A mecanização do café conilon tem ganhado força no Espírito Santo nos últimos anos, com avanços a partir de 2018 e 2019, quando os primeiros testes e adaptações de tecnologias específicas para a cultura começaram a ser realizados e documentados em larga escala. O processo se consolidou entre 2023 e 2024, com o desenvolvimento de colhedoras mais eficientes e o aprimoramento das técnicas de manejo. Em 2025, o movimento atingiu seu auge, sendo considerado por especialistas um ano histórico para a mecanização da colheita no estado.

O avanço é impulsionado principalmente pela escassez de mão de obra no campo. A mecanização passou a ser vista não apenas como uma alternativa, mas como uma solução para otimizar o processo produtivo, reduzir custos e aumentar a eficiência. A adoção tem crescido de forma expressiva entre produtores, especialmente os de médio e grande porte, que enxergam na tecnologia uma ferramenta fundamental para garantir a sustentabilidade e a competitividade da cafeicultura capixaba.

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Mecanização surge como solução para a escassez de mão de obra no campo

Os benefícios são claros: uma única colheitadeira pode realizar o trabalho de mais de 80 pessoas em um dia, reduzindo o tempo e os custos de colheita. As máquinas têm se tornado mais modernas, com tecnologia automotriz que avança rapidamente, impulsionada por investimentos em pesquisa e desenvolvimento voltados para o conilon.

No Espírito Santo, a colheita de 2025, encerrada em meados de agosto, contou com ampla participação das máquinas agrícolas. O produtor rural Clério Rampinelli, de Rio Bananal, é um exemplo de quem abraçou essa transformação.

“Começamos muito jovens, por amor ao campo. Nosso pai trabalhava tudo de forma manual. Quando começamos a entender mais sobre mecanização, passamos a investir nas primeiras máquinas, e isso mudou tudo. Hoje trabalhamos com muito mais velocidade e eficiência”, conta Clério.

Ele destaca que a mecanização tem papel decisivo para atrair as novas gerações ao campo.

“Se não fosse a mecanização e a tecnologia, o agronegócio iria quase parar. A mecanização abre espaço para os nossos filhos, que hoje se interessam por agronomia, por pilotar drones, por inovação. Isso faz o campo ser mais atrativo e sustentável.”

Espírito Santo conta com 49 mil propriedades produtoras de café conilon

Segundo o Incaper, o Espírito Santo possui 49 mil propriedades produtoras de café conilon, sendo responsável por 76% de todo o conilon exportado pelo Brasil. Em 2024, o estado exportou 7 milhões de sacas, gerando mais de US$ 1,4 bilhão, segundo o Centro do Comércio de Café de Vitória. Boa parte desses produtores já investe em mecanização.

De acordo com Rafael Venturini, gerente comercial da PME Máquinas, os números confirmam o avanço expressivo. “Em 2023, tivemos aumento de 26% na mecanização. Em 2024, o crescimento foi de 44%. E em 2025, um recorde histórico: aumento de 142%. O produtor está investindo porque está colhendo bons frutos. Quem não investe fica para trás”.

A PME Máquinas, empresa do grupo Pianna, tem contribuído para esse processo, trazendo soluções que ajudam os produtores a driblar a falta de mão de obra e acelerar a colheita.

“Trabalhamos com dois grandes parceiros: a semi-mecanizada da Miac, das Indústrias Colombo, que reduz cerca de 40% da mão de obra, e a automotriz da Jacto, que pode reduzir mais de 80%”, explica Venturini. “Além disso, temos a varredora, usada para recolher os grãos que caem no chão. É um complemento importante, porque o tempo de colheita é curto e o clima pode atrapalhar”. Ele se refere a máquina de recolhimento que limpa o chão com um sistema de limpeza pós-colheita.

O produtor Clério Rampinelli confirma os ganhos: “Hoje, as recolhedoras economizam cerca de 70% da mão de obra. É uma economia com alojamento, material, insumos e contratação. E além disso, temos mais controle e organização. A mão de obra está escassa aqui no Espírito Santo e até mesmo nos estados vizinhos, e a mecanização é a saída.”

A mecanização também traz reflexos positivos na qualidade do produto. Com menos tempo entre a colheita e o beneficiamento, os grãos chegam mais uniformes às torrefações, elevando o valor de mercado do café.

O professor Edney Leandro da Vitória, coordenador do curso de Agronomia da Ufes, explica que o processo de mecanização do conilon tem uma longa trajetória de aperfeiçoamento.

Edney Leandro da Vitória, professor da Ufes
Edney Leandro da Vitória, professor da Ufes

“As primeiras tentativas começaram no fim dos anos 1970. No início dos anos 80, tentaram adaptar máquinas usadas no arábica, mas o conilon tem características diferentes. Cada clone exige uma força distinta para desprender o fruto, e isso complicava o processo. Nos últimos cinco anos, as pesquisas evoluíram e as máquinas atuais estão muito mais eficientes.”

Para Edney, a mecanização é um caminho sem volta. “Ela reduz custos de produção e colheita, diminui a dependência de mão de obra e melhora a qualidade do fruto final. A escassez de trabalhadores é uma realidade, e mecanizar é uma necessidade. A tendência é que, no futuro, essas colheitas sejam também mais sustentáveis.”

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Stefany Sampaio
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Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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