A piscicultura, em especial da tilápia, cresceu 7,25% no Estado em 2024. Crédito: Divulgação
A piscicultura, em especial da tilápia, cresceu 7,25% no Estado em 2024. Crédito: Divulgação

A Lista Nacional Oficial de Espécies Exóticas Invasoras, que incluía a tilápia, foi suspensa temporariamente pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). O recuo ocorreu após forte pressão do setor produtivo, que temia novas restrições à criação do peixe mais cultivado do Brasil.

Logo após o anúncio, a reação do setor foi imediata. A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixes BR) comemorou a decisão em um vídeo divulgado pelo presidente da entidade, Francisco Medeiros.

“Uma grande vitória do setor, uma briga que começamos e que várias instituições públicas e privadas abraçaram junto. Agora temos a seguinte etapa: a nota diz que o tema seguirá sendo discutido. Temos que continuar mobilizados”, afirmou Medeiros.

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Suspensão ocorreu após forte pressão do agronegócio, que teme impactos econômicos

A tilápia é considerada uma espécie exótica porque não é nativa do Brasil, mas do continente africano, da bacia do Rio Nilo, por isso o nome “tilápia-do-Nilo” (Oreochromis niloticus). Ela passa a ser classificada como invasora quando aparece em ambientes onde não deveria estar, como rios fora das áreas de cultivo, causando desequilíbrios ambientais segundo o MMA.

Na nota publicada pelo ministério, a pasta informou que a suspensão busca ampliar o diálogo com os setores econômicos que utilizam essas espécies, a fim de definir medidas adequadas para evitar escapes no ambiente natural, sem comprometer atividades produtivas.

Outra entidade que celebrou a decisão foi a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), que destacou o impacto econômico e social da cadeia.

“A iniciativa representa um reconhecimento da importância econômica e social das cadeias produtivas que utilizam espécies atualmente classificadas como exóticas, muitas delas fundamentais para a geração de empregos, renda e abastecimento alimentar no país”, afirmou em nota. A entidade reforçou ainda que mais de 90% das exportações brasileiras do setor passam por suas associadas e se colocou à disposição para contribuir tecnicamente no debate.

A tilápia não é a única espécie não nativa cultivada no país. Soja (China), cana-de-açúcar (Sudoeste Asiático) e café (África), pilares do agronegócio brasileiro, também vieram de outras regiões do mundo e se adaptaram à produção nacional. Mas isso não elimina os riscos associados a escapes ambientais.

Impacto para o Espírito Santo

Caso houvesse restrições ao cultivo da tilápia, os prejuízos seriam imediatos, incluindo queda de produção, competitividade e nas exportações, bem como enfraquecimento de um setor que hoje combina tecnologia, sustentabilidade e geração de renda.

No Espírito Santo, a tilápia domina a aquicultura. A produção estadual subiu de 19.030 toneladas em 2023 para 20.410 toneladas em 2024, das quais 19.910 toneladas são de tilápia. Os peixes nativos representaram apenas 500 toneladas.

A liderança estadual na produção é concentrada em municípios com estrutura técnica consolidada. Linhares ocupa a primeira posição, seguido por Domingos Martins e Guarapari. Também se destacam Marechal Floriano, Santa Leopoldina, Alegre e Santa Teresa, que vêm ampliando seus sistemas produtivos com tecnologia adaptada às condições locais.

O avanço recente do setor tem sido impulsionado por investimentos em boas práticas de manejo, genética melhorada, aeradores, alimentação balanceada e controle sanitário. A tilapicultura também se fortalece pela alta aceitação do produto no varejo e na indústria, garantindo regularidade e competitividade.

Com esses resultados, a tilapicultura é uma das atividades mais promissoras do agronegócio capixaba e uma peça estratégica no desenvolvimento da aquicultura no Espírito Santo.

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Stefany Sampaio
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Colunista

Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba de Norte a Sul, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.

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