
Afinal, o que aconteceu com o PIB capixaba de 2023? A questão, mais que o questionamento, vem em decorrência do fato de que a taxa de crescimento do PIB capixaba relativo ao ano de 2023 anunciado na semana passada pelo IBGE e IJSN, de 3,4%, difere do havia sido estimado utilizando-se a metodologia do PIB trimestral anunciado em 2024, que foi de 5,7%.
Assim, o PIB capixaba de 2023 foi estimado em R$ 209,81 bilhões em valores correntes. Ou seja, a preços daquele ano. O que corresponde a cerca de 14,9% acima do PIB de 2022, também a preços correntes, de R$ 182,5 bilhões. Isso significa que se a variação real, em volume, entre os dois anos, foi de 3,4%, ocorreu um efeito inflação do PIB num montante de aproximado 11,2%, denominado de deflator implícito do produto.
E aqui vale registrar que o Espírito Santo historicamente tem apresentado deflatores bem destoantes daqueles observados em nível nacional. Em 2022, por exemplo, o deflator capixaba foi de -0,3%, contra 8,6% nacional. Ou seja, o PIB nominal capixaba caiu 2%, com queda real de 1,7 em 2022. Em 2021, o deflator do PIB nacional foi de 13% e o do Espírito Santo 27%. O do Espírito Santo oscila bem mais. Isso, principalmente pelo efeito commodities. Essas diferenças são refletidas nos cálculos do PIB real.
Em verdade quando se calcula o PIB trimestral, que normalmente é divulgado com defasagem de aproximadamente 3 meses, o que se faz é uma estimativa prévia baseada em indicadores do tipo “proxy” – próximos -. E é natural a ocorrência de diferenças. Aconteceu também em relação ao PIB nacional, cuja taxa estava estimada para 2,9% e em cálculo mais apurado e definitivo chegou-se a 3,2%.
Eu diria, no entanto, que dadas as especificidades da economia capixaba a probabilidade de ocorrência desse tipo de diferença é bem maior. Por uma razão até simples. Nossa economia sofre forte influência do desempenho de commodities, principalmente petróleo e pelota de minério.
Mas, em 2023 outro fator a afetar foi o desempenho aquém do esperado da agropecuária, que apresentou queda em volume do valor adicionado de 10%, explicando assim a queda na participação de 5,9% em 2022 para 5,4%.
Nesse caso vale algumas considerações. A primeira diz respeito a uma questão metodológica. Ou seja, o valor adicionado e PIB da agropecuária são calculados computando as trocas econômicas no âmbito das propriedades rurais. Isto é, “dentro da porteira”. Não captam operações decorrentes, por exemplo, de exportações, que entram no setor de comércio.
No caso do café, se observarmos valores, volumes e preço das exportações naquele ano vamos ver que o movimento foi na direção oposta da produção – ótica da produção -. As exportações em dólar cresceram 58% em 2023, de US$ 560 milhões para US$ 914,4 milhões; o volume em sacas 104%; preços em dólar caíram 22% e câmbio apresentou pequena baixa de 3,5%. É certo que foram queimados estoques acumulados, que foram computados com produção de anos anteriores.
No entanto, o principal fator responsável pela redução da taxa de crescimento geral, inicialmente estimada em 5,7%, foi o fraco desempenho do setor extrativa mineral. Leia-se petróleo e pelotas de minério de ferro. Não pelo lado da quantidade produzida, mas pela queda nos preços.
Neste setor, observando a conta de produção, o crescimento no volume do valor adicionado (22,5%) – que expressa a quantidade produzida – foi praticamente superado pela queda nos preços de 18,1%. A participação relativa que em 2022 foi de 11,9% do PIB caiu para 10,2% em 2023.
Para entendermos melhor essas especificidades capixabas vale esperar os dados do PIB pelas duas outras óticas, a da renda, para quem – quais grupos – está indo o dinheiro -, e do gasto, para onde este está indo.