
O Espírito Santo, reconhecido como o maior produtor de inhame do país, abriga também o maior banco genético do tubérculo no Brasil. A coleção pertence ao agricultor Jandir Gratieri, morador de Alfredo Chaves, município que ganhou o título de Capital Nacional do Inhame e concentra mais de 28% da produção estadual.
Em sua propriedade, na comunidade de São Bento de Urânia, Gratieri mantém um acervo com mais de 20 cultivares primitivas e exóticas. As variedades são utilizadas em pesquisas científicas e estudos em escolas e universidades, contribuindo para a preservação da diversidade genética do inhame e para o desenvolvimento de novas cultivares.
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“Entre as primitivas nativas das Américas e os inhames trazidos de outros países, nós temos aqui cerca de 20 materiais mantidos. Algumas plantas chegam a pesar mais de 30 quilos e podem levar até dez anos para se desenvolver totalmente. É um trabalho de preservação que começou com o meu bisavô e segue até hoje”, conta o produtor.
O banco genético mantido por Jandir Gratieri tem reconhecimento da Embrapa Hortaliças, instituição que mantém parceria com o produtor e a Associação dos Produtores de Inhame do Espírito Santo.
Segundo o pesquisador Nuno Rodrigo Madeira, que atua na área de resgate de hortaliças tradicionais, o trabalho de Gratieri tem importância científica e histórica.
“Essa região de São Bento de Urânia é a capital do inhame do Brasil, e já há pelo menos quatro gerações que vivem em torno dessa cultura. Quando os imigrantes chegaram, o inhame era o ‘pão’ deles, fazia parte da base alimentar das famílias e também da criação de animais. É uma cultura que se transformou em identidade e tradição”, explica o pesquisador.
Madeira coordena uma linha de pesquisa dedicada ao resgate de hortaliças tradicionais e destaca o papel do inhame como um dos superalimentos brasileiros, com alto valor nutritivo e potencial econômico.
“Desde 2008, a Embrapa desenvolve bancos comunitários de sementes e mudas, incluindo o inhame. São mais de cem espécies de hortaliças tradicionais estudadas, entre folhas, frutos, raízes e tubérculos. Esse trabalho responde à demanda da sociedade por alimentos saudáveis e resgata uma parte importante da nossa história alimentar”, completa.
O cultivo do inhame em São Bento de Urânia remonta à chegada dos imigrantes italianos, em 1887. No início, a produção era voltada para a subsistência, mas com o tempo o cultivo ganhou importância econômica.
O município de Alfredo Chaves conquistou o título de Capital Nacional do Inhame por meio de uma proposta apresentada pelo próprio Jandir Gratieri, em parceria com o ex-deputado Lelo Coimbra, aprovada no Congresso Nacional. “Levamos o projeto para a Câmara e depois para o Senado. Passou sem questionamento porque os dados comprovavam nossa liderança na produção nacional”, relembra Jandir.
Hoje, o inhame é mais do que um produto agrícola, ele é parte da identidade cultural da região. Em 2016, o município conquistou também o selo de Indicação Geográfica (IG), um reconhecimento que fortalece a marca “Vale do Inhame” e valoriza o produto no mercado.
“A IG levou o Espírito Santo para o mundo. Ela valorizou toda a região e criou a Rota Vale do Inhame, que começa em Marechal Floriano, passa por São Bento de Urânia e segue até Vargem Alta”, explica Gratieri.
Autodidata e apaixonado por pesquisa, Jandir se dedica ao melhoramento genético do inhame. Ele observa características como coloração, formato das folhas e produtividade para desenvolver novas cultivares adaptadas às condições locais. Uma delas é o Inhame Rochão, que será lançado em 2026, durante a Expo Inhame do Brasil, evento que pode ser realizado em Alfredo Chaves.
“O Rochão é uma cultivar que utiliza menos recursos naturais, ela precisa de menos água, menos adubação e menos defensivos. É uma planta que se adapta bem às áreas de encosta e representa um avanço importante para a sustentabilidade da cultura”, destaca o agricultor. A nova cultivar foi registrada no Ministério da Agricultura e promete ampliar as possibilidades de cultivo em regiões de altitude.
O Espírito Santo no protagonismo nacional
Segundo dados da Secretaria de Agricultura, o Espírito Santo é responsável por 44% da produção brasileira de inhame, com 3,3 mil hectares cultivados e produção anual estimada em 98,5 mil toneladas. O valor gerado pela cultura ultrapassa R$ 360 milhões, sendo uma das principais fontes de renda para a agricultura familiar: 88% das propriedades produtoras são familiares.
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