Orlando Caliman: economia capixaba será uma das mais afetadas pelo Tarifaço de Trump

Nesta semana, na última quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, de forma até inusitada e surpreendente, anunciou que o Brasil teria todos os seus produtos exportados para aquele país taxados com alíquota de 50% a partir de primeiro de agosto. Confira a análise do diretor econômico da Futura, Orlando Caliman.

* Por Orlando Caliman

Surpreendente, porque o Brasil no histórico de 15 anos apresentou sucessivos déficits comerciais com os EUA. Fato que não justificaria a adoção de tal medida uma vez que todos os demais países que tiveram suas tarifas elevadas o foram por apresentarem superávits sistematicamente. Portanto, condição prévia que não se aplicaria ao Brasil. E mais, com a maior tarifa anunciada, logo abaixo de Miamar e Laos, com 40%.

Transparece, assim, que a motivação não teria sido provocada por questões de natureza econômica, mas sim mais políticas e geopolíticas. Políticas no sentido de influenciar o processo político interno, e geopolíticas, penalizando o Brasil pelo seu posicionamento no BRICS.

Porém, se efetivada, trará impactos negativos para o Brasil, e especificamente, e de forma diferenciada, para estados. O Espírito Santo poderá ter impactos significativos em razão de sua maior exposição ao mercado americano. Afinal é o nosso maior mercado. Para lá são destinados cerca de 28% das nossas exportações anualmente. Mais que o dobro da média nacional, que em 2024 foi de 12%.

Para lá, o Espírito Santo destinou em 2024, em ordem valores, aço e outras ligas de aço (1.092 milhões de dólares), pedras de cantaria – rochas – (674 mi US$), celulose (559 mi US$), minério de ferro (387 mi US$), café verde (143 mi US$), café solúvel (62,4 mi US$), gengibre (11 mi US$), e outros produtos com menores valores.

Mas, o importante no caso é saber qual o grau de exposição desses produtos ao mercado americano. Rochas aparece no topo, já que 78% do total exportado tem como destino o EUA. Teoricamente uma taxação de 50% inviabilizaria qualquer negócio nesse setor. Impactos indiretos seriam também muito significativos, afetando várias cadeias de suprimento do setor, causando queda de empregos diretos e indiretos. Causaria fortes impactos nas economias regionais. Além disso, o setor teria grande dificuldade de redirecionar as exportações par outros destinos.

O segundo setor mais impactado seria o do aço e derivados, com o mercado americano respondendo por 66% das exportações totais do produto. Celulose seria afetada em 51%; café solúvel em 37%, gengibre em 26% e minério de ferro em 13%.

No caso do café verde o impacto seria de apenas 7%. Em 2024 o Espírito Santo exportou, em valor, um total de 2,09 bilhões de dólares. Desse total apenas 7% tiveram como destino o mercado americano. A vulnerabilidade, no entanto, mostra-se maior no caso do café solúvel.

Na minha avaliação, como a aplicação de uma alíquota tarifária de 50% praticamente inviabilizaria exportações para os EUA, inclusive com o potencial de afetar internamente negócios lá, a probabilidade de que sejam abertas negociações e que se chegue a um acordo plausível parece-me bem altas.

*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência

Leia também:

Ricardo Frizera

Colunista

Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 9 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa. Alcança mais de 1 milhão de pessoas por mês utilizando plataformas de mídia digitais e tradicionais.

Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 9 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa. Alcança mais de 1 milhão de pessoas por mês utilizando plataformas de mídia digitais e tradicionais.