Sem posicionamentos com firmeza, Brasil não será influente na política global Sem posicionamentos com firmeza, Brasil não será influente na política global Sem posicionamentos com firmeza, Brasil não será influente na política global Sem posicionamentos com firmeza, Brasil não será influente na política global

Desde o início do ano, o Governo Lula tem buscado um reposicionamento internacional, com o presidente tendo viajado para 19 países somente nos 8 primeiros meses. As prioridades até aqui envolveram a Guerra na Ucrânia, o reposicionamento dos Brics e a busca por reunir lideranças de países latinos, mas o conflito entre o Hamás e Israel coloca a temática em evidência na agenda do país. Nesse sentido, há algumas percepções equivocadas presentes no debate público sobre premissas que envolvem as as relações externas e que valem ser explicadas.

Onde o Governo Lula erra nas relações internacionais

Há uma ideia difundida no debate público de que o Brasil na política externa tem uma tradição de ser “amigo de todos” e que busca realizar gestos de amizade com diferentes nações de olho em uma espécie de cooperação eterna. As origens dessa ideia vem do filósofo alemão Immanuel Kant, que tinha a concepção de “paz perpétua” como um ideal inatingível, mas argumenta que essa ideia deve guiar as relações internacionais e a política global. A postura diplomática do Brasil no Governo Lula abraça muito essa premissa, sendo bastante influenciada pelo ex-chanceler Celso Amorim, que aos 80 anos é o diplomata com mais vasta experiência em atividade no país. Contudo, em um cenário altamente competitivo e fragmentado, essa visão não encontra amparo na realidade das relações internacionais contemporâneas. Afinal, as relações entre países são moldadas por interesses diversos e disputas de poder. Quando o Brasil, por exemplo, busca um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, está, na verdade, buscando um espaço maior de poder e influência na ordem global. Isso não é apenas uma aspiração, mas uma necessidade estratégica em um mundo em que a geopolítica dita o jogo. Existe um primitivismo geopolítico quando se olha o Brasil nesse contexto. A ideia de que o país dialoga com todo mundo como se fosse uma virtude é, na verdade, uma simplificação ingênua das realidades complexas das relações internacionais. A China dialoga com os Estados Unidos, a Rússia dialoga com a França, com a Inglaterra e até mesmo com a Ucrânia, um país que está em guerra. Países rivais frequentemente mantêm canais de comunicação abertos entre si, mas é fundamental compreender que dialogar não é o mesmo que concordar ou criar convergência de interesses. Apesar de Lula priorizar a política externa, colheu uma série de fracassos: sua tentativa de emplacar um plano de paz entre a Ucrânia e a Rússia foi ignorada no plano internacional; foi imprudente em seu tratamento dado a Nicolas Maduro, da Venezuela, e deu inúmeras declarações controversas, que somente não tiveram maiores repercussões em virtude do Brasil ainda ser visto como um papel secundário na politica global. Se o Brasil almeja se tornar mais influente internacionalmente, é preciso abandonar a ideia de que ser um país que dialoga com todos é uma virtude em si. Não é. Em vez disso, deve focar em definir claramente seus interesses estratégicos, desenvolver uma política externa coerente e investir em sua capacidade de influenciar a agenda global. Isso significa ter maior alinhamento com um grupo de países, que vão gerar benefícios que superem eventuais desgastes com outros. Somente assim poderá conquistar o respeito e a influência que busca no cenário internacional.