a palestra técnica “Espírito Santo: Novos investimentos para alavancar soluções logísticas” contou com a participação de representantes de três portos capixabas, Imetame, Portocel e VPorts, que apresentaram seus investimentos e reforçaram o papel do estado como peça-chave na superação do gargalo logístico que afeta não só o café, mas diversos outros produtos brasileiros.
O Espírito Santo se destaca por ter um ambiente favorável aos negócios:
- Gestão equilibrada – 11 anos Nota A pelo tesouro nacional;
- Boa relação entre setor público/privado e integrações com variados modais;
- Localização geográfica privilegiada, próximo dos maiores centros de consumo;
- Sudene: isenção de 75% do IRPJ e possibilidade de reinvestimento de até 30%;
- ZPE: isenção de IPI, PIS, COFINS, ICMS e AFRMM;
- Compete/Investe: incentivos estaduais para novos investimentos e operações.
A VPorts, autoridade portuária privada, apresentou seu modelo de gestão do Porto de Vitória, destacando a colaboração entre governo, operadores e terminais como chave para o desenvolvimento de um ecossistema portuário moderno. O modelo permite a operação de cargas em áreas compartilhadas e reforça a visão pró-negócios do Espírito Santo, buscando soluções logísticas de alto impacto para o agronegócio nacional.
“Temos trabalhado no sentido de modernizar o complexo portuário de Vitória, oferecendo a infraestrutura que fortalecerá a vocação do Espírito Santo para o comércio exterior. Como exemplo, ampliamos a área destinada a contêineres em 70 mil metros quadrados, criamos mais áreas de armazenamento, oferecemos maior disponibilidade de porteinêres e buscamos a proximidade e o diálogo com o setor produtivo para desenvolver soluções conjuntas para o escoamento do café e de outras cargas”, afirma Carla Amaral, gerente comercial da Vports.
Segundo ela, o trabalho é contínuo e já garantiu uma produtividade 44% maior no porto. E há mais projetos em desenvolvimento. “Na área de 70 mil metros quadrados, por exemplo, o novo contrato com a Login viabilizará investimentos de R$ 35 milhões, a serem concluídos ainda este ano. Ao mesmo tempo em que fazemos a nossa parte, buscamos estar próximos do setor produtivo, acompanhando o mercado e a sazonalidade do café porque o planejamento é muito importante nesse processo” destaca.
Portos de Aracruz: potência em expansão
Outro ponto forte apresentado foi a estrutura portuária em Aracruz. O município tem recebido investimentos robustos e é considerado estratégico para a nova fase do setor portuário brasileiro.
Segundo Claudio Melim, diretor executivo da Imetame Logística Porto, a presença no evento é crucial para reposicionar a capacidade portuária do Espírito Santo, criando oportunidades para o café e outros setores.
“O Porto de Aracruz se destaca por: profundidade de 17 metros, a maior para contêineres no Brasil; canal de acesso curto, que reduz custos com praticagem; bacia de manobras ampla; gestão privada, o que facilita parcerias e elimina custos de outorga; e localização central na costa brasileira , com acesso direto a importantes regiões produtoras, como MG, GO, MT e BA. Nosso objetivo é atrair cargas como a de algodão, que hoje vão para Santos, impulsionando a economia local e especialmente o setor cafeeiro, no qual o Espírito Santo é destaque em produção e sustentabilidade”.
Além disso, vale destacar também o desenvolvimento do porto em Barra do Riacho, mais uma aposta da Vports para contribuir, dentro das iniciativas do ParkLog-ES, para tornar o Estado um hub logístico para o País.
A autoridade portuária já deu entrada no pedido de licença junto ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema-ES) para iniciar os trabalhos na área de 522 mil metros quadrados em Aracruz. A ideia é desenvolver na região um porto multipropósito que poderá abrigar terminais para grãos, gás, energia e para descomissionamento de plataformas de petróleo, para citar alguns exemplos.