O uso de bioinsumos vem ganhando espaço entre os produtores rurais do Espírito Santo e começa a transformar o cultivo do gengibre, cultura na qual o estado é líder nacional. A tecnologia, já bastante difundida entre os cafeicultores, está agora revolucionando a forma como os agricultores enfrentam pragas e doenças que afetam o gengibre, como a fusariose e o nematoide.
A aposta é na produção on-farm, ou seja, dentro da própria propriedade rural. Nela, os produtores utilizam biorreatores instalados em biosalas para multiplicar microrganismos benéficos, substituindo produtos químicos e reduzindo custos. O resultado é uma agricultura mais sustentável, com lavouras mais saudáveis e produtivas.
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Produção on-farm ganha espaço nas lavouras capixabas
Segundo Wesley Johnny, RTV da Linhagro, empresa capixaba que presta consultoria em agricultura regenerativa, o processo é simples e eficiente:
“A produção on-farm significa multiplicar microrganismos dentro da fazenda, seguindo um protocolo técnico que garante a eficiência dos produtos. Antes, o produtor precisava comprar tudo pronto, com custos altos e pouca flexibilidade. Agora, ele tem autonomia e pode produzir de acordo com a necessidade da lavoura”.
Johnny acrescenta: “O grande diferencial dessa tecnologia é que, além de reduzir custos, ela traz vida para o solo, melhora a microbiologia, reduz o uso de químicos e aumenta a rentabilidade”.
Com a estrutura instalada, que conta com um biorreator de 500 litros, suficiente para atender quase 100 hectares de café, gengibre e banana, os produtores José e Silvério Vassuler começaram a fabricar seus próprios insumos biológicos. O resultado, segundo eles, superou as expectativas.
“Hoje, para mim, o biológico já é o presente”, afirma Silvério Vassuler. “No começo eu achava que fosse modismo, mas quando a gente aplicou e viu o resultado, não teve mais dúvida. O problema que eu tinha com nematoide e fusariose foi resolvido 100%. Eu acredito que, no futuro, quem não adotar o biológico vai ficar para trás.”
José Carlos Vassuler destaca o impacto econômico e ambiental da mudança:
“O primeiro ponto é o custo. Antes a gente usava produtos biológicos comprados nas lojas, e o preço era muito alto. Isso limitava o uso a pequenas áreas. Agora, com o biorreator, a gente consegue produzir o próprio insumo, com custo muito menor, e aplicar na lavoura toda. Com o biológico, a gente percebe o solo mais solto, mais vivo, e a planta responde muito melhor. Hoje eu uso em tudo: gengibre, café e banana.”
De acordo com Paulo Radaik, engenheiro agrônomo e RTV da Linhagro, o trabalho com bioestimulantes é baseado na prevenção e na parceria com a natureza.
“Os bioestimulantes são organismos vivos que fortalecem a planta para que ela mesma consiga se defender. A gente faz a multiplicação desses microrganismos na biosala e usa no tratamento de sementes, preparando a planta desde o início. É como se ela fosse pré-imunizada. Se aparecer uma doença de solo ou um inseto mais voraz, ela já está pronta para reagir. É uma mudança de paradigma: em vez de esperar o problema aparecer para agir, a gente trabalha de forma preventiva, como a própria natureza faz”, disse Paulo.
O Espírito Santo responde por 75% da produção de gengibre do Brasil, segundo o Incaper. Em 2024, o estado colheu cerca de 78 mil toneladas, e a expectativa é de que o uso de tecnologias limpas fortaleça ainda mais a presença do gengibre capixaba no mercado internacional.
O produtor e empresário Wanderlei Stuhr, da empresa Pommer Ginger, que trabalha com cerca de 400 famílias e coordena o envio de mais de 300 toneladas por semana na alta safra, acredita que o uso de biológicos é o futuro da cultura.
“O biológico é, sem dúvida, a melhor alternativa para o gengibre. Os principais problemas da cultura, como fusariose e nematoide, praticamente só têm controle eficiente com produtos biológicos. Além disso, o mercado está cada vez mais exigente. Quem exporta sabe o quanto é importante ter um produto sustentável, livre de resíduos e com rastreabilidade. Se o produtor tiver um produto biológico de qualidade, seguro e eficiente, não há dúvida de que ele vai escolher esse caminho.”
Stuhr também comenta os desafios do mercado internacional: “A gente enfrenta uma competição muito forte com países como China e Peru, além da concorrência interna. E esse ano ainda tivemos o impacto da tarifa dos Estados Unidos, que representavam até 40% das nossas exportações. Isso gerou um excesso de oferta na Europa e queda de preços. Mesmo assim, quem trabalha com qualidade e sustentabilidade tem conseguido manter os negócios”.
Os produtores do estado seguem atentos às exigências do mercado e apostam na inovação como caminho para manter a liderança nacional.
“O gengibre é a principal fonte de renda da maioria dos produtores da região”, destaca Sávio Vassuler. “A gente não pode perder esse posto nem deixar cair a qualidade. O biológico vem justamente para suprir essa necessidade. Ele garante produtividade, reduz custo e ainda preserva o meio ambiente”.
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