Tarifaço de Trump: setores do agronegócio do Espírito Santo reagem ao aumento das tarifas

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira uma ordem executiva que impõe uma tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros. Somada aos 10% já em vigor desde o início do ano, a sobretaxa atinge agora 50%. A medida foi confirmada pela Casa Branca e passa a valer a partir da meia-noite do dia 6 de agosto, no horário local.

A decisão aprofunda a incerteza em diversos segmentos do agronegócio nacional, especialmente entre exportadores que já calculam perdas bilionárias com a possível retração das vendas para o mercado americano. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o impacto pode chegar a US$ 5,8 bilhões nas exportações do setor.

Celulose, petróleo e aço ficam de fora, mas café e carne serão taxados

A lista de exceções da tarifa de 50% inclui poucos produtos agrícolas. Estão isentos apenas o suco de laranja, as castanhas e a celulose. Itens de grande peso na pauta de exportações capixabas, como café, carne, gengibre, pimenta-do-reino, pescados, macadâmia e ovos, não foram poupados.

No Espírito Santo, setores diretamente atingidos pela medida já se mobilizam em busca de alternativas para mitigar os efeitos do tarifaço. Produtores, cooperativas e o governo estadual trabalham em articulações para garantir a continuidade dos negócios, seja por meio da abertura de novos mercados ou de medidas de apoio emergencial.

Em 2024, o Espírito Santo exportou mais de US$ 800 milhões apenas para os Estados Unidos. De janeiro a junho deste ano, esse número já chega a US$ 360,2 milhões. No acumulado de 2024, as exportações capixabas somam aproximadamente US$ 3,6 bilhões, com o agronegócio respondendo por uma fatia expressiva desse total.

Café

Com 41% do café solúvel capixaba sendo exportado aos Estados Unidos no primeiro semestre de 2024, o café é um dos produtos mais sensíveis à nova política americana. A matéria-prima desse café solúvel é o conilon, do qual o Espírito Santo é o maior produtor nacional.

“A nossa preocupação é grande. O impacto na cafeicultura capixaba pode ser significativo, já que o conilon é a base do café solúvel. Mas acreditamos no poder da diplomacia e no interesse dos próprios setores privados dos dois países em manter esse comércio”, pontua Enio Bergoli, secretário de Agricultura do Espírito Santo.

O que o setor está fazendo: O governo estadual tem enviado informações ao governo federal para subsidiar as negociações bilaterais. A expectativa é que o café fique de fora da taxação final, com apoio do setor privado norte-americano, que depende do produto brasileiro.

Pimenta-do-reino

O Espírito Santo é o maior produtor e exportador de pimenta-do-reino do Brasil. Embora apenas 1% do produto vá diretamente aos EUA, cerca de 25% chega lá por triangulação via Vietnã, rota que também será taxada.

No caso da pimenta-do-reino, uma das estratégias adotadas por produtores e exportadores é a abertura de novos mercados.

“O tarifaço inclui esse tipo de triangulação. Por isso, estamos propondo ao governo federal que negocie com países como México e China, para ampliar o acesso da nossa pimenta e enfrentar a concorrência do Vietnã”, explica.

O que o setor está fazendo: O setor propôs ao governo federal uma negociação para reduzir tarifas de entrada no México (de 10% para 0%) e na China (de 30% para o mesmo patamar do Vietnã). Isso abriria novos mercados e reduziria a dependência da triangulação com os EUA.

Gengibre

O gengibre, cultivado por cerca de 3 mil famílias capixabas, também está entre os mais afetados. Só no primeiro semestre, 58% das exportações do produto tiveram os EUA como destino. O problema é que o mercado interno não absorve a produção.

“Quase 100% do gengibre do Espírito Santo vem da agricultura familiar. O mercado americano prefere o baby ginger, muito produzido por aqui. Perder esse canal pode gerar uma crise grave”, alerta o secretário.

O que o setor está fazendo: Produtores e o governo estadual estão discutindo medidas de apoio, como acesso facilitado a crédito e articulação com novos mercados. Também estão avaliando alternativas logísticas para entender como proteger a renda das famílias.

Pescados

A situação dos pescados é ainda mais delicada: 98% das exportações capixabas vão para os EUA. Outros mercados, como a União Europeia, impõem barreiras sanitárias ao Brasil.

“Estamos sugerindo que o governo federal intensifique negociações com a Inglaterra, que está fora da União Europeia e pode ser um novo destino viável para nossos peixes”, aponta o secretário.

O que o setor está fazendo: A proposta é incluir o pescado nas negociações diplomáticas com o Reino Unido para abrir esse novo canal. Ao mesmo tempo, o setor busca apoio do governo estadual para ações emergenciais.

Ovos

Em 2025, o Espírito Santo começou a exportar ovos aos EUA após uma crise de gripe aviária no país. Com a nova tarifa, esse avanço está ameaçado. Em seis meses, de janeiro a junho, foram exportados US$ 6,1 milhões para os EUA.

“Estávamos conquistando esse mercado agora. E aí vem essa sobretaxa, justamente quando o setor começava a crescer”, lamenta Bergoli.

O que o setor está fazendo: Produtores buscam diversificar destinos e aguardam o avanço das negociações com os EUA. A medida também pode acelerar o diálogo com outros mercados.

Macadâmia

Embora menor em volume, a macadâmia capixaba tem alto valor agregado e é totalmente voltada ao mercado norte-americano. Em 2024, as exportações movimentaram US$ 1 milhão. Já em 2025, foram US$ 636,9 mil.

“A diferença tarifária entre o Brasil e os concorrentes é de 20%. Estamos indicando negociações para reduzir a tarifa de importação na China, que pode se tornar uma alternativa”, destaca o secretário.

O que o setor está fazendo: O setor propõe ao governo federal a abertura de negociações com a China, onde a tarifa de entrada da macadâmia brasileira é de 14%, enquanto concorrentes entram com 0%. A medida aumentaria a competitividade do produto capixaba.

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Stefany Sampaio
Stefany Sampaio

Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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