'Pouso suave': revendo os impactos do tarifaço na economia capixaba

Ainda não se tem claro até quando as tarifas de exceção sobre produtos brasileiros com destino aos Estados Unidos serão mantidas. O processo de abertura de negociações já em curso não nos permite ainda assegurar avanços.   O certo é que em dois meses de vigência da tarifa de 50% sobre um razoável grupo de produtos demonstram de um lado perdas, mas de outro, ganhos de novos espaços em outros mercados.

Em termos de Brasil, cujas exportações para o mercado americano representavam 12% do total das exportações, o movimento foi negativo em 18,4% comparando-se agosto e setembro de 2024 com os mesmos meses em 2025. No Espírito Santo praticamente o percentual de redução manteve-se no patamar, com 18,9%. Em contraste, as exportações totais brasileiras evoluíram em 5,1% no comparativo dos dois meses, e as capixabas apresentaram queda diminuta de 0,4%.

Num cômputo geral depreende-se que os estragos nas contas externas por conta do tarifaço não aconteceram na dimensão do que se projetava. O Espírito Santo que apresentava inicialmente uma exposição ao tarifaço americano de aproximadamente 28% das suas exportações totais, o segundo maior do país, com as exceções abertas em 07 de agosto para alguns produtos esse percentual foi reduzido para cerca de 15%.  Percentual bem alto ainda, supostamente prevendo-se assim perdas maiores.

Produtos do agronegócio, do aço e de rochas ornamentais, estes últimos com exceção para quartzito, foram mantidos sob o tarifaço. Fato que levou a estimativas iniciais indicando que proporcionalmente o Espírito Santo seria um dos estados mais prejudicados, inclusive com declínio da atividade econômica. Leia-se impacto negativo sobre o PIB.

Usando a analogia, os números mais recentes das exportações capixabas têm mostrado que estamos tendo um ‘pouso suave’. Ou seja, menor do que o esperado. E isso, muito provavelmente pelo preparo da economia local a choques, demonstrando capacidade de resiliência e de formulação e execução de estratégias de forma ágil, mas principalmente pela presteza nas estratégias de empresas e setores em buscarem alternativas.

Estimativas iniciais indicavam fragilidades e por consequência obstáculos maiores para o agronegócio exportador e o setor de rochas. De fato, foram os mais impactados. As exportações de gengibre, por exemplo, foram as mais afetadas, com queda de 38% para o mercado americano entre 2025 e 2025, somados os meses de agosto e setembro. Seguindo-se café solúvel, com 26% de queda, café verde 23% e rochas com menos 22%.

Observando os números em mais detalhes surpreendeu-me a reação do setor de rochas. Eu pessoalmente tinha uma percepção mais dura do que poderia acontecer. No entanto, as exportações totais do setor apresentaram um crescimento de 27% entre agosto e setembro de 2025: US$ 87,1 milhões contra US$ 68,4 milhões. E se compararmos a soma desses dois meses com os mesmos meses em 2024 a queda foi de apenas 3,1%.

A China passou a crescer em participação nas compras de rochas capixabas, em especial granitos, passando de apenas 4,9% em agosto de 2024 para 19,2% em agosto de 2025, e 21% em setembro de 2025. Na direção contrária os EUA saíram de 68,4% em setembro de 2024 para 55% em setembro de 2025.

E aqui vale registrar a atuação das lideranças do setor através de suas instituições representativas Sindirochas e Centrorochas nesse processo de reposicionamento nos mercados.

Leia também:

Orlando Caliman

Colunista

Mestre em Economia pela Arizona State University, ex-professor e pesquisador da UFES e ex-secretário de Planejamento do Espírito Santo, Orlando Caliman é diretor econômico da Futura Inteligência. Na Coluna Data Business, analisa o ambiente econômico do Espírito Santo e do país, apontando os desafios que precisam ser superados para o desenvolvimento.

Mestre em Economia pela Arizona State University, ex-professor e pesquisador da UFES e ex-secretário de Planejamento do Espírito Santo, Orlando Caliman é diretor econômico da Futura Inteligência. Na Coluna Data Business, analisa o ambiente econômico do Espírito Santo e do país, apontando os desafios que precisam ser superados para o desenvolvimento.