As exportações capixabas para os Estados Unidos caíram 12% entre julho e agosto – sem dúvida, já refletindo os efeitos da vigência da tarifa cheia de 50% que passou a valor em agosto. Nacionalmente, o impacto entre os dois meses foi de 18,5%. Essa diferença pode encontrar explicações nas características e certas especificidades observadas na pauta capixaba de exportação para o país americano. Confira a análise do diretor econômico da Futura, Orlando Caliman.
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* Por Orlando Caliman
A boa notícia nesse front é que os EUA isentaram, no dia 05/09, a celulose brasileira do tarifaço. Tarifada em 10% desde abril e ameaçada do adicional de 40% em julho passa agora à condição de isenção total. Bom para o Brasil e para o Espírito Santo. Porém, vários outros produtos ainda continuam taxados à alíquota máxima de 50%, cujos efeitos já são sentidos no mês de agosto.
Vale lembrar que nossa exposição ao mercado americano, registrada em 2024, foi de 28%. Apenas superada pelo Ceará. Condição que impõe, mesmo com o retorno à situação de reciprocidade, ou seja, de incidência de alíquota de 10%, para um grupo seleto de produtos.
A exclusão de alguns produtos da alíquota cheia – 50% -, como a celulose, chapas de quartzito, petróleo e minério de ferro, no entanto, não nos tira da posição de alto risco, pois continuamos sob uma exposição remanescente de 15,1%. Produtos como aço e produtos dele derivados, café verde, café solúvel, pimenta do reino, mamão, gengibre e boa parcela de rochas continuam sob o tarifaço.
Talvez ainda seja cedo para avaliarmos de forma mais precisa os impactos. Mesmo assim, os números das exportações capixabas de agosto podem já nos mostrar tendências, especialmente nos meses de julho e agosto. E nesse aspecto, o curioso é que nossas exportações para os EUA caíram mais em julho (-40,7%) do que em agosto (-12,1%).
Uma das possíveis hipóteses seria de que o próprio anúncio do tarifaço já teria gerado insegurança no mercado e afetado antecipadamente contratos e remessas de produtos. No caso do café verde, as exportações caíram 37% em julho, e 29% em agosto. Na celulose, queda de 67% em julho e crescimento de 69% em agosto. Já minério de ferro, quedas de 62% em julho e 100% em agosto.
Essa hipótese é reforçada quando analisamos o comportamento das exportações de semielaborados de aço. Este segmento que representou 30% do total das exportações para os EUA em 2024 e está sujeito ao tarifaço de 50%, de janeiro a junho de 2025 exportou em valor uma média mensal de US$ 72 milhões. Em julho, apenas US$ 30 milhões. No entanto, em agosto, sem dúvida aproveitando-se da folga de 7 dias dada pelo governo americano, e muito provavelmente antecipando embarques, voltou a exportar para lá US$ 50,5 milhões.
Considerando os produtos do agronegócio exportados para os EUA, à exceção da celulose, as quedas foram de 24% em julho e de 22% em agosto. Destaque para o gengibre, que recentemente destinava 44% das exportações para lá, com queda de 41% em agosto.
No geral, as exportações capixabas para os EUA que representavam em média 28% do total exportado caíram em julho para 23% e em agosto 22%. A tendência é que continue em queda nos próximos meses na ausência, bem provável, de novas liberações do tarifaço.