Às margens do Parque Nacional do Caparaó, em Ibitirama, no sul do Espírito Santo, um empreendimento familiar vem se destacando como exemplo de integração entre agropecuária, turismo e gastronomia. A criação de trutas, iniciada nos anos 1990 por Francisco Faleiro, deu origem à Toca da Truta — um projeto pioneiro no Espírito Santo que hoje atrai visitantes de várias partes do país e movimenta a economia local com turismo de experiência.
Foi na Serra da Mantiqueira, em visita à maior região produtora de trutas do Brasil, que Francisco teve a ideia de replicar o modelo no Caparaó, aproveitando as condições climáticas e a qualidade das águas da serra capixaba.
“Por similaridades entre o Caparaó e a Serra da Mantiqueira, imaginei que seria possível criar trutas aqui também. E foi assim que tudo começou”, relembra o empresário.
A estrutura chegou a ser projetada para produzir até 250 toneladas por ano, com 38 tanques instalados. No entanto, após a ampliação dos limites do Parque Nacional do Caparaó, parte da área produtiva ficou dentro do novo perímetro, o que reduziu drasticamente a produção.
“De 250 toneladas previstas, hoje produzimos apenas 5% disso, em uma única unidade remanescente. Mesmo assim, seguimos com o projeto, agora focando também no turismo e na gastronomia”, explica Francisco.
Turismo de experiência cresce no ES
Com uma produção anual que gira em torno de 10 toneladas, a Toca da Truta oferece ao visitante muito mais que a criação de peixes. O restaurante da propriedade é um dos atrativos mais procurados. O menu é completamente inspirado na truta, servida em versões que valorizam o frescor e a suavidade do peixe criado ali mesmo.
Chefs de outras regiões também têm se encantado com a proposta. É o caso do casal Dayse e Fernando, de Guarapari, que encontrou na truta capixaba uma nova inspiração para seus pratos.
“A gente se inspira desde o primeiro dia que veio aqui. A truta é maravilhosa, a matéria-prima é de primeira. É um lugar para se inspirar na gastronomia e na vida”, conta Dayse Cirelli, chef de cozinha.
“Desde que experimentamos pela primeira vez, decidimos levar esse produto para o nosso restaurante também”, completa Fernando Cavalher, veterinário e entusiasta da cozinha.
Experiência completa em meio à natureza
A vocação turística do empreendimento cresceu com o tempo. Primeiro veio o restaurante, depois o pesque-pague. E mais recentemente, em maio deste ano, foi inaugurada a Vila da Toca, estrutura de hospedagem com três suítes temáticas inspiradas nas espécies de truta criadas na propriedade: Golden, Lake e Rainbow.
“Era uma demanda antiga dos visitantes. Agora temos três suítes, ao lado da piscina natural, com vista para a serra e som de cachoeira. Já tivemos ocupação máxima no feriado de Corpus Christi”, destaca Isabela Caliman Faleiro, filha de Francisco e uma das responsáveis pelo novo espaço.
A proposta é oferecer uma experiência completa: contato direto com a natureza, culinária artesanal, cachoeiras, trilhas e tranquilidade. Com capacidade para atender de 80 a 100 pessoas por dia no restaurante e cerca de 500 visitantes por mês, a Toca da Truta tem faturamento anual estimado em R$ 1,2 milhão.
A expansão já está nos planos da família, que pretende aumentar a capacidade de hospedagem até o início de 2026, com novas suítes voltadas para famílias.
Turismo e agricultura familiar: vocação das montanhas
Segundo o Anuário da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), a criação de trutas e carpas teve crescimento de 7,5% em 2024, alcançando quase 48 mil toneladas produzidas no Brasil. Embora representem menos de 5% da produção nacional de peixes cultivados, essas espécies seguem em expansão, especialmente quando associadas ao turismo rural.
Para José Antonio Bof Buffon, secretário-executivo da Câmara Empresarial do Turismo da Fecomércio-ES, iniciativas como a da Toca da Truta reforçam o potencial das regiões de montanha capixabas.
“A agricultura familiar é um ativo extraordinário do Espírito Santo e uma grande oportunidade de geração de emprego e renda. Qualquer município que tenha produção artesanal pode se habilitar como destino turístico, desde que invista em capacitação e estrutura”, avalia Buffon.
Localizada a cerca de 215 km da capital Vitória, Ibitirama é uma das portas de entrada para o Caparaó Capixaba, região que se consolida como destino turístico completo.