Há décadas o setor capixaba de rochas se acostumou a jogar no mesmo tabuleiro: exportar em massa para os Estados Unidos. A estratégia funcionou até que o tarifaço bateu à porta. No ano passado, mais da metade das vendas brasileiras do setor foi para lá. O mercado americano absorveu 56,3% das exportações brasileiras do setor, o equivalente a US$ 711,1 milhões. Desse total, 82,3% direto dos portos capixabas. Quando Washington fechou as portas, o Espírito Santo é quem ficou trancado do lado de fora. A boa notícia é que há uma janela aberta, e ela se chama Oriente Médio.
O que falta para as rochas capixabas despontarem no mercado que mais cresce no mundo?
Embora o quartzito, responsável por 55% do valor exportado aos EUA, tenha entrado na lista de isenções de Trump, cadeias inteiras de mármore, granito e ardósia seguem sob forte risco. O prejuízo pode ser pesado sobretudo em polos como Cachoeiro de Itapemirim, que tem no país americano seu principal mercado de granito. Sem alternativas, nosso mercado perde competitividade e espaço para Itália, Turquia, Índia e China — players que seguirão vendendo com tarifas inferiores.
Perder espaço neste tabuleiro global não é uma hipótese: é um risco imediato. É aí que entram os Emirados Árabes Unidos. Com previsão de a construção civil atingir US$ 131,7 bilhões em 2025, o país é o epicentro do setor no Golfo. Apenas em mármore, os Emirados e a Arábia Saudita respondem por 70% das importações da região.
Projetos como o Porto de Dubai Creek (US$ 18 bilhões), o Aeroporto Internacional Al Maktoum (US$ 32,6 bilhões) e megacidades em Abu Dhabi transformam o Oriente Médio no mercado que mais cresce no mundo para rochas naturais. E, mais importante: o consumidor local tem preferência clara por materiais nobres, como mármore e quartzito. Ou seja: justamente onde o mercado capixaba é forte.
Então, o que ainda falta? O problema não é o produto, mas a estratégia. Os arquitetos e designers árabes já se apaixonaram pelos materiais capixabas, mas os encontram apenas por meio da Itália, que beneficia o produto brasileiro e vende com preços inflados. O que falta é presença: representantes locais, joint ventures e participação contínua em feiras e projetos. Italianos e indianos fazem isso há décadas. Brasileiros e, especialmente, capixabas, ainda não.
Outro entrave é, claro, logístico: um contêiner pode levar até 4 meses para chegar até lá. Mas há soluções em estudo, como cargas break bulk que já fazem a rota mensalmente de Paranaguá a Abu Dhabi, com possibilidade de escala em Vitória em apenas 45 dias.
O setor de rochas do Espírito Santo tem uma escolha diante do tarifaço: ou insiste em depender de um mercado que impõe barreiras crescentes, ou abre sua rota para o Oriente Médio, onde a demanda explode e a competição é feroz, mas o diferencial brasileiro é real.
O mundo árabe ergue megaprojetos todos os anos. Cabe ao Espírito Santo erguer, agora, suas pontes comerciais.