Orlando Caliman: reflexões sobre o café diante do Tarifaço

Um dos principais produtos do agronegócio capixaba, o café ficou de fora da lista de exceções anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com as negociações praticamente paralisadas, mais por questões de natureza política do que propriamente econômicas, resta-nos avaliar potenciais estragos que possam resultar   com um alongamento indefinido desse ambiente de impasse, que mais se assemelha a embargo. Confira a análise do diretor econômico da Futura, Orlando Caliman.

Acompanhe o Folha Business no Instagram

* Por Orlando Caliman

Por razões que não cabe aqui discutir, o café acabou permanecendo na lista de produtos exportados para os EUA taxados com a alíquota de 50%. O Brasil, como maior produtor mundial, é responsável por cerca de 36% do total do produto que vai para aquele país, seguindo-se a Suíça, que no caso, muito provavelmente, vale-se também do suprimento do café brasileiro.

Numa perspectiva de Brasil, os impactos não serão tão significativos. Afinal a exposição ao mercado americano para o caso do café verde é de 16,7%. Ou seja, de um total exportado do produto que chegou em 2024 a US$ 11,3 bilhões, US$ 1,9 bilhões foram destinados para os EUA. Já no caso do café solúvel esse percentual atingiu 18,7%: US$ 183,4 milhões de um total de US$ 979 milhões.

No caso do Espírito Santo a exposição é menor para o caso do café verde, predominantemente do arábica, com 7,2%. Aliás, a menor exposição ao mercado americano.  No entanto, bem mais alta para o solúvel, que em 2025 já beira 40%.

Mas, o que interessa no momento, especialmente para o produtor, cooperativas e naturalmente aos próprios exportadores, diz mais respeito ao que poderá acontecer com o mercado, especialmente em relação aos preços. Estes nunca estiveram tão altos nos últimos 28 anos, considerando o ano de 2024, tomando-se como referência o preço médio anual em US$ FOB – livre colocado no navio -. Em 2024 chegou a US$ 216,00 a saca. Em 2002, ano de maior baixa foi de US$ 33,00.

No momento o mercado parece estar travado. Importadores tanto americanos quanto europeus e exportadores estão na expectativa do que possa acontecer com os preços. E o Brasil é o maior dos players no mercado, e terá preço nessa equação.

 Por outro lado, temos que ver como estão os estoques e tendência de safras, questões centrais na formação de preços. Os estoques, em vinte anos, nunca tiveram tão baixos. Cerca de 20,9 milhões de sacas na safra 24/25 e com tendência estimada de 22,8 milhões para esta próxima safra. São quantitativos realmente pequenos em relação a oferta global que está estimada em 178,7 milhões de sacas, segundo dados da agência federal americana FDA.

Especialistas do mercado trabalham com a perspectiva de que os estoques ainda tomem mais de dois anos para se estabilizarem em patamares mais seguros. Em tese, portanto, uma possível queda ainda maior dos preços não encontraria causalidade nos estoques.  Além disso, sempre poderão surgir eventos, especialmente climáticos, a ameaçar a produção, como aconteceu nos últimos anos com Vietnã e o próprio Brasil. De positivo, a demanda segue em alta, variando no entorno de 2,5% ao ano.

Muito provavelmente vamos atravessar um período de grandes turbulências e de consequente ansiedade para quem produz e comercializa o produto. Mais, sem dúvida, para quem produz, que se vê agora com a safra praticamente colhida e tem que incorrer em custos acumulados. Para quem tem alguma folga financeiro relativa ao ótimo ano de 2024, estocar faz sentido.

O momento é de cautela.

*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência

Leia também:

Ricardo Frizera

Colunista

Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 14 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa. Alcança mais de 1 milhão de pessoas por mês utilizando plataformas de mídia digitais e tradicionais.

Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 14 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa. Alcança mais de 1 milhão de pessoas por mês utilizando plataformas de mídia digitais e tradicionais.