
Eu joguei Cronos: The New Dawn por cerca de 25 horas no PC. Minha experiência foi intensa e cheia de momentos marcantes, mas também com algumas frustrações típicas de survival horror. Confira tudo que achei logo abaixo.
Primeiras impressões e contexto
Logo nas primeiras horas, percebi o peso que Cronos carrega: não é apenas um jogo, mas quase uma declaração da Bloober sobre seu lugar no gênero. O protagonista, chamado apenas de The Traveller, veste um exoesqueleto que lembra muito Isaac Clarke de Dead Space, e isso não é coincidência. A sensação de andar devagar, cada passo calculado, faz parte da tensão. É um jogo que te força a sentir o peso do corpo e do mundo ao redor.
A ambientação bebe de várias fontes conhecidas: há ecos de Resident Evil na progressão por chaves e puzzles, toques de Silent Hill na narrativa fragmentada e muito de Dead Space no visual grotesco. Só que, ao mesmo tempo, Cronos encontra sua própria voz ao misturar tudo isso com mecânicas de viagem temporal e um pano de fundo muito atual: o trauma coletivo de uma pandemia.
O que eu curti (e o que me irritou)
A jogabilidade me conquistou quando comecei a manipular as anomalias temporais. É incrível resolver puzzles mudando a linha do tempo, revelando caminhos ocultos ou alterando ambientes destruídos. Essa mecânica dá frescor ao gênero e cria momentos genuinamente criativos. Em algumas batalhas contra chefes, manipular o tempo foi essencial para sobreviver, o que deixou a ação ainda mais tensa.
Mas nem tudo brilhou. O inventário é extremamente limitado e isso gerou várias frustrações. Muitas vezes precisei descartar itens úteis porque não havia espaço, e isso me fez hesitar em experimentar armas novas.
O sistema de upgrades também é lento, e como desfazer melhorias custa recursos, acabei preso usando sempre as mesmas duas armas principais: a pistola básica e a shotgun. A sensação de variedade prometida pelo arsenal adaptável nunca se concretizou de verdade. Nada do que um pequeno patch não possa melhorar.
Outro ponto que me irritou foi a facilidade de cair em situações de “softlock”. Certa vez fiquei sem munição enfrentando um inimigo fundido, e precisei recarregar um save antigo porque não havia saída possível. Survival horror deve ser punitivo, mas aqui a punição parece mal balanceada.
Performance e qualidade de imagem (meu teste)
Testei Cronos no PC em dois modos: Performance e Qualidade. No modo Performance, joguei em 1440p, usando uma RX 7900 e um Ryzen 7 5700X. A média ficou em 72 fps, mas em combates intensos com múltiplos inimigos fundidos a taxa caiu para 57 fps, causando stutter perceptível. Em áreas abertas, especialmente quando o biomassa pulsante dominava o cenário, o frame pacing se desestabilizou.
No modo Qualidade, a experiência foi deslumbrante, mas pesada. As sombras volumétricas e reflexos em superfícies molhadas criaram um visual digno de screenshots, mas a taxa de quadros despencou para a faixa dos 40 fps, mesmo com DLSS em Balanced. Claramente, a otimização precisa de patches futuros.
Comparando com outros jogos recentes de terror, Cronos está no meio-termo. Roda melhor que The Medium no lançamento, mas pior que Dead Space Remake ou Resident Evil 4 Remake no mesmo hardware. A boa notícia é que a engine lida bem com carregamento de texturas, sem pop-ins absurdos, mas ainda falta polimento.
Acessibilidade e qualidade de vida
As opções de acessibilidade são decentes, mas não revolucionárias. Há ajustes de legendas (tamanho, cor, fundo), opções de remapeamento de teclas e um modo de assistência para puzzles, que sugere pistas após alguns minutos. Isso é ótimo para jogadores que não querem travar em enigmas de anomalias temporais.
Porém, senti falta de dublagem em português, recurso já comum em grandes lançamentos. A ausência de alto contraste e leitores de tela limita o acesso para pessoas com deficiência visual. Outro detalhe: o menu de inventário é pouco intuitivo. Em combate, abrir a mochila gera tensão artificial, mas não pela imersão, e sim pela falta de clareza.
Ainda assim, apreciei a transparência dos menus de dificuldade: o jogo informa claramente que “sobrevivência” é a experiência ideal, mas permite ajustes para quem só quer curtir a história.
História, áudio e direção de arte
A narrativa de Cronos toca em feridas recentes. Depois da Covid-19, qualquer história sobre comunidades isoladas por doença ganha força. O enredo explora traição, luto e esperança através de documentos, notas e flashbacks, criando uma atmosfera opressiva. A moral ambígua de recuperar a “essência” de sobreviventes mortos para impedir a praga dá peso emocional.
O áudio é um espetáculo à parte. Passos ecoando em vagões abandonados, gemidos distantes e o silêncio pesado em áreas vazias criam medo constante. A trilha sonora usa instrumentos graves e eletrônicos para aumentar a tensão, lembrando Silent Hill em alguns momentos. A dublagem em inglês é competente, com destaque para Alan Turkington como The Warden, que traz gravidade e mistério.
Visualmente, Cronos é grotesco e fascinante. O biomassa que cobre paredes pulsa de forma quase orgânica, criando desconforto. Os inimigos fundidos, monstros criados pela união de cadáveres, são perturbadores. Em contraste, os momentos em que viajamos para a cidade de New Dawn antes da praga mostram ruas pacíficas e cheias de vida, aumentando a melancolia.
Monstros, combate e tensão
O combate é cadenciado e punitivo. Inimigos comuns exigem múltiplos disparos carregados, e ignorar corpos pode resultar em criaturas fundidas praticamente invencíveis. Usar fogo para impedir fusões é essencial, mas a munição do maçarico é limitada. Esse equilíbrio força decisões estratégicas: gastar agora ou arriscar enfrentar algo pior depois?
Chefes se destacam por usar as anomalias temporais no design. Um deles, por exemplo, altera o ambiente entre passado e presente durante a luta, obrigando a reposicionar constantemente. Esses momentos mostram o potencial criativo da Bloober.
Veredito
Cronos: The New Dawn é sombrio, pesado e cheio de boas ideias. A Bloober prova que pode criar algo além de Silent Hill, mesmo ainda carregando influências fortes. Eu recomendo para fãs de survival horror que curtem combate metódico, puzzles criativos e uma narrativa com relevância emocional, mas ressalto problemas de inventário e quedas de desempenho.