A agricultura está em transformação e o caminho para o futuro passa pela agricultura regenerativa, que alia rentabilidade e sustentabilidade. No Espírito Santo, produtores já colocam em prática iniciativas que mostram ser possível produzir mais, cuidando do solo e da biodiversidade.

Na Fazenda Chapadão, em Linhares, o produtor Rafael Bortolini segue um legado iniciado por seu avô. Desde então, a família busca regenerar o solo, aumentar a biodiversidade e criar um ambiente produtivo mais equilibrado. Hoje, Rafael aposta em compostagem, uso de bioinsumos produzidos na própria fazenda e no consórcio de culturas.

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Práticas sustentáveis melhoram o solo, elevam a qualidade do café e atendem às exigências do mercado

“Na fazenda temos compostagem, um mix de plantações e a produção de biológicos on farm. Tudo isso nos ajuda a adaptar o café às diferentes condições. Já percebemos uma grande melhora na qualidade de vida dos funcionários, na motivação da equipe e também na qualidade do café e do solo. A diferença entre o antes e o depois é enorme. Essas práticas transformaram nossa produção e nossos resultados”, afirma Bortolini.

Um exemplo é a utilização da palha do café e de outros resíduos da colheita. Antes descartados, hoje voltam ao campo como adubo, fechando ciclos e reduzindo desperdícios.

Agricultura que responde ao mercado

Com consumidores cada vez mais exigentes, práticas regenerativas também respondem às demandas do mercado interno e externo. Para Eduardo Matavelli, coordenador técnico da Plataforma Global do Café, a agricultura regenerativa já não é tendência, mas realidade.

“O mercado já sinaliza a compra de cafés produzidos com práticas regenerativas, que conservam o solo, a biodiversidade e a água. Isso garante a permanência do produtor frente às mudanças climáticas, cada vez mais frequentes. Muitas dessas práticas não são novas, como a compostagem com casca de café, palha e esterco bovino ou de aves, mas agora ganham ainda mais relevância e escala”, destaca.

No Espírito Santo, o Sicoob tem apostado em projetos que incentivam a regeneração. Um deles é o Caminhos para Regenerar, que leva conhecimento, orientação técnica e apoio direto aos produtores.

“Não basta apenas preservar, precisamos cuidar do nosso principal insumo: a terra. Esse programa mostra quais práticas podem ser atualizadas para melhorar a qualidade do solo e garantir produtividade de forma contínua. O Sicoob tem essa preocupação há muito tempo, pensando na qualidade de vida dos associados, principalmente os do agronegócio. Queremos produção em quantidade e qualidade, mas de forma perene”, afirma Alair Giuriato, diretor-executivo do Sicoob Conexão.

Segundo Eduardo Ton, gerente de Crédito e Agronegócios do Sicoob ES, o crédito rural é o primeiro passo para o produtor adotar boas práticas.

“Hoje, para acessar mercados como o europeu, o produtor não precisa mudar radicalmente, apenas organizar e rastrear melhor sua produção. Isso já faz parte do processo de crédito. Ou seja, ao se organizar, ele consegue colocar seu café não só na Europa, mas em qualquer mercado do mundo”, explica.

Além do Caminhos para Regenerar, o Sicoob também promove o Prêmio Produtor Sustentável, que chega à quinta edição em 2025. “Nas últimas edições tivemos quatro ganhadores do Espírito Santo. É um projeto nacional que mostra histórias inspiradoras que unem aspectos sociais, econômicos e ambientais. É muito importante para nós dar visibilidade a essas iniciativas”, complementa Ton.

Pioneirismo capixaba

O Espírito Santo tem se consolidado como referência em agricultura regenerativa. A Fazenda Camocim, em Domingos Martins, foi a primeira do Brasil a receber o selo de café orgânico regenerativo. Administrada por Henrique Sloper, a propriedade mantém sistemas agroflorestais, orgânicos e biodinâmicos, em uma área do bioma Mata Atlântica, entre 1.000 e 1.300 metros de altitude.

“Aqui conseguimos reunir agricultores, cooperativas, governo e setor financeiro em torno da mesma causa. Não vejo iniciativas assim em muitos lugares do mundo. O Espírito Santo está sendo pioneiro”, afirma Sloper.

O legado da fazenda vem de seu avô, Olivar Fontenelle de Araújo, superintendente do Grupo Casa Sloper e fundador da Aracruz Celulose. Ao adquirir a área em 1962, Olivar iniciou um processo de transformação sustentável, plantando árvores, recuperando solos e protegendo nascentes. O cultivo do café começou em 1996, inaugurando a produção orgânica na região. Hoje, quase 30 anos depois, a fazenda colhe frutos desse trabalho.

Para o subsecretário de Desenvolvimento Rural da Seag, Michel Tesch, a agricultura regenerativa não é uma moda, mas um caminho sólido.

“Diversas companhias já incluem em seu planejamento estratégico a aquisição de produtos regenerativos. Os resultados em campo comprovam maior produtividade e eficiência no uso de insumos. É uma base prática, rentável e sustentável, que atende às demandas dos consumidores. O Espírito Santo tem como propósito se consolidar como uma das principais origens produtoras de cafés sustentáveis do mundo”, ressalta.

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Stefany Sampaio
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Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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