Enquanto não avançam as negociações com os EUA não nos resta alternativa senão avaliarmos os potenciais estragos que possam causar o “embargo” tarifário imposto pelo presidente Donald Trump. No Espírito Santo, do total de 10,7 bilhões de dólares (R$ 59 bilhões) que exportamos para lá, 3 bilhões de dólares (R$ 5,7 bilhões) são resultantes de vendas para lá – ou seja, 28% do total. Confira a análise do diretor econômico da Futura, Orlando Caliman.
* Por Orlando Caliman
O agronegócio capixaba, que compreende a agropecuária e a agroindústria, foi responsável por 7,3% das exportações totais em 2024: US$ 3,5 bilhões de dólares (o equivalente a R$ 19,5 bilhões). Desse total, cerca de US$ 783 milhões – R$ 4,3 bilhões – se referiram ao mercado americano. Ou seja, uma exposição àquele mercado de 22%. Alta, porém, abaixo da média observada para o estado.
Essa exposição não é homogênea. Vale analisar cada produto. No caso da celulose, a dependência do mercado americano foi de 51%. Trata-se de um insumo industrial, homogêneo, cuja oferta é de responsabilidade de um único player, global, e com demanda final focada em poucos operadores, principalmente grandes indústrias.
O café solúvel é o segundo em exposição aos EUA: 37% das exportações totais do produto em 2024. No entanto, com a participação de apenas 0,6% do total das exportações. Dos US$ 168,9 milhões exportados, US$ 62,4 milhões tiveram como destino os EUA: US$ 41,7 milhões do município de Linhares e US$ 20,6 milhões de Viana. Exposição maior de Linhares, com 44%. Considerando o primeiro semestre de 2025, a exposição aos EUA foi elevada para 40,6%. Um produto que requer atenção, principalmente, pelos efeitos da cadeia de valor “para trás” na compra do café conilon.
Gengibre é outro produto do agro potencialmente impactado. Em 2024, o estado exportou para os EUA o equivalente a US$ 15,1 milhões de um total de U$ 51,1 milhões. Uma exposição de 30%, que cresceu no primeiro semestre de 2025 para 36%. Merece atenção especial, pois congrega do lada da oferta um grande número de pequenos produtores.
Na sequência em dependência do mercado americano aparece o mamão: 10,5%. De um total de exportação de US$ 28,4 milhões, US$ 2,9 milhões tiveram como destino os EUA.
No caso do café verde, que em 2024 exportou o equivalente a US$ 2 bilhões, destinou apenas 7,2% para o mercado americano. Como se trata de um produto homogêneo, uma commodity que é exportada para mais de 80 países, e com baixa concentração, encontraria menos obstáculos para o redirecionamento da oferta no mercado externo. O tarifaço afetaria mais o Brasil, e especificamente Minas Gerais, do que o Espírito Santo.
A pimenta-do-reino tem baixíssima exposição aos EUA. Está longe das mãos de Trump. Sua exposição foi de apenas de 2% em 2024, caindo para 0,9% no primeiro semestre de 2025. O curioso é que no primeiro semestre de 2025 as exportações já superam as do ano todo de 2024: US$ 201,8 milhões contra US$ 163,1. Vietnã assumiu o topo do ranking, com compras equivalentes a US$ 62 milhões.
Estão, assim, listados os produtos do agro capixaba que demandariam, a meu ver, maiores preocupações, em ordem de criticidade e desafios: gengibre, café solúvel, mamão, celulose e café verde.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência